Bug 2000. Bug 2107. Bug 9999. O Pânico.
Recebi uma consulta ao final da tarde de 28/12/99, digo 1999, que demonstra o estado de nervos que estava sendo imposto à população. Dizia mais ou menos isto: "O que temos que fazer para o nosso micro não "ser atingido'' pelo Bug? Quem trabalha com informática vai entender do que estou falando. Basta lembrar a origem deste famigerado "BUG" e os danos que ele causou ao primeiro computador que ele atacou. Prefiro nem recordar. Senti que havia um tom de pânico naquela consulta. Véspera do final do ano. Cheio de preocupações. Nunca vi tanta maldade. Aviões não decolarão em torno da meia noite do dia 31. Maletas 007 com as chaves dos arsenais nucleares trocarão de mãos. Ratos comerão os cabos de comunicação de dados confundindo os ruídos dos bits com o chamado de fêmeas no cio. Revoadas de bugs se lançarão sobre os computadores destruindo-os irremediavelmente. Diziam até que o mundo ia acabar. Espontaneamente ou por ação de loucos que os americanos estavam mandado para trás das grades com seus furgões cheios de dinamite. Pensei: "Se estiver ao meu alcance, tudo farei para acalmar aos que estiverem por perto." Comecei a escrever algumas instruções. Fui ficando nervoso porque as palavras não me vinham e era preciso ser claro e rápido. Meu micro parou de imprimir. Seria Bug na eprom da impressora? Fui para casa. Peguei uma lata de cerveja. Virei para ver a data no fundo. Estava lá e não tinha Bug. Alívio. No outro dia, continuei a escrever as instruções e preparar o pacote de programas necessários. Testei no meu micro. Dei uma "porrada" de boots. Tudo o.k. Mandei o e-mail com instruções. Expliquei que tipo de problemas tinha visto por aí. Relacionei alguns perfis de micros com orientações num arquivo com o nome LEIAMEAN.TXT. Retornei ao alívio e à calma. A coisa estava ficando boa. Que viessem as festas. Recebi um e-mail agradecendo com o seguinte texto: "Super complicado esse LEIAMEAN.TXT. Acho que vou seguir instruções mais fáceis que eu recebi." Senti que não tinha atingido meu objetivo. O pânico e a desorientação permaneciam. Recostei-me e fiquei pensando: A vida não é fácil. Não adianta falar se você não disser o que as pessoas querem ouvir. Além disso, se as pessoas sabem o que querem ouvir, você não precisa falar. Quando saí no dia 28/12, fi-lo tão apressadamente que esqueci de desligar o monitor dos servidores. Durante a noite vários insetos tomaram conta deles. Havia um pilha de mosquitos mortos em cima do teclado.
Teria entrado um bug durante a noite? Sim. De manhã lá estava ele passeando pela barra de tarefas escolhendo um aplicativo para atacar. Passei a segui-lo. Fui fotografando seus passos para ter provas de sua invasão. Quando ele decidiu qual aplicativo iria atacar, dei-lhe voz de "STOP". Ele ficou tão desorientado com o susto que caiu desmaiado. Talvez se fingisse de morto para escapar do flagrante. Acordei e enxotei o bicho.
Humilhei-o perante meus colegas. Senti ímpetos de matá-lo. Não o fiz por ainda estar com o espírito do Natal. Foi-se, deixando várias ameaças no ar. Irá o bug atacar os sistemas que têm rotinas mensais, trimestrais, semestrais, anuais? Irá o bug atacar os campos monetários como já ocorreu muitas vezes no Brasil? Irá o bug atacar os judeus e muçulmanos, deixando os cristãos para papar depois? Irá o bug atacar no reveillon de 2107? Está perto. Será, desta vez, o fim? Quem serão os caçadores de bug desta vez. arno@celepar.gov.br |