Em terra de cego, quem tem olho é rei!
Autora: Tânia Volkmann - GPS
Como é de conhecimento, a Celepar, durante muito tempo, formou seus próprios programadores. Graças a essas bem sucedidas experiências, aconteceu da Celepar firmar um convênio com o Governo do Estado, através do Provopar, para formar programadores deficientes visuais. Isso aconteceu em 1989 e requereu diversas adaptações" ao meio. As gafes eram muitas, como mostrar onde ficavam os interruptores de luz nas salas e banheiros (as aulas eram à noite). indicar pessoas ou coisas com o dedo, além de outras "impublicáveis". Foi uma experiência memorável, de aprendizado mútuo, de fases difíceis mas também com passagens curiosas, diria até cômicas (ou trágicas?) como esta:
Em julho daquele ano, a Celepar foi convidada a participar de um Congresso em Camboriu (SC), promovida pela União Latino-Americana de Cegos, sobre a Utilização da Mão-de-Obra do Deficiente Visual no Mercado de Trabalho e, em especial, no caso da Celepar, na área de Informática, apresentando em uma palestra esta nossa experiência. Dada a honra de tal convite, esmeramo-nos na preparação do material: transparências, cartazes, slides, etc.
Tal não foi a nossa surpresa, quando chegamos lá (eu, o Alberto Cruz e a Clarice Matsubara) e descobrimos que no meio de mais de 100 participantes, nós éramos os únicos que enxergávamos!! Dá para imaginar o quão útil foram as transparências e slides, não? E para piorar a situação, bem na hora em que eu deveria apresentar a palestra, faltou luz no hotel onde estava sendo realizado o congresso, aliás, faltou luz na cidade inteira, em função de uma forte tempestade que se abateu e escureceu por completo o local. 0 gerente do hotel foi até o recinto e sugeriu que mudássemos para outro salão onde haviam lamparinas que auxiliariam na iluminação. Mas os ouvintes e demais palestrantes (lembrando: todos cegos) que nem haviam percebido o fato, optaram por ficar no local, já que para eles não influenciava em nada. Tive então que apresentar a palestra literalmente "tateando no escuro", já sem os recursos visuais programados e ainda sem enxergar um palmo na frente do nariz.
Depois das palestras, já com a iluminação retornada ao normal, fomos até o restaurante para o jantar de Congraçamento. Eis que, num momento de aperto, eu necessitei de um banheiro. Olhei em volta e nada constatei. 0 que fazer? Eis que, uni garçom se aproximou da mesa e perguntei a ele se havia uni banheiro por perto. Mais do que depressa ele me puxou pelo braço e disse: "Pode deixar que eu lhe mostro" e lá fui eu conduzida pelo garçom até o banheiro. Ao sair, deparo com o sujeito me esperando. já ia caminhando até o restaurante quando novamente ele me pegou pelo braço e foi me conduzindo. Achei de início que era uni excesso de zelo e presteza por parte do moço. mas ao chegar perto da porta do restaurante e que eu fui entender a situação, quando ele fez o seguinte comentário: "Até que você se locomove bem, para quem nada enxerga". Ou seja, ele achou que, estando no meio daquele grupo. eu também era cega. Tentei explicar que realmente eu só enxergava com um olho (o que é verdade), mas ele não entendeu e muito cerimonioso me levou até a mesa, puxou a cadeira para eu me sentar, etc., etc.. E eu passei o resto da noite fingindo ser cega quando o garçom estava por perto, com receio que ele percebesse que eu enxergava e pudesse achar que eu estava "tirando um sarro" dele! (ainda bem que ninguém mais "viu" a cena ... )
Como é de conhecimento, a Celepar, durante muito tempo, formou seus próprios programadores. Graças a essas bem sucedidas experiências, aconteceu da Celepar firmar um convênio com o Governo do Estado, através do Provopar, para formar programadores deficientes visuais. Isso aconteceu em 1989 e requereu diversas adaptações" ao meio. As gafes eram muitas, como mostrar onde ficavam os interruptores de luz nas salas e banheiros (as aulas eram à noite). indicar pessoas ou coisas com o dedo, além de outras "impublicáveis". Foi uma experiência memorável, de aprendizado mútuo, de fases difíceis mas também com passagens curiosas, diria até cômicas (ou trágicas?) como esta:
Em julho daquele ano, a Celepar foi convidada a participar de um Congresso em Camboriu (SC), promovida pela União Latino-Americana de Cegos, sobre a Utilização da Mão-de-Obra do Deficiente Visual no Mercado de Trabalho e, em especial, no caso da Celepar, na área de Informática, apresentando em uma palestra esta nossa experiência. Dada a honra de tal convite, esmeramo-nos na preparação do material: transparências, cartazes, slides, etc.
Tal não foi a nossa surpresa, quando chegamos lá (eu, o Alberto Cruz e a Clarice Matsubara) e descobrimos que no meio de mais de 100 participantes, nós éramos os únicos que enxergávamos!! Dá para imaginar o quão útil foram as transparências e slides, não? E para piorar a situação, bem na hora em que eu deveria apresentar a palestra, faltou luz no hotel onde estava sendo realizado o congresso, aliás, faltou luz na cidade inteira, em função de uma forte tempestade que se abateu e escureceu por completo o local. 0 gerente do hotel foi até o recinto e sugeriu que mudássemos para outro salão onde haviam lamparinas que auxiliariam na iluminação. Mas os ouvintes e demais palestrantes (lembrando: todos cegos) que nem haviam percebido o fato, optaram por ficar no local, já que para eles não influenciava em nada. Tive então que apresentar a palestra literalmente "tateando no escuro", já sem os recursos visuais programados e ainda sem enxergar um palmo na frente do nariz.
Depois das palestras, já com a iluminação retornada ao normal, fomos até o restaurante para o jantar de Congraçamento. Eis que, num momento de aperto, eu necessitei de um banheiro. Olhei em volta e nada constatei. 0 que fazer? Eis que, uni garçom se aproximou da mesa e perguntei a ele se havia uni banheiro por perto. Mais do que depressa ele me puxou pelo braço e disse: "Pode deixar que eu lhe mostro" e lá fui eu conduzida pelo garçom até o banheiro. Ao sair, deparo com o sujeito me esperando. já ia caminhando até o restaurante quando novamente ele me pegou pelo braço e foi me conduzindo. Achei de início que era uni excesso de zelo e presteza por parte do moço. mas ao chegar perto da porta do restaurante e que eu fui entender a situação, quando ele fez o seguinte comentário: "Até que você se locomove bem, para quem nada enxerga". Ou seja, ele achou que, estando no meio daquele grupo. eu também era cega. Tentei explicar que realmente eu só enxergava com um olho (o que é verdade), mas ele não entendeu e muito cerimonioso me levou até a mesa, puxou a cadeira para eu me sentar, etc., etc.. E eu passei o resto da noite fingindo ser cega quando o garçom estava por perto, com receio que ele percebesse que eu enxergava e pudesse achar que eu estava "tirando um sarro" dele! (ainda bem que ninguém mais "viu" a cena ... )