Entrevista do mês
Conheci a Ana Brotto em 1974. Nessa época ela cuidava da DDF (Diretoria de Despesa Fixa). pai e mãe do atual SIP. Lembro-me das tabelas do sistema: caixas e mais caixas de cartões que passeavam todo mês por uma porção de lugares (Controle, sala da Ana, sala do computador , sala da Ana, etc). De lá para cá, muita coisa mudou, a Celepar se modernizou, cartões são objetos de museu, as perfuradoras 029 foram aposentadas, mas os funcionários do estado continuam recebendo mês a mês, e muito disto se deve à Ana e a sua equipe. Com vocês, inaugurando nossa sessão “Entrevista do mês”, alguém que, se não tem ainda, merece uma plaquinha de patrimônio da Celepar: Ana Maria Brotto Parada.
Pedro Kantek
Ana Maria Brotto Parada, 43 anos, 25 na Celepar.
Depois do ginásio num colégio de freiras, fez Contabilidade e Desenho Industrial no CEFET-PR. Anos depois fez Licenciatura e Bacharelado em Matemática na PUC-PR.
Experiência profissional: Perfuradora (atualmente chamam de Digitadora), Operadora de Computador, Programadora, Analista de Sistemas, Coordenadora Técnica, Gerente de Área Técnica. Neste meio tempo, mãe, estudante, faxineira, lavadeira, esposa, consultora, escoteira, assistente distrital UEB-PR, campista.
BB7 – Quais as perspectivas atuais da CELEPAR?
ANA MARIA – Após ter passado bravamente por fantasmas de desagregação/desintegração a CELEPAR retoma com força maior a sua vocação de instrumentalizar e assessorar as atividades meio do governo, de fomentadora de informática e disseminadora de tecnologia de ponta, que a tem colocado na mira e na berlinda dos acontecimentos tecnológicos e políticos.
Isso só faz reforçar seu caráter, personalidade e a convicção de estar no caminho certo.
Estamos trilhando novos rumos, cada vez mais conscientes do nosso papel e da finalidade da nossa empresa. O engajamento de todos na formulação do Plano Estratégico, nos planos tático e operacional, na produção de serviços com qualidade e utilidade são prova disso.
Não sou sonhadora. Sou idealista e acima de tudo entendo de importância fundamental e estratégica a existência da CELEPAR no contexto da Administração Pública Estadual. Cabe a nós, funcionários, aqueles que atribuem existência e personalidade a esta CELEPAR, consolidar este papel.
BB7 – Como a CELEPAR deve atuar perante os seus clientes daqui a 5 anos?
ANA MARIA – Penso esta questão assim: “Por que esta empresa existe e por que deverá continuar existindo? . Quando ouvimos que devemos mudar o perfil de nossa atividade, de uma certa forma isso nos agride. A mudança nos incomoda, porque é preciso é preciso enfrentar o desconhecido.
Se eu tivesse teimado em continuar a ser uma perfuradora provavelmente estaria a maldizer os clientes que não querem mais os meus cartões perfurados.
Teve um fato que me marcou: foi assistindo uma palestra de um professor canadense, num congresso de informática em 1984, acho.
Ele disse: “Se você é analista de sistemas ainda tem 10 anos para mudar a profissão. Se você é programador já deveria ter mudado”. Sou franca, aquilo me assustou. Fazendo os devidos descontos do nosso atraso tecnológico em relação ao primeiro mundo, estamos chegando rapidamente neste patamar. Existem muitos indicadores da necessidade de mudança.
Uma empresa só existe ( e/ou continuará a existir) se o seu produto vier a satisfazer a necessidade do seu mercado consumidor. E este mercado vai fazer avaliação de custo-benefício, necessidade, oportunidade, atualidade, utilidade etc.
É por isso que se fala tanto em evidência, qualidade, produtividade, competitividade, oportunidade empresarial. E sobre informação, um atributo muito forte é confiabilidade.
A CELEPAR deverá se preparar para assessoramento de seus clientes, oferecendo o seu melhor produto, que é o conhecimento do Estado com uma visão de conjunto, a serviço das atividades do governo, promovendo a modernização administrativa, e sempre que adequado, utilizando a informática.
A transformação mais difícil que teremos que passar é a de reconhecermos o nosso próprio valor como instituição, para termos coragem de colocar à venda este produto. Somos uma empresa pública - para servir a comunidade.
Será este o usuário que garantirá a nossa existência.
BB7 – O que é o SIP?
ANA MARIA – O SIP é uma epopéia. E também faz a folha de pagamento do Estado, entre outras coisas.
BB7 – Como você se sente gerenciando uma equipe responsável pelo pagamento de salário de 200.000 pessoas.
ANA MARIA – trabalhar com uma equipe como a que é responsável pelo pagamento do Estado é fácil. São profissionais competentes, absolutamente responsáveis comprometidos com a sua tarefa, com a empresa e com o usuário, que muito têm contribuído para o meu crescimento pessoal e profissional. Todos e cada um dos serviços da CELEPAR, são importantes, uns mais úteis, outros servem mais a propósitos políticos, mas acho o SIP o sistema mais delicado, sensível, crítico e vulnerável que temos na empresa. Por isso, o envolvimento, especialização e dedicação dos técnicos é indispensável apesar de extremamente desgastante. O pior momento é aquele que se situa entre a emissão da folha e sua distribuição. Apesar dos vários pontos de avaliação sempre existe um risco. E isso ocorre todo o mês.
BB7 – Você tem saudades da DDF?
ANA MARIA – Tenho saudades sim. Foi minha prova de fogo e o sistema que convivi na época mais difícil e mais bonita da minha vida. Depois de implantado (eu era programadora) recebi um memorando interno da gerência, que me designava formalmente como responsável pelo sistema. Repare bem, isso foi uma repreensão, porque tinha acontecido algum problema e o sistema não tinha analista responsável.
