COMDEX SUCESU - SP - South America' 93
Autor: David de Carvalho
Texto comentando palestra de Roydon Olsen, um dos diretores da Novell USA, a respeito de tendências do uso de redes.
TENDÊNCIAS DO USO DE REDES
Com a universalização dos equipamentos de informática, hoje, milhões de pessoas usam diariamente os computadores como ferramentas de trabalho. Como a grande maioria das empresas produtoras de hardware e software eram (e são) americanas, a língua universal dos softwares se tornou o inglês, sem que, no entanto, os usuários concordassem com isso (em especial os que não falam inglês). A popularização dos editores de texto mudou isso. Se um editor "mequetrefe" consegue funcionar bem em inglês (que não possui acentuação), não se podia dizer o mesmo do francês, espanhol, português, alemão etc. Com isso, os editores de texto foram os primeiros softwares a serem convertidos (de início uma mera alteração das mensagens, e que gerava cada pérola que só vendo...) para as línguas dos países em que eram vendidos. Assim, como um dominó, mais e mais softwares foram sendo traduzidos para as línguas locais, sendo os aplicativos os primeiros, e os softwares básicos os últimos a passarem por essa modernização, inclusive a nível de projeto.
Aí vem o inevitável: o que isso tem a ver com redes? Bom, isso é uma das amostras de que a universalização não dá certo (alguém aí fala esperanto?), que as pessoas querem usar o que o mundo usa, mas cada um da sua maneira. O mesmo se aplica para plataformas: se um programador gosta de usar um IBM compatível para desenvolver os seus programas, um publicitário ou editorador não, estes fazem questão do Macintosh; e da mesma forma, o pessoal que faz vídeo gosta do Amiga. Não vale a pena perder tempo dizendo que este ou aquele é melhor ou pior. É a cultura de quem usa que vai determinar o que ele prefere.
Com essas situações acontecendo a granel por aí, a ênfase saiu da universalização para os tradutores. Estes sim, deverão cuidar de que as várias línguas, plataformas e sistemas operacionais conversem entre si, sem que o usuário se preocupe com isso. Esse é outro ponto importante: que os usuários são pagos para fazer o seu trabalho e não esquentar a cabeça com essas coisas.
Agora sim, aparecem as redes. Aonde? Ora, como a rede liga o IBM com DOS ao IBM com OS/2 ao Macintosh com System 7 e etc. etc. etc., nada mais natural do que ela fazer a tradução, ou seja, tratar dos detalhes para que essas plataformas (culturas) se comuniquem entre si.
Agora, vemos outro ponto importante para as redes: os mainframes. Segundo o palestrista, o Brasil possui o maior número de mainframes per capita do mundo. Isso significa que quase tem um mainframe em cada esquina por aí. E com tanto mainframe sendo usado, os gritos são de que custam caro, é uma fortuna a manutenção, instalação etc. E ocorre uma corrida maluca para o ...sizing, seja ele qual for. De fato, alguns bancos brasileiros estimaram que seus lucros duplicariam com a redução de 2/3 dos custos de CPDs (e olha que banco brasileiro lucra!). Os ...sizing feitos por aí coincidem com as tendências de redução de níveis gerenciais, as quais podem ser explicadas, também, pelo maior controle oferecido pelos computadores nas empresas informatizadas.
No Brasil, essas tendências mundiais coincidiram com o relaxamento da reserva de mercado, o que está permitindo a implantação de parques com equipamentos decentes (já imaginaram fazer downsizing com Xts de 2 drives e 256Kb?). E essa abertura de mercado pode ter duas vias, ou seja, importar e exportar (software, claro).
Visto isso, vamos passar para outra história: a dos IBM. Nos áureos tempos do mainframe, era correto afirmar que ninguém perde o emprego por comprar IBM. Falando a mesma coisa com mais palavras, significa que quem comprava (ou compra?) IBM, garantia um padrão, um suporte adequado, um ambiente tranqüilo. Se algo dava errado, bastava chamar a IBM, e os técnicos davam um jeito, independente de que problema fosse (hardware, software, linha, ...). Isso de fato dá muita tranqüilidade para trabalhar, apesar dos problemas: altos investimentos iniciais, manutenção cara, pacotes caros, sistemas complexos etc. Ou seja, recebia-se um serviço com um padrão de qualidade, mas com um preço alto em troca. Por causa disso, o mainframe não se apagou, e pode e deve ser alavancado e integrado com o uso de processamento distribuído.
