Criação do conhecimento organizacional
1 Introdução
Este artigo é o primeiro de uma série de três, onde será abordado a teoria da criação do conhecimento organizacional, que acontece através de um processo de interação em espiral entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, distribuídos em quatro modos de conversão definidos por Nonaka e Takeuchi [4]; criando condições de difundi-lo e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas.
2 Conhecimento e informação
Neste primeiro artigo serão demonstradas as diferenças entre conhecimento e informação, que são baseadas em duas correntes, a filosófica de Platão e a das premissas lógicas.
Antes de detalharmos as diferenças, é importante observar que, segundo Nonaka e Takeuchi [4]:
- O conhecimento, diferente da informação, diz respeito a crenças e compromissos. É uma função de uma atitude; perspectiva ou intenção específica;
- O conhecimento, diferente da informação, está relacionado à ação; conhecimento "com algum fim";
- O conhecimento, como a informação, diz respeito ao significado. É específico ao contexto e relacional.
Nonaka e Takeuchi [4] dizem que para a epistemologia ocidental a "verdade" é como atributo essencial do conhecimento. Ela enfatiza a natureza absoluta, estática e não-humana, expressa em proposições e pela lógica formal.
Para a criação do conhecimento, destaca-se a natureza do conhecimento como "crença justificada".
Consideram o conhecimento como um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à "verdade".
3 Correntes de pensamento sobre conhecimento e informação
3.1 Corrente Filosófica de Platão
O conhecimento inicialmente introduzido por Platão diz-se que é a CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA.
Segundo Platão, para que a informação torne-se conhecimento é necessário que sejam satisfeitas as seguintes condições:
Para que o indivíduo A tenha conhecimento de algo P deve-se seguir as condições necessárias e suficientes do conhecimento A sobre P:
a) P é verdadeiro (condição de verdade) - descreve a realidade que é verdadeira no passado, presente e no futuro; Exemplo: 2 + 2 = 4 , esta informação é verdadeira tanto hoje, como ontem e continuará sendo; portanto é conhecimento.
b) A precisa acreditar que P é verdadeiro (condição de crença) - o conhecimento contém crença, mas a crença não contém conhecimento;
Exemplo: 2 + 2 = 5, é informação, mas é falsa, mas A pode acreditar que é verdadeira. O fato de A acreditar não torna a informação como sendo conhecimento.
c) A crença de A de que P é verdadeiro precisa ser justificada (condição de justificação) - exige provas, se não, não constitui conhecimento.
Exemplo: 2 + 2 = 4, esta informação pode ser provada, portanto é conhecimento.
Segundo a primeira condição de verdade, o conhecimento que um indivíduo tem de algo só existe se a proposição for verdadeira. Portanto, uma afirmação como "Conheço P, mas P não é verdadeiro", simplesmente é contraditória. Uma proposição verdadeira descreve a
realidade, que é verdadeira no passado, no presente e no futuro.
A condição de crença exige não só que a afirmação seja verdadeira como também acreditar que ela seja verdadeira. Embora a condição de verdade seja uma exigência objetiva, a condição de crença é uma exigência subjetiva. Portanto, quando alega-se o conhecimento de P, precisa-se assumir uma determinada atitude com relação a P.
Assumir uma atitude com relação a P significa acreditar em P. Entretanto, acreditar em P não é uma característica que defina que P é verdadeiro. Talvez seja possível dizer que "Acredito em P, mas P não é verdadeiro", entretanto, a proposição "sei que P é verdadeiro, mas não acredito que P seja verdadeiro" é contraditório.
Em suma, o conhecimento contém crença, mas a crença não contém conhecimento.
Nonaka e Takeuchi [4] dizem que a condição de justificação exige provas do caráter verdadeiro do conhecimento. A crença, que revela uma atitude com relação a P, não justifica P, é preciso prova de verdade. A crença formada sem provas válidas não constitui conhecimento, embora possa ser verdadeira em algumas circunstâncias.
A informação e o conhecimento são freqüentemente usados como termos intercambiáveis, mas existe uma nítida distinção.
3.2 Premissas Lógicas
Para o raciocínio lógico, conhecimento é inferir a partir de dados e informação através de três modos diferentes:
3.2.1 Raciocínio Dedutivo
Segundo Aranha [1], a dedução é um tipo de raciocínio que parte de uma proposição geral (referente
a todos os elementos de um conjunto) e conclui outra proposição geral ou particular (referente a parte dos elementos de um conjunto), que se apresenta como necessária, ou seja, que deriva logicamente das premissas.
