Código de Barras

Autor: Pedro Luís Kantek G. Navarro - GAC


Agora que até os mercados estão se informatizando via código de barras, vale a pena observar como é esta tecnologia e que benefícios ela pode nos trazer.

1. PRIMÓRDIOS

O registro de informações tem pelo menos 18.000 anos. Esta é a idade presumida das primeiras marcações rupestres. Há 3.500 anos começaram as primeiras marcações de quantidades. Há 1.200 anos surgiram os algarismos, o que já permitiu algum tipo de computabilidade.

Em 1876, criou-se o teclado QWERTY, cuja distribuição de teclas, visava diminuir a probabilidade de colisão de tipos nas antigas máquinas de escrever.

Como praticamente não existem mais tipos móveis, têm surgido diversas tentativas de mudar o teclado (uma das últimas, o teclado MALTON, divide o teclado em 2 partes, uma para cada mão), mas bilhões de pessoas já tem esta disposição firmemente gravada em suas memórias, e não há o que as faça mudar.

2. A COMPLEXIDADE DO OCR

As primeiras tentativas de leitura automática visaram dar à máquina habilidade de reconhecimento de tais caracteres. Nasceram as primeiras OCRs (optical caracter recognition), mas o resultado sempre foi insatisfatório. Também pudera: Olhando aqui, você leitor certamente vai reconhecer cada uma das letras a seguir:

São todas um "T" minúsculo, seguido de um maiúsculo, mas pobre da máquina, como ela vai fazer ?

Nesse contexto, surgiu o código de barras. Foi um movimento contrário. Em vez de ser do homem para a máquina, foi da máquina para o homem. Isto porque, segundo os especialistas, é mais fácil aprender a ler japonês do que BAR CODE...

3. CÓDIGO DE BARRAS (BAR CODE)

Representação de caracteres através de barras e espaços de largura variáveis e escritos em 2 cores contrastantes. Todo código de barras que se preza é autocontrolado, ou seja tem dígito verificador, para análise e garantia de integridade.

DEFINIÇÕES

Barra: região escura.

Espaço: região clara.

Elemento é um termo genérico para designar a barra ou o espaço.

Módulo é a largura do elemento mais estreito. Dá a proporcionalidade ao desenho.

Largura de módulo: quantas vezes o elemento largo é maior do que o módulo. Podemos ter BC com 2 níveis: um elemento estreito, e um largo com o dobro da largura do estreito. Podemos ter 3 níveis: elemento com 1 módulo, com 2 módulos e com 3 módulos. Podemos ter 4, 5...

Densidade de informação: número de caracteres que podem ser codificados por unidade de comprimento:

alta: mais do que 8 caracteres por polegada

média: entre 4 e 8 caracteres por polegada

baixa: menor do que 4 caracteres por polegada

Resolução do BC: Indica a precisão do desenho. Pode ser:

alta: módulo é menor do que 0,23mm

média: módulo entre 0,23 e 0,5mm

baixa: módulo maior que 0,5mm

Simbologia: Padrão de codificação de barras e espaços que representa o conjunto de caracteres. São conhecidas mais ou menos 37 simbologias, fora as proprietárias, estas em desuso. As simbologias padrão são normalizadas por órgãos de padronização.

4. ESTRUTURA DE UM CÓDIGO DE BARRAS

Todo campo de BC tem a seguinte estrutura: zona de silêncio, caractere inicial, dados, DV, caractere final.

A zona de silêncio serve para informar ao decodificador que o explorador vai ler um BC. Os caracteres inicial e final estabelecem a direção de leitura.

Daqui para a frente, a estrutura do código pode ser livremente arbitrada. Por exemplo, posso definir que zero é a barra estreita e um a barra larga. Neste exemplo, o espaço não serve para nada.

Código contínuo: O espaço entre os caracteres faz parte do código.

Código discreto: Os espaços podem variar, pois não fazem parte do mesmo.

Um dos primeiros códigos foi o NRZ. Neste o espaço significa zero e a barra significa um. A largura de cada elemento indica a quantidade de zeros ou uns, havendo até 4 larguras (o que possibilita 4 bits iguais seguidos).

5. PRINCIPAIS CÓDIGOS DE BARRAS NO MUNDO

EAN: automação comercial na Europa.

UPC: automação comercial nos EUA e Canadá.

