Celepar 35 Anos
Sua excelência: o usuário
Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro– GAC
O ano era 85, o micro já era coisa velha (o primeiro, ainda de 8 bits e com 4 drives de disquetes de 8 polegadas, da Scopus surgira em 1982: os drives pareciam uma geladeira dessas de quarto de hotel). Coisa velha, sim, mas ainda, em larga escala, desconhecido.
Acabara de surgir ainda um programa para digitar textos, conhecido como Wordstar. Já haviam rodado por aí umas versões estranhas, mas acabara de surgir o "estado da arte": Wordstar 2.10, um primor de engenharia de software. Tá certo que, por ser um software americano, não tinha como produzir acentos, mas a criatividade nativa logo daria um jeito: Um simples "e" acentuado, demandava digitar "e", CTRL, P, H, acento e mais espaço. Nada que não fosse passível de ser aculturado. Muito mais tarde veio o WS 3.45, esse sim, agora permitia acentuar. Alguns diagnosticaram um período de vida de mais de 20 anos para este software, tão bom ele era.
Coincidiu que nessa época encerrava-se o processo de recadastramento com a súbita liberação de cerca de 150 computadores (veja a crônica Celepar 35 anos do mês anterior). É bem verdade que hoje se compram micros aos milhares (esses dias ví uma licitação do Governo Federal de 7000 micros), mas naquela época, comprava-se 1, no máximo 2 micros, que a bolada de grana envolvida era bem razoável. Essa abundância repentina era novidade. Os equipamentos começaram a ser distribuídos pelo Estado (aliás, a informatização massiva do Governo do Paraná vai fazer 15 anos, nem parece, não é?) e surgiu a grande questão: quem vai operar esses equipamentos? Como vai aprender essa nova, hermética e exotérica linguagem?
A resposta foi a criação de uma estrutura que se chamou "CENTRO DE INFORMAÇÕES" e que foi responsável, durante cerca de 5 anos, pelo treinamento, suporte, help desk e consultoria em temas relativos à informatização do usuário final. Essa iniciativa era a sucessora de outra, chamada SALA DE CLIENTES que existia desde 81, tentanto aplicar essas idéias ao uso do mainframe. A primeira iniciativa não teve lá muito sucesso. O mainframe era duro de cintura, as ferramentas pobres ou inexistentes e a demanda tinha que literalmente ser criada do nada.
Mas quando houve a explosão dos micros, a equação se inverteu: agora não havia recursos capazes de atender a demanda: Foram cerca de 180 cursos de 1 semana cada, nos primeiros 30 meses da existência do CI. Cerca de 2700 técnicos do Governo foram treinados naquela que era a seqüência sagrada (alguns chamariam de via crucis) de cursos: introdução à microinformática, Wordstar, dBase e Supercalc, 1 por semana. Todos de saudosa memória. O windows e sua troupe ainda não reinavam soberanos, tudo que se tinha era a tela preta do DOS, mas os programas funcionavam.
Nossa linha quente volta e meia nos trazia casos saborosos (uma usuária queria saber onde era a tecla ANY KEY, já que o micro ordenara incontinenti: PRESS ANY KEY; outro queria ligar para a Washington Tate, para reclamar do dBase II), mas tudo era compreensível: foi uma mudança cultural e tanto. Ainda está para ser contada a revolução que a tecnologia trouxe para a Estrutura Governamental.
Aos poucos, essa nova cultura foi se entranhando nas pessoas, as criancinhas começaram a aprender informática na pré-escola, e subitamente, tão subitamente como surgiu, viu-se que não era mais necessária uma estrutura formal e o CI desapareceu, mas não sem deixar lembranças.
Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro– GAC
O ano era 85, o micro já era coisa velha (o primeiro, ainda de 8 bits e com 4 drives de disquetes de 8 polegadas, da Scopus surgira em 1982: os drives pareciam uma geladeira dessas de quarto de hotel). Coisa velha, sim, mas ainda, em larga escala, desconhecido.
Acabara de surgir ainda um programa para digitar textos, conhecido como Wordstar. Já haviam rodado por aí umas versões estranhas, mas acabara de surgir o "estado da arte": Wordstar 2.10, um primor de engenharia de software. Tá certo que, por ser um software americano, não tinha como produzir acentos, mas a criatividade nativa logo daria um jeito: Um simples "e" acentuado, demandava digitar "e", CTRL, P, H, acento e mais espaço. Nada que não fosse passível de ser aculturado. Muito mais tarde veio o WS 3.45, esse sim, agora permitia acentuar. Alguns diagnosticaram um período de vida de mais de 20 anos para este software, tão bom ele era.
Coincidiu que nessa época encerrava-se o processo de recadastramento com a súbita liberação de cerca de 150 computadores (veja a crônica Celepar 35 anos do mês anterior). É bem verdade que hoje se compram micros aos milhares (esses dias ví uma licitação do Governo Federal de 7000 micros), mas naquela época, comprava-se 1, no máximo 2 micros, que a bolada de grana envolvida era bem razoável. Essa abundância repentina era novidade. Os equipamentos começaram a ser distribuídos pelo Estado (aliás, a informatização massiva do Governo do Paraná vai fazer 15 anos, nem parece, não é?) e surgiu a grande questão: quem vai operar esses equipamentos? Como vai aprender essa nova, hermética e exotérica linguagem?
A resposta foi a criação de uma estrutura que se chamou "CENTRO DE INFORMAÇÕES" e que foi responsável, durante cerca de 5 anos, pelo treinamento, suporte, help desk e consultoria em temas relativos à informatização do usuário final. Essa iniciativa era a sucessora de outra, chamada SALA DE CLIENTES que existia desde 81, tentanto aplicar essas idéias ao uso do mainframe. A primeira iniciativa não teve lá muito sucesso. O mainframe era duro de cintura, as ferramentas pobres ou inexistentes e a demanda tinha que literalmente ser criada do nada.
Mas quando houve a explosão dos micros, a equação se inverteu: agora não havia recursos capazes de atender a demanda: Foram cerca de 180 cursos de 1 semana cada, nos primeiros 30 meses da existência do CI. Cerca de 2700 técnicos do Governo foram treinados naquela que era a seqüência sagrada (alguns chamariam de via crucis) de cursos: introdução à microinformática, Wordstar, dBase e Supercalc, 1 por semana. Todos de saudosa memória. O windows e sua troupe ainda não reinavam soberanos, tudo que se tinha era a tela preta do DOS, mas os programas funcionavam.
Nossa linha quente volta e meia nos trazia casos saborosos (uma usuária queria saber onde era a tecla ANY KEY, já que o micro ordenara incontinenti: PRESS ANY KEY; outro queria ligar para a Washington Tate, para reclamar do dBase II), mas tudo era compreensível: foi uma mudança cultural e tanto. Ainda está para ser contada a revolução que a tecnologia trouxe para a Estrutura Governamental.
Aos poucos, essa nova cultura foi se entranhando nas pessoas, as criancinhas começaram a aprender informática na pré-escola, e subitamente, tão subitamente como surgiu, viu-se que não era mais necessária uma estrutura formal e o CI desapareceu, mas não sem deixar lembranças.