Celepar também é Cultura

Autor: Antonio Carlos Rodrigues da Silva - IAPAR  

Parafraseando Martinho da Vila, diria que já estive em empresas de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, em algumas até certo tempo fiquei...

Na CELEPAR, foi marcante. Ela praticamente me "adotou" por conta do apoio tecnológico necessário à implementação do Programa Universidade do Campo. Nos anos de 96 e 97 convivi bastante com seus integrantes no papel de cliente.

Cultura é o nome dessa coisa diferente que senti no dia-a-dia da empresa e que o Bate Byte reproduz com rara fidelidade.

Cultura é a maneira de ser de cada empresa. A CELEPAR também tem a dela.

Ela aparece, conforme os entendidos, à medida que seus integrantes procuram solucionar seus problemas de sobrevivência no seu ambiente externo. Nesse complexo processo definem-se padrões de concepções básicas que são validados pelo que vai dando certo e, por isso, devem ser ensinados aos novos membros. É a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a tais problemas. Tem que haver, portanto, história comum entre os membros da organização para que seja formada a cultura. E isso tem bastante na CELEPAR.

Para compreender a cultura de uma empresa recomenda-se atenção especial à pequenas coisas que permeiam o cotidiano e que raramente percebemos sua importância. Essas pequenas coisas são: valores; crenças e pressupostos; ritos, rituais e cerimônias; estórias e mitos; tabus; heróis; normas e, finalmente, comunicação. Vamos pois, considerá-los isoladamente.

OS VALORES DA CELEPAR

O cliente é, sem dúvida, o grande valor que permeia a comunicação interna da empresa. Na CELEPAR, ele é sempre focado prioritariamente. Essa característica coloca a CELEPAR entre as instituições mais sólidas que conheci, pois valores e crenças, quando são compartilhados internamente, tornam o ambiente fértil, há aprendizagem, há crescimento pessoal e organizacional.

Outro aspecto desse compromisso com o cliente é a assimilação de valores da entidade e/ou atividade do cliente.

O Bate Byte é um termômetro dessa constatação. No de número 67 (set. 97), por exemplo, um artigo sobre Reforma Agrária foi escrito por um profissional da CELEPAR, formado em Ciência da Computação. É bem possível que seu autor, Jair Fernandes, da GAC, o tenha escrito como forma do atendimento ao cliente Universidade do Campo, disseminando idéias para o desenvolvimento socioeconômico do campo. É assim que há intercâmbio de cultura organizacional. Esse fato foi o start para pensar nesse artigo que, finalmente me atrevo a escrever.

Com certeza existem vários outros valores na CELEPAR. Aqui destacamos apenas esse.

AS CRENÇAS E PRESSUPOSTOS DA CELEPAR

São termos usados quase como que sinônimos para expressar aquilo que é tido como verdade na organização. Organizações que conhecem suas crenças são poderosíssimas, pois têm processos decisórios internos mais rápidos. Não significa que sempre acertam mas, ao decidir rapidamente, contam com o erro no processo de aprendizagem. Organizações que desconhecem suas crenças, ou que as identificam incorretamente, postergam processos decisórios criando verdadeiros caos institucionais com prejuízos para o cliente e para os próprios colaboradores.

Na CELEPAR há uma crença de que o cliente deve ser bem atendido. Tanto o interno como o externo. Isso dá à CELEPAR um clima interno de muita solidariedade, o que a diferencia enormemente de outras que conheci.

O importante quanto a esse quesito é poder mudar crenças que prejudicam a organização como ocorreu com a IBM no final de década 70 não enxergando a crescente participação dos PCs no mercado, concentrando suas energias nos mainframes acreditando que eram invencíveis; que aquele novo produto era puro modismo passageiro; que em time que está ganhando não se mexe e, por aí à fora.

RITOS, RITUAIS E CERIMÔNIAS DA CELEPAR

São as atividades planejadas com conseqüências práticas tornando a cultura organizacional mais tangível e coesa. FREITAS destaca alguns ritos organizacionais.

  • Ritos de Passagem

São aquelas atitudes tomadas por ocasião do recrutamento de novos funcionários ou no treinamento de pessoal. São ritos usados para facilitar a mudança de status.

Desconhecemos detalhes desses ritos na CELEPAR mas o pouco que observamos com os estagiários chama a atenção a autonomia que têm a ponto de desde o início interagirem com os clientes externos.

  • Ritos de Degradação

Referem-se aos mecanismos usados para "encostar" ou mesmo demitir pessoas, denunciar falhas/incompetências publica-mente, etc. para, entre outras, reafirmar a importância e valor das regras envolvidas. Fica para reflexão dos celeparianos pois nada observamos de relevância quanto a este aspecto.

  • Ritos de Renovação

São ritos que visam renovar as estruturas sociais e aperfeiçoar seu funcionamento. Eles transmitem a imagem de que algo está sendo feito sobre os problemas podendo, inclusive, desviar a atenção para alguns problemas e omitir outros.

Vem-nos à mente uma proposta do Mendes (que nos deixou prematuramente) de avaliação de desempenho que provocou um desconforto generalizado no seu setor. Vale uma análise daquele processo desencadeado para compreender melhor a cultura da CELEPAR.

  • Ritos de Reforço

É a maneira como cada instituição celebra publicamente seus resultados positivos. Identidades e poder são reforçados. Isso a CELEPAR faz muito bem pois sempre tem o que apresentar nesse período em que a tecnologia da informação é demandada no mundo dos negócios. Krassuski, Danilo, Olga Maria e tantos outros, fazem isso com maestria reforçando o comprometimento interno com a missão da CELEPAR.

  • Ritos de Redução de Conflitos

São os recursos internos acionados para restabelecer equilíbrio das relações.

Os colaboradores podem se lembrar de possíveis manifestações desses ritos.

Particularmente não presenciamos nenhum mas, todas as organizações têm esses mecanismos. Já presenciamos empresas onde algumas tentativas de reduzir conflitos acabavam criando outros. Isso também exige competência.

  • Ritos de Integração

Referem-se aos meios empregados para encorajar e reviver sentimentos comuns e manter as pessoas comprometidas com o sistema social. Se tivesse participado de todos os eventos de integração para os quais fui convidado certamente teria mais elementos para comentar. Em algumas comemorações de aniversário senti um clima de espontaneidade nem sempre comuns nas organizações que trabalhei.

Estórias e Mitos

Estórias são as narrativas baseadas em eventos marcantes ocorridos enquanto que mitos, referem-se à estórias condizentes com os valores da organização, porém, não sustentadas pelos fatos.

As estórias são tidas como "mapas" quando indicam as exceções às regras definidas nos "Manuais de Procedimentos Administrativos" e quais dessas regras "podem " ser violadas sem causar maiores repercussões, enquanto outras são consideradas "sagradas".

O Bate Byte é um referencial fertilíssimo de estórias e mitos. O primeiro se apresenta mais freqüentemente na seção Flagrantes com destaque na participação do Kantek. É bem possível que alguns desses "flagrantes" já tenham virado verdade na comunidade celepariana. Muito justa e significativa a publicação da Coletânea Flagrantes - 8 Anos. Algumas das publicadas, se fosse em outra empresa, dava briga. Talvez esse seja um tabu na CELEPAR.

Tabus

São valores fortes dentro da cultura organizacional fruto de decisões tomadas em reuniões informais com características discriminatórias.

Heróis

Todos que enfrentamos o cotidiano somos heróis. Na abordagem da cultura organizacional é apontada uma relação muito estreita entre empresas bem sucedidas e seus heróis e, estes, são distinguidos entre os "natos" e os "criados".

Os "natos" são aqueles que tornam o sucesso atingível e humano; fornecem modelos; simbolizam a organização para o meio ambiente; preservam o que a organização tem de especial; estabelecem padrões de desempenho, e motivam os empregados.

Os "criados" são heróis situacionais; deixam exemplos para o dia-a-dia enquanto os "natos" têm influência mais ampla, mais duradoura e filosófica.

Das instituições por onde andei talvez a CELEPAR seja a que concentra mais heróis por metro quadrado.

Comunicação

As organizações são vistas como fenômenos de comunicação sem o qual inexistiriam. O processo de comunicação, inerente às organizações, cria uma cultura revelando suas atividades comunicativas. Basta ver a Intranet criada pelo uso do Notes na CELEPAR para constatar o quanto ela está na frente de várias outras no setor público no que diz respeito à comunicação interna.

Em organizações de cultura forte todas as pessoas têm um outro "emprego" além daquele que consta das relações formais. Esses outros "empregos" formam uma hierarquia escondida e exercem um papel crucial para a administração efetiva de qualquer organização bem sucedida.

Exemplos de papéis informais que marcam a comunicação interna, são até divertidos e, por isso também ajudam a entender a cultura:

  • Contadores de estórias - interpretam o que ocorre na organização ajustando os fatos à sua própria imaginação;

  • Padres - pessoas preocupadas com a corporação e guardiãs dos valores culturais;

  • Confidentes - através de um sistema de contatos ao longo da organização mantêm-se sempre atualizados sobre o que transpira na rede;

  • Fofoqueiros - preocupam-se em promover entretenimento. Com suas estórias podem até dar um colorido especial a eventos corriqueiros;

  • Espiões - por lealdade mantém seus chefes informados a respeito de como andam as coisas e,

  • Conspiradores - grupos de duas ou mais pessoas que se reúnem secretamente para tramar um objetivo comum, usualmente relacionado com suas promoções.

Enfim, por essas e outras, aprendi muito nessa rápida convivência com a CELEPAR.

Menos de informática e mais com sua cultura, com sua forma de ser no atendimento ao cliente.

O Programa Universidade do Campo (endereço do site - www.pr.gov.br/ucampo) sofre influência cultural de todas instituições gestoras (CELEPAR, SEAB , as cinco vinculadas - IAPAR, CEASA, EMATER, CLASPAR E CODAPAR - as quatro Universidades Estaduais – de Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Unioeste e a Faculdade de Agronomia de Bandeirantes) que integram seu Grupo de Gestão.

Se hoje ela já é uma referência como uma das melhores fontes de informação para os agentes do agronegócio, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que um dos fatores determinantes foi a postura firme da CELEPAR na figura de seus dirigentes e a liberdade de criação e persistência de sua equipe em pesquisar tecnologias para levar o conhecimento produzido nas gestoras aos agentes do agronegócio. O decisivo é a forma como essas coisas são feitas na CELEPAR: metas e resultados, sim, mas sempre, uma Kaiser antes. Essa forma de ser da CELEPAR é um dos traços de sua cultura que o cliente nunca esquece. Por essas e outras e parafraseando novamente Martinho da Vila , reconheço que...

Já estive em empresas, do tipo atrevida,

Do tipo acanhada, do tipo vivida...

Casada, carente, solteira, feliz...

Já estive em empresas donzelas e até em meretriz.

Empresas cabeças e desequilibradas,

Empresas confusas, de guerra e de paz,

Mas nem uma delas,...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLEURY, Maria Teresa L. Cultura organizacional e estratégias de mudanças : realocando essas questões no cenário brasileiro atual. Revista de Administração Publica, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 3-11, abr./jun. 1991.

FREITAS, Maria Ester de. Cultura organizacional : formação, tipologias e impactos. São Paulo : Makron, 1991.

VILA, Martinho da. Mulheres. S. n. t.