Ambos são exclusivamente numéricos, contínuos, contendo os 10 algarismos, com largura de 4.

CODABAR: discretos, contendo letras, números, barra, asterisco. Largura 2, em uso primordial de bancos de sangue, e em declínio.

MSI: numérico, contínuo, 10 caracteres, 3 larguras, para uso em controle de estoque.

39: Alfanumérico, discreto, 39 caracteres, uso geral, 2 larguras.

Usos no Brasil:

EAN: automação comercial

39: uso geral

2 de 5: uso industrial.

CÓDIGO 39:

Uso geral, padrão ANSI. Usa o conjunto visto abaixo. O início e o fim são marcados com *.

O módulo é de 0,19mm. Largura 2. Densidade: 9,4 cpp. Discreto. Tamanho de campo: variável, limitado pela capacidade do leitor. Taxa de erros de substituição admitida: 1/3.000.000 (1 erro a cada 3.000.000 códigos lidos). Taxa de erro com DV: 1/149.000.000.

Um exemplo com cálculo do DV

0 vale 0, 1 vale 1, 2...2,... A vale 10, B= 11, ... Z=35, -=36, .=37, espaço=38, $=39, /=40, +=41, %=42, *=43.

Procedimento: Somam-se todos os valores, divide-se o resultado por 43, o resto é o DV

Exemplo: seja o código SCM-4702

Somando: S=28, C=12, M=22, -=36, 4=4, 7=7, 0=0, 2=2, total = 111

que dividido por 43 dá como resto 25, que corresponde a P.

O código total fica: *SCM-4702P*

AUTOMAÇÃO COMERCIAL:

O código padrão brasileiro para automação comercial é o EAN, pelo Decreto 90.595 de 29 de novembro de 1984 da Presidência da República. Este foi regulamentado pela portaria 143 do MIC, de 12/11/84.

Quem administra o código no Brasil é a ABAC (Associação Brasileira de Automação Comercial), que está filiada à EAN em Bruxelas. Dessa filiação surgiu o código de país 789, que corresponde ao Brasil, e é a primeira parte do código de TODOS os produtos fabricados neste País.

Este código só usa números, seu início e fim é marcado por 101, o módulo é de 0,33mn, é de tipo contínuo, o erro admitido é de 1 em 15.000 leituras (caneta) e 1 em 45.000 (laser). 0 tamanho do campo é fixo em 13 dígitos (ou 8 para pequenos produtos, tipo carteira de cigarro).

A lei que criou o EAN no Brasil diz que o mesmo é obrigatório se uma empresa MANDA produtos a outros.

O formato do código é: 789FFFFPPPPPPV, onde 789=Brasil, FFFF=identificação do fabricante, PPPPP=produto e V=dígito verificador. Por exemplo, tenho aqui na minha frente um pacote de biscoitos com o seguinte código: 7893333779810. Isto significa: 789=Brasil, Fabricante=3333, Produto=7798 1, DV=0.

O cálculo do DV no EAN é assim:

Somam-se os números de posição par, multiplicados por 3 (da esquerda para a direita). Somam-se depois os números de posição ímpar. Soma-se tudo. O DV é a diferença para o próximo múltiplo de 10.

No exemplo:

posições ímpares: 1 9 7 3 3 8 3+27+21+9+9+24 =93 posições pares: 8+7+3+3+9+

Soma: 93+37=130. A diferença para o próximo múltiplo de 10 é zero. Logo, o DV é zero

Outro exemplo: 789105206230x

ímpares: 0 2 0 5 18 = 0+6+0+15+3+24 = 48

Pares: 3 +6+2+0+9+7 = 2 7

Sorria: 27+48 = 75. 0 DV (x) é 5.

Qualquer empresa tem que se associar à ABAC para receber um código de fabricante e unia família de códigos de produto.

Aqui uma curiosidade: Nos primórdios do código de barras em produtos, um grande industrial brasileiro estava armando uma grande exportação de sapatos aos EUA. O importador, depois de fechados todos os aspectos referentes a preço e prazo, fez a última exigência: os produtos tem que ter código de barras. O exportador, não sabendo do que se tratava. e não querendo passar recibo de ignorância foi se informar. Só que informaram errado. Disseram pra ele que era um punhadinho de riscos e espaços, e o exportador mandou fazer milhares de caixas de sapato com códigos idênticos. Que vexame, os sapatos foram recusados na recepção.