Naquela época eu levava o Diego ainda neném, e o Muller (que era louco por criança) ficava cuidando dele pra eu poder acabar logo o serviço e ir embora para casa.
BB7 – Quais os sistemas que a sua equipe cuida, além do SIP?
ANA MARIA – A GAT-4 onde estou atuando hoje atende a SEAD, SEPL, SECS e CASA CIVIL, além de suas vinculadas: DEAM, DECOM, DETO, IPARDES, DIOE, PROVOPAR, OUVIDORIA GERAL e IPE.
Dos sistemas que trabalhamos, se ouve muito do SIP, mas acho que é porque ele tem certas características mais particulares – o volume, é pagamento, em batch (ou será que é porque ele dá muito problema? Ou dá notícia? Pode ser também porque se fala dele nas assembléias de data base!)
Temos muitos outros serviços: grandes e pequenos, velhos e novos, alguns importantes outros desapercebidos pela grande maioria. Alguns ainda não nascidos, outros quase agonizantes. Falemos de alguns:
AGO – Agenda do Governador
SRG – Realizações do Governo
AIM – Administração Integrada de Materiais
CIA – Cadastro Integrado de Autoridades
BDE – Base de Dados Estadual
BDG – Base de Dados do Governo
RHC – Histórico Funcional RH
PPH – Histórico Financeiro RH
PPP – Fopag – PIS/PASEP
ERH – Atualização dos Cadastros de RH
ADC – Acompanhamento de Despesas de Custeio
ADP – Administração do Dimensionamento de Pessoal
FPI – Folha de Pagamento dos Pensionistas
MCI – Marcação de Consultas
GHI – Gerenciamento Hospitalar
CQF – Controle de Quadros Funcionais
SCL – Locações de Imóveis
CLE – Cadastro de Licitantes
SPI – Protocolo Integrado
CPU – Concurso Público
GAS – Gerenciamento de Acesso a Sistemas
EGO – Estrutura do Governo
LOP – Legislação Organizacional do Pr
FAB – Aplicação de Recursos Federais
EOE – Orçamento de Obras Públicas
EMP – Cadastro de Empreiteiros do DECOM
CBI – Cadastro de Empreiteiros do DECOM
CCR – Controle de Construções e Reparos
COE – Controle de Obras
CVD – Controle de Veículos Oficiais
DGE – Dados Gerais de Eleições
IAP – Informação e Acompanhamento de Processo Orçamentário Financeiro de Obras
SAR – Acompanhamento de Reivindicações
CDI – Controle Pessoal a Disposição
PPE – Folha Complementar
SCD – Consignação e Descontos
É quase impossível citar todos, me desculpem os ausentes.
BB7 – Como se sente a primeira gerente mulher da CELEPAR?
ANA MARIA – As coisas acontecem na minha vida, me pergunto o quanto eu fiz para que acontecessem assim...
Houve época em que eu me sentia insatisfeita e quis me libertar da “Folha do Estado”. E apesar de algumas tentativas, elas se mostraram infrutíferas. É só ver do que se lembraram de me perguntar nesta entrevista. Daí eu tinha duas alternativas: ou aceitava a tarefa e descobria nela novos horizontes, ou não aceitava e pagaria o preço de ter que fazer o que eu “não queria”, mas que era o que a empresa precisava que eu fizesse, porque eu tinha mostrado que podia e sabia fazer (quem não sabe fazer um bom programa, depois do que eles – o pessoal lá do treinamento – fazem com a gente?
Bom, um dia eu tive que virar coordenadora técnica do GRUPO da SEAD e a coisa ficou feia. Eu preferia continuar apertando botões, ou fazendo programas ou testando rotinas ou fazendo programas ou testando rotinas ou fazendo folhas de pagamento. E os colegas insistiam em me apresentar “como a minha chefe”. Eu estava numa situação desconfortável. Até o dia que eu assumi isso. E como se fosse mágica isso deixou de ser problema.
Daí a ser a primeira gerente mulher na CELEPAR foi assim: aconteceu. Nunca olhei a coisa por esse prisma. Somos chamados a desempenhar uma função ( e do ponto de vista da organização todas as funções são importantes, qualquer que seja a tarefa associada) e, da nossa consciência das limitações, do conhecimento das tarefas necessárias ao bom desempenho, da postura ética, da humildade pessoal, da cooperação dos colegas, da busca incessante de ser melhor a cada dia surgem as oportunidades que nós aceitamos ou não. A decisão cabe a cada um.
BB7 – Qual o seu maior sucesso na CELEPAR?
ANA MARIA – Tenho a sorte de gostar do que faço... ou de fazer o que gosto! Me sinto útil na comunidade onde passo uma boa parte da minha vida.
BB7 – Do que você não fez, o que gostaria de ter feito?
ANA MARIA – Não vou falar de frustrações.
A vida me ensinou que a maior parte das frustrações estão naquelas coisas que não nos permitimos fazer; a aceitar nossos fracasso não como fraqueza mas como limite; aceitar que somos humanos, sofrer com isso sim, mas aceitar isso como condição de vida.
O que eu gostaria de ter feito: ser mestre da Loja Curitiba-AMORC. E porque não fui? Uma questão de opção! Preferi ser chefe de uma tropa de escoteiros. Melhor? E como saber? Só sei que foi bom.
Foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida: o ganho que se consegue nas relações humanas, principalmente nas situações de dificuldade, onde as pessoas são o que são porque assim optaram, porque confiam uma nas outras, porque conhecem suas responsabilidades, porque sabem que