Coluna do Estagiário Celepariano: O curso superior em informática, o estágio e o mercado de trabalho
Autor: Wilson Mauri de Bonfim - GPS
Como professor universitário e supervisor de estagiários, tenho grande interesse em qualquer assunto que envolva estudantes de 3º grau, em geral, e estagiários, em particular, principalmente no aprimoramento da gestão de recursos humanos no campo da informática.
Um assunto em especial tem atraído a minha atenção:
Quais os fatores que contribuem para o estudante sentir-se inseguro quanto ao seu aprendizado na faculdade, e conseqüentemente, ao seu aproveitamento no mercado de trabalho, enquanto participante de estágio nas empresas?
Fernando Cardoso, estudante de administração em São Paulo, cita na revista Veja na pág. 98 da ed. 655 de fevereiro deste ano que "o que tem percebido é um grande número de empresas que preenchem seus quadros com estagiários apenas para que eles sirvam como mão-de-obra barata".
Será isto verdade? As opiniões divergem e convergem numa velocidade impressionante.
É freqüente observar-se o descontentamento do estudante na utilização do seu trabalho em áreas e atividades diversas daquelas propostas.
Por outro lado, empresas reclamam da baixa qualidade do trabalho apresentado pelo estudante, além de outras observações depreciativas ao aprendizado e às Instituições de Ensino.
A opinião da profª Mônica Diniz Carneiro Pena confirma, nos Anais do I Encontro Nacional de Estágios na pág. 160 editado pela UFPR– Curitiba em 1997, que "O trinômio empresa aluno-escola executa melodias desafinadas, lentas e sem ritmo."
Também o livro "Escola/Empresa – A qualificação pelo estágio", publicado pelo MEC/DAU em 1979, na pág. 74, cita: "Além desta diversificação natural entre a percepção de diversas Instituições, nota-se que há também uma divergência muito grande entre os objetivos visados pelas Instituições e os visados pela Empresa, em função dos seus próprios interesses".
Já na publicação do Centro de Integração Empresa-Escola do Pr.-CIEE – editado em Curitiba em 1992, o prof. Carlos Thomson, no artigo "Reitor fala sobre crise e estágios nas Universidades", comenta na pág. 16 - "A condição de estagiário, realmente propicia a aproximação da teoria com a prática por iniciativa e atuação eficiente da própria escola. Esta condição reconhecida e regular, eximindo a empresa de possível vínculo empregatício e encargos sociais, constitui forma de estímulo à empresa, no sentido de aceitar estagiários.", e continua na pág. 26 - "A participação da empresa no processo educacional não é uma filosofia nem uma prospecção, mas é uma inclusão obrigatória, requerida pela sua própria estrutura , carente de recursos humanos, com formação flexível, para se adaptar às freqüentes mudanças geradas pelo avanço tecnológico".
Talvez a questão se apresente assim porque a gestão do ensino nos cursos superiores de informática tem esbarrado diretamente na qualidade e atualização necessárias ao mercado de trabalho, tendo, por um lado, as organizações, cada vez mais exigências para o profissional a nível de conhecimentos e tempo de experiência na área, e, pelo outro, as instituições de ensino superior com dificuldade de acompanhar estas exigências, no que tange à atualização do seu corpo docente e na transmissão destes conhecimentos ao corpo discente.
Quanto às exigências do mercado, temos a contestação direta das professoras Ana Clara Halasi e Neci G. Ricciardi, na pág. 32 do livro "Educação e Trabalho: Estágio - Uma Estratégia de Profissionalização", que dizem que "A relação da escola com o mercado de trabalho passa pelo exercício da função que lhe é essencial: socializar o saber. Portanto, não é de sua responsabilidade solucionar problemas do mercado de trabalho".
E se as professoras citadas estão corretas nesta afirmação, como ficamos em relação ao CIEE-Centro de Integração Escola Empresa, que afirma na sua coluna, publicada pela Gazeta do Povo no ano passado, e reeditado na publicação "Estágio – Investimento Produtivo" nas pág.12 e 13, que "Não há como negar que, com raras exceções, os currículos estão desatualizados, a pesquisa praticamente inexistente, professores pouco qualificados ensinam alunos mal preparados, entre outros pontos negativos".
Temos observado no nosso dia-a-dia que o estágio em Informática é significativo para a complementação da educação universitária, e este, se apresenta como a única parceria existente, com acesso relativamente fácil ao estudante, entre as empresas e a faculdade.
Porém, a proliferação de faculdades oferecendo cursos de informática, sem a busca de parceria com empresas do setor, principalmente na área de análise de sistemas e desenvolvimento de aplicativos, tem formado uma geração de formandos frustrados com a dificuldade de ingressar neste mercado cada vez mais competitivo.
De forma geral, fica a questão: se o estágio é a forma ideal de complementação ao estudo teórico oferecido pelas instituições de ensino ou serve de instrumento das empresas para exploração do trabalho do estudante a baixo custo.
Empresas em convênio com entidades de ensino, através de agentes de integração, proporcionam acesso aos estudantes de 3º grau ao estágio, presumidamente, na sua área de aprendizado.
Com este procedimento, estão dando oportunidade ao estudante de vivenciar, na prática, a teoria aprendida em seu curso.
Isto é regra geral ou exceção? E, neste confronto, quem explora quem? O estudante ou a empresa? Quem é beneficiado e quem é prejudicado?
Esta investigação constante tem guiado uma ação prática na CELEPAR no desenvolvimento e aperfeiçoamento de um programa em caráter permanente da efetiva utilização do estudante enquanto estagiário. Este programa tem o objetivo concreto de treinamento e preparação do estagiário no campo profissional de sua formação, proporcionando benefícios adequados ao estudante e à empresa.
O coordenador da Divisão de Pessoal da CELEPAR, Adenis Tortato, é categórico quando afirma que "o estágio de estudantes não se confunde e não deve confundir-se com o emprego, quer de caráter temporário, quer de duração indeterminada".
É com esta mentalidade que, na CELEPAR, buscamos a valorização do estágio, caminhando decisivamente em direção a uma parceria efetiva entre empresa e universidade.