Exemplo: Todo brasileiro é sul-americano.
Todo paulista é brasileiro.
Todo paulista é sul-americano.
Aristóteles chamava o raciocínio dedutivo de silogismo (dedução formal tal que, postas duas premissas, delas, por inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão) e o considerava um modelo de rigor lógico. Entretanto, deve-se frisar que a dedução não oferece conhecimento novo, uma vez que a conclusão sempre se apresenta como um caso particular da lei geral. A dedução organiza e especifica o conhecimento que já se tem, mas não é geradora de conhecimentos novos. Ela tem como ponto de partida o plano do inteligível, ou seja, da verdade geral, já estabelecida.
3.2.2 Raciocínio Indutivo
Para Aranha [1] a indução é o raciocínio que, após considerar um suficiente número de casos particulares, conclui uma verdade geral. A indução, ao contrário da dedução, parte da experiência sensível, dos dados particulares.
Exemplo: O cobre é condutor de eletricidade, e a prata, e o ouro, e o ferro, e o zinco...
Logo, todo metal é condutor de eletricidade.
É importante que a enumeração de dados (que correspondem a tantas experiências feitas) seja suficiente para permitir a passagem do particular para o geral. Entretanto, a indução sempre supõe a probabilidade, isto é, já que tantos se comportam de tal forma, é muito provável que todos se comportem assim.
Em função desse "salto", há maior possibilidade de erro nos raciocínios indutivos, uma vez que basta encontrar uma exceção para invalidar a regra geral. Por outro lado, é esse mesmo "salto", em direção ao provável que torna possível a descoberta, a proposta de novos modos de compreender o mundo. Por isso, a indução é o tipo de raciocínio mais usado em ciências experimentais.
3.2.3 Raciocínio Analógico
Aranha [1] diz que a analogia é o raciocínio que se desenvolve a partir da semelhança entre casos particulares. Através dele não se chega a uma conclusão geral, mas só a outra proposição particular.
As analogias podem ser fortes ou fracas, dependendo das semelhanças entre os dois tipos de objetos comparados. Quando a semelhança entre os objetos se manifesta em áreas relevantes para o argumento, a analogia tem mais força do que quando os objetos apresentam semelhanças não relevantes para a conclusão. Por exemplo, o fato de uma pessoa ter olhos azuis não justifica que uma minissaia fique bem em uma outra pessoa de olhos azuis, mas fique bem em alguém que não tenha semelhança de idade ou de físico.
Assim, o raciocínio analógico não oferece certeza, mas, tão-somente, uma certa dose de probabilidade. Por outro lado, porque exige um salto muito grande, é onde se abre o espaço para a invenção, tanto artística quanto científica. Gutenberg inventa a imprensa a partir da impressão de pegadas deixadas no chão por pés sujos de suco de uva. Fleming inventa a penicilina ao ver que bactérias cultivadas em laboratório morriam em contato com o bolor que se formara por acaso. Raciocinando analogicamente, supõe que bactérias que causavam doenças ao corpo humano também pudessem ser destruídas por bolor.
Assim, procurando saber como podemos conhecer e o que garante a verdade do conhecimento, percebemos que o homem constrói o seu conhecimento de vários modos, que cada um depende de um tipo de raciocínio diferente e chega a um tipo específico de verdade, ou seja, a verdade mítica, científica, filosófica e artística são bastante diferentes umas das outras.
4 Conclusão
Observa-se que na corrente filosófica, para que a informação torne-se conhecimento, é necessário que as três condições sejam satisfeitas e não apenas uma ou duas.
É importante ressaltar que as duas correntes não se excluem, mas sim se complementam como meio de conversão do conhecimento.
Assim, à luz das duas correntes aqui analisadas, pode-se verificar que muitos sistemas "vendidos" hoje como Gestão do Conhecimento são na verdade sistemas melhorados de Gestão da Informação.
No próximo artigo desta série, será abordada a criação do conhecimento organizacional através da conversão dos conhecimentos tácito e explícito, proposto por Nonaka e Takeuchi [4].
Referências
1 ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
2 _____. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
3 LESSI, M. C. R. P. A gestão da informação e as inovações tecnológicas como suporte à criação do conhecimento organizacional. 2002. 91 f. Monografia (Curso e Especialização em Gestão da Informação e Inovações Tecnológicas) - Fundação de Estudos Sociais do Paraná, Curitiba, 2002.
4 NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.