Hoje estamos em meio a migração do mainframe para processamento distribuído, o que significa o caos no mercado. Isso, porque existem n modelos, padrões, interfaces, e para cada um n*n fornecedores. A multiplicidade de fornecedores gera o efeito ping-pong (não, não é o vírus), que é mais ou menos assim: a impressora não funciona. Você chama o técnico e ele diz que ela está OK, e o problema é com o Windows. Você chama o suporte de Windows (se tiver), e ele diz que o problema é com a rede. O suporte da rede, por sua vez, culpa o micro, e assim vai. No final das contas, até o cachorro do vizinho é capaz de levar a culpa, e ninguém assume. E o coitado do usuário fica sem impressora.
Pensando nisso, a Novell está implantando a princípio nos EUA, o que ela chama de competição, ou seja, uma mistura de cooperação e competição. A idéia prevê uma cooperação entre os competidores do mercado. Assim, no caso da impressora acima, o técnico pode até concluir que o defeito não é na impressora, mas em outro ponto. Só que ele não vai te dizer isso, ao contrário, vai ele próprio correr atrás de quem pode solucionar o erro e vai dar um jeito de consertar o problema. E o usuário vai ficar com a impressora funcionando sem ter que recorrer ao cachorro do vizinho.
Agora você pode até pensar em dizer: então todos os nossos problemas estão resolvidos? Não, não é bem assim, ainda não chegamos ao "paraíso", mas sem dúvida estamos um passo mais perto. Bom, então qual é o "paraíso" em termos de rede? Vejamos alguns itens:
. Informação compartilhada;
. Diferentes especialidades, perspectivas, bases de conhecimento, todos integrados;
. Fornecedores concorrendo e cooperando entre si;
. Mais facilidades de instalação, configuração e uso (tirar da prateleira, ligar na tomada e funcionar);
. Menor dependência de manuais;
. Amplo treinamento básico etc.
É, tudo isso é muito bonito, mas trocando em miúdos, o que deve mudar? A mudança básica é que, tal como um telefone, ninguém está interessado no que ocorre por trás, o que todos querem é fazer o seu trabalho na máquina, com o sistema operacional, no software e no idioma de sua preferência. E nada mais. Você já pensou que os telefones possuem diversos padrões (protocolos) ao redor do mundo, e no entanto você levanta do gancho e liga para qualquer ponto do planeta sem se tocar disso? Se as telefônicas conseguiram isso, por que nós não haveríamos de conseguir também? A realidade é que ninguém quer trabalhar com softwares em línguas estranhas e confusas, e nem tampouco se importam onde estão os seus dados, desde que, quando necessários, eles surjam na tela (ou na impressora, vá lá!). E nem pense em linha de comando. As interfaces gráficas também são obrigatórias (OS/2, Windows, GEM, System 7, ...). Se essa é a realidade requerida pelos usuários, para os níveis estratégicos há a necessidade de amplas ferramentas de gerência e controle de recursos, bem como maiores recursos de segurança, todos devendo ser atendidos pelos softwares de redes já em médio prazo.
Para as redes, notadamente as versões do Netware, a preocupação a curto prazo é a versão internacional (inglês, francês, alemão, português, italiano etc), já em fase de implantação do Netware 4.0. Além disso, os requisitos de segurança aumentaram, e está prevista a adoção dos padrões C2 e F2 (forças armadas americanas) e melhorias nos logins, senhas e dados, com possibilidade de auditorias de segurança. Quanto aos discos, todos sabem da lei da entropia dos winchesters (todo espaço livre será ocupado), e assim os sistemas de rede vão prover compactação on-line de dados, proteção de memória, tolerância a falhas e sistemas escaláveis. Isso deve permitir começar com uma rede pequena, de 3 ou 4 estações, e chegar até uma rede global, sem maiores impactos nos usuários nem nos administradores de redes. Mais a longo prazo, as redes deverão prestar suporte a robótica, imagens, telefonia, controle de máquinas, vídeo interativo, tele-educação e tudo mais que você conseguir imaginar.
Texto comentando palestra de Roydon Olsen, um dos diretores da Novell USA, a respeito de tendências do uso de redes.
TENDÊNCIAS DO USO DE REDES
Com a universalização dos equipamentos de informática, hoje, milhões de pessoas usam diariamente os computadores como ferramentas de trabalho. Como a grande maioria das empresas produtoras de hardware e software eram (e são) americanas, a língua universal dos softwares se tornou o inglês, sem que, no entanto, os usuários concordassem com isso (em especial os que não falam inglês). A popularização dos editores de texto mudou isso. Se um editor "mequetrefe" consegue funcionar bem em inglês (que não possui acentuação), não se podia dizer o mesmo do francês, espanhol, português, alemão etc. Com isso, os editores de texto foram os primeiros softwares a serem convertidos (de início uma mera alteração das mensagens, e que gerava cada pérola que só vendo...) para as línguas dos países em que eram vendidos. Assim, como um dominó, mais e mais softwares foram sendo traduzidos para as línguas locais, sendo os aplicativos os primeiros, e os softwares básicos os últimos a passarem por essa modernização, inclusive a nível de projeto.
Aí vem o inevitável: o que isso tem a ver com redes? Bom, isso é uma das amostras de que a universalização não dá certo (alguém aí fala esperanto?), que as pessoas querem usar o que o mundo usa, mas cada um da sua maneira. O mesmo se aplica para plataformas: se um programador gosta de usar um IBM compatível para desenvolver os seus programas, um publicitário ou editorador não, estes fazem questão do Macintosh; e da mesma forma, o pessoal que faz vídeo gosta do Amiga. Não vale a pena perder tempo dizendo que este ou aquele é melhor ou pior. É a cultura de quem usa que vai determinar o que ele prefere.
Com essas situações acontecendo a granel por aí, a ênfase saiu da universalização para os tradutores. Estes sim, deverão cuidar de que as várias línguas, plataformas e sistemas operacionais conversem entre si, sem que o usuário se preocupe com isso. Esse é outro ponto importante: que os usuários são pagos para fazer o seu trabalho e não esquentar a cabeça com essas coisas.
Agora sim, aparecem as redes. Aonde? Ora, como a rede liga o IBM com DOS ao IBM com OS/2 ao Macintosh com System 7 e etc. etc. etc., nada mais natural do que ela fazer a tradução, ou seja, tratar dos detalhes para que essas plataformas (culturas) se comuniquem entre si.
Agora, vemos outro ponto importante para as redes: os mainframes. Segundo o palestrista, o Brasil possui o maior número de mainframes per capita do mundo. Isso significa que quase tem um mainframe em cada esquina por aí. E com tanto mainframe sendo usado, os gritos são de que custam caro, é uma fortuna a manutenção, instalação etc. E ocorre uma corrida maluca para o ...sizing, seja ele qual for. De fato, alguns bancos brasileiros estimaram que seus lucros duplicariam com a redução de 2/3 dos custos de CPDs (e olha que banco brasileiro lucra!). Os ...sizing feitos por aí coincidem com as tendências de redução de níveis gerenciais, as quais podem ser explicadas, também, pelo maior controle oferecido pelos computadores nas empresas informatizadas.
No Brasil, essas tendências mundiais coincidiram com o relaxamento da reserva de mercado, o que está permitindo a implantação de parques com equipamentos decentes (já imaginaram fazer downsizing com Xts de 2 drives e 256Kb?). E essa abertura de mercado pode ter duas vias, ou seja, importar e exportar (software, claro).
Visto isso, vamos passar para outra história: a dos IBM. Nos áureos tempos do mainframe, era correto afirmar que ninguém perde o emprego por comprar IBM. Falando a mesma coisa com mais palavras, significa que quem comprava (ou compra?) IBM, garantia um padrão, um suporte adequado, um ambiente tranqüilo. Se algo dava errado, bastava chamar a IBM, e os técnicos davam um jeito, independente de que problema fosse (hardware, software, linha, ...). Isso de fato dá muita tranqüilidade para trabalhar, apesar dos problemas: altos investimentos iniciais, manutenção cara, pacotes caros, sistemas complexos etc. Ou seja, recebia-se um serviço com um padrão de qualidade, mas com um preço alto em troca. Por causa disso, o mainframe não se apagou, e pode e deve ser alavancado e integrado com o uso de processamento distribuído.
Hoje estamos em meio a migração do mainframe para processamento distribuído, o que significa o caos no mercado. Isso, porque existem n modelos, padrões, interfaces, e para cada um n*n fornecedores. A multiplicidade de fornecedores gera o efeito ping-pong (não, não é o vírus), que é mais ou menos assim: a impressora não funciona. Você chama o técnico e ele diz que ela está OK, e o problema é com o Windows. Você chama o suporte de Windows (se tiver), e ele diz que o problema é com a rede. O suporte da rede, por sua vez, culpa o micro, e assim vai. No final das contas, até o cachorro do vizinho é capaz de levar a culpa, e ninguém assume. E o coitado do usuário fica sem impressora.
Pensando nisso, a Novell está implantando a princípio nos EUA, o que ela chama de competição, ou seja, uma mistura de cooperação e competição. A idéia prevê uma cooperação entre os competidores do mercado. Assim, no caso da impressora acima, o técnico pode até concluir que o defeito não é na impressora, mas em outro ponto. Só que ele não vai te dizer isso, ao contrário, vai ele próprio correr atrás de quem pode solucionar o erro e vai dar um jeito de consertar o problema. E o usuário vai ficar com a impressora funcionando sem ter que recorrer ao cachorro do vizinho.
Agora você pode até pensar em dizer: então todos os nossos problemas estão resolvidos? Não, não é bem assim, ainda não chegamos ao "paraíso", mas sem dúvida estamos um passo mais perto. Bom, então qual é o "paraíso" em termos de rede? Vejamos alguns itens:
. Informação compartilhada;
. Diferentes especialidades, perspectivas, bases de conhecimento, todos integrados;
. Fornecedores concorrendo e cooperando entre si;
. Mais facilidades de instalação, configuração e uso (tirar da prateleira, ligar na tomada e funcionar);
. Menor dependência de manuais;
. Amplo treinamento básico etc.
É, tudo isso é muito bonito, mas trocando em miúdos, o que deve mudar? A mudança básica é que, tal como um telefone, ninguém está interessado no que ocorre por trás, o que todos querem é fazer o seu trabalho na máquina, com o sistema operacional, no software e no idioma de sua preferência. E nada mais. Você já pensou que os telefones possuem diversos padrões (protocolos) ao redor do mundo, e no entanto você levanta do gancho e liga para qualquer ponto do planeta sem se tocar disso? Se as telefônicas conseguiram isso, por que nós não haveríamos de conseguir também? A realidade é que ninguém quer trabalhar com softwares em línguas estranhas e confusas, e nem tampouco se importam onde estão os seus dados, desde que, quando necessários, eles surjam na tela (ou na impressora, vá lá!). E nem pense em linha de comando. As interfaces gráficas também são obrigatórias (OS/2, Windows, GEM, System 7, ...). Se essa é a realidade requerida pelos usuários, para os níveis estratégicos há a necessidade de amplas ferramentas de gerência e controle de recursos, bem como maiores recursos de segurança, todos devendo ser atendidos pelos softwares de redes já em médio prazo.
Para as redes, notadamente as versões do Netware, a preocupação a curto prazo é a versão internacional (inglês, francês, alemão, português, italiano etc), já em fase de implantação do Netware 4.0. Além disso, os requisitos de segurança aumentaram, e está prevista a adoção dos padrões C2 e F2 (forças armadas americanas) e melhorias nos logins, senhas e dados, com possibilidade de auditorias de segurança. Quanto aos discos, todos sabem da lei da entropia dos winchesters (todo espaço livre será ocupado), e assim os sistemas de rede vão prover compactação on-line de dados, proteção de memória, tolerância a falhas e sistemas escaláveis. Isso deve permitir começar com uma rede pequena, de 3 ou 4 estações, e chegar até uma rede global, sem maiores impactos nos usuários nem nos administradores de redes. Mais a longo prazo, as redes deverão prestar suporte a robótica, imagens, telefonia, controle de máquinas, vídeo interativo, tele-educação e tudo mais que você conseguir imaginar.