ATÉ EM MARTE

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Deu no Jornal Nacional e na VEJA. Não estou mentindo, conto como recebi. Mas que é uma coisa incrível, isso é.

Há muitos anos , numa reunião formal cheia de gente importante, tínhamos que rodar um programa num micro. Não preciso nem dizer que na hora H o micro emburrou e não quis nem saber de trabalhar. Ficou mudo, surdo e abobado, o pobre. Aliás, se algum dia eu for fazer uma apresentação com essa tralha toda e ao ligar o micro, o projetor, o canhão e a impressora, tudo funcionar... não sei não. Acho que vou desistir da apresentação. Haverá profundos indícios de atuação de forças malignas, coisa do coisa ruim, do capeta, do demo. Com essas coisas não se brinca.

Pois, voltando àquela apresentação de muitos anos atrás, depois de inúmeras tentativas, um monte de palpites, e uma ou outra bazófia, um office boy ao qual ninguém prestara atenção, deu o palpite bem baixinho: desliga tudo e liga de novo que funciona. Ah! Ah! Ah! foi recebido com escárnio. Onde já se viu um office boy querer ensinar para analistas e especialistas como fazer para ligar a traquitana. Ora, reduza-se à sua insignificância, foi a mensagem.

Só que como o tempo passava e as gentes importantes já se impacientavam, um dos especialistas ousou sugerir a mesma coisa que o office boy. Ah, bom, se é o especialista quem o diz, boa saída deve ser. Desligou-se e ligou-se tudo, e voilà, eis que o micro ressuscita esperto e lépido, pronto para as respostas.

De lá para cá, essa alternativa para corrigir uma loucura micresca tem sido empregada com graus razoáveis de sucesso. A receita é usada porque é fácil, e também – não há como negar – ela muitas vezes funciona.

Tem aquela anedota da viagem de um engenheiro mecânico, um eletricista e um analista – todos os 3 dentro de um carro velho, indo viajar. No meio da viagem o carro pifa, e imediatamente se estabelece a discussão do que fazer: Diz o eletricista: vamos desmontar os fios e o gerador. Muito demorado, diz o mecânico: é melhor desmontar o carburador. Nada disso, diz o analista de sistemas: que tal sairmos do carro, fechando as portas e desligando tudo e daí embarcamos rapidinho. O carro deve voltar a funcionar.

Mas, às vezes a vida imita a arte. Vejam só o que aconteceu em Marte. Foi para lá a nave americana depois de viagem de 7 meses. Lá chegando, descarregou um carrinho de 6 rodas que se desloca pelo terreno na busca de coisas interessantes para fuçar. Ele é dirigido daqui da terra, por um técnico que enxerga a paisagem marciana através das câmaras do carrinho, deve ser o melhor vídeo game do planeta. Como o veículo é pequeno, tem pouca energia, não consegue se comunicar com a Terra diretamente. Ele fala com a nave e esta é que fala com a Terra. Donde o carrinho e a nave têm um Link de comunicação por modem rádio.

Quando o badulaque aterrissou (opps: amartessou), tudo pronto para começar, milhares de técnicos de dedos cruzados, bilhões de telespectadores torcendo e,... nada do carrinho se entender com a nave: o modem encrencou.

Que fazer? não dá para mandar o técnico de hardware dar uma olhada, a viagem é cara e demorada. Conserta o programa, grita um; usa o modem reserva, grita outro; vamos tracejar o programa, sugere uma voz esganiçada ao fundo, Não, não, não, tá tudo errado, grita um vozeirão: vamos montar um grupo de trabalho.

Um office boy que andava por ali não se conteve e sugeriu: desliga e liga que daí a coisa vai. Desnecessário dizer que a sugestão dele não foi levada a sério.

20 horas se passaram, leitor,. 20 horas perdidas, até que um vice-presidente de tecnologia da nasa, sugeriu: desliga e liga. Ohhhh.! Quanta sabedoria! Todos correram a executar as ordens.

O resultado: depois de um CTRL-ALT-DEL a distância, o carrinho voltou a funcionar lépido e contente.

Como diria um certo apresentador de televisão: Isto não é incrível ?