Brasileiros, ainda que de olhos puxados

 Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro- GAC  
 
Os anos 80 assistiram a um fenômeno interessante. De importador de mão-de-obra, acolhendo imigrantes dos quatro cantos do mundo, o Brasil se transformou em exportador. As dificuldades econômicas por aqui, associadas ao desenvolvimento econômico japonês, fizeram com que grande número de brasileiros, muitos deles descendentes de japoneses, fizessem o caminho inverso. Nascia a comunidade brasileira no Japão.


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Não é fácil: a língua é estranha, quase impos-sível dominá-la; o choque cultural não podia ser maior; a distância, a maior possível na Terra, afinal eles são nossos antípodas. Tudo parece ser contra, mas há algumas coisas a favor: se o Japão remunera seus empregados bem (comparado com os níveis salariais brasileiros), o brasileiro tem coisas que o japonês admira: o senso de iniciativa e a capacidade de resolver qualquer abacaxi que surja, o famoso jeitinho brasileiro. As brasileiras também são admiradas, bonitas, exuberantes!

Se no começo ia só o cabeça do casal, que trabalhava e mandava o dinheiro, a partir de 93/94 começaram a ir as famílias completas, filhos incluídos. Isso criou demanda por educação em português. Já há iniciativas (escolas brasileiras ensinando em português), mas a maioria dos imigrantes não tem acesso a elas. Pela legislação brasileira, qualquer jovem ou adulto com 15 anos ou mais pode fazer o supletivo e receber um diploma que lhe dá direito a prosseguir nos estudos. Embora morando no Japão, continuam sendo brasileiros e, portanto, surgiu a necessidade de atendê-los. O Itamarati envolveu o CONSED (Conselho de Secretários de Educação do Brasil) e o Paraná foi o estado convidado a organizar e aplicar os testes supletivos lá no Japão. Honrados com o convite foi hora de pôr mãos à obra. Com a palavra Regina Célia Alegro, chefe do Departamento de Educação de Jovens e Adultos na SEED. "Fomos ao Japão, conversar com a comunidade, olhar os recursos e negociar a execução dos testes supletivos. Fomos bem recebidos, tanto pela Embaixada como pelo Governo Japonês. Estivemos com o diretor geral do MOMBUSHÔ (equivalente ao nosso Ministério da Educação) que nos apoiou. A Embaixada e a comunidade brasileira idem. Aliás, vale a constatação: é notável a capacidade da sociedade de brasileiros de se organizar. Para eles é importante o diploma 'brasileiro', pois depois que retornarem, eles poderão voltar a estudar no Brasil."

Se é do outro lado do mundo, aí está a tecnologia da Informação para nos ajudar. Com o auxílio da CELEPAR desenvolveu-se um módulo de inscrição pela Internet. Afinal a comunidade lá está espalhada, e assim de qualquer terminal da grande rede, as pessoas vão poder se inscrever a partir do início de setembro. As provas devem acontecer nos dias 20 e 21 de novembro próximos. Os exames irão daqui e serão aplicados pela comunidade, apoiada pela Embaixada Brasileira. Depois, voltam para Curitiba, onde serão corrigidos por uma força tarefa SEED x CELEPAR. Os resultados saem também pela Internet com a publicação das atas até 22 de dezembro. Todos os prazos são contadinhos, sem folga.

Os exames certificam o ensino fundamental (antigo 1o. Grau) e médio (antigo 2o. grau). O interessado se inscreve nas provas e quando concluir todas as matérias ganha o certificado. As disciplinas são: matemática, português, inglês, ciências físicas e biológicas, história e geografia para o ensino fundamental, e língua portuguesa e literatura brasileira, língua estrangeira, história, geografia, matemática, física, química e biologia para o médio. Os candidatos inscritos vão receber um material de apoio (apostilas) preparadas pelos professores da SEED. O Exame não será cobrado, mas é pedido aos inscritos uma contribuição voluntária para custear as despesas com organização, deslocamento e apoio à realização dos testes.

Como diz a professora Regina - "Afinal, lá não temos prédios, funcionários, infra-estrutura nenhuma. Dependemos da comunidade para tudo. "

Os editais serão divulgados nos 4 grandes jornais em português que são produzidos no Japão, bem como na IPC-TV, uma televisão que transmite em português. A Embaixada estima existirem 230.000 brasileiros lá. O público alvo desta iniciativa é de cerca de 30.000 jovens e adultos, e em uma primeira estimativa esperam-se 3.000 inscrições.

O concurso deve passar a ser organizado em bases periódicas, mas isso tudo vai ser pensado após o encerramento desta primeira iniciativa. Mais uma vez o Paraná toma a si o encargo de uma tarefa em nível nacional - e neste caso, internacional. E, mais uma vez, vai dar tudo certo. Quem viver, verá!

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Parte da equipe responsável. À direita, a professora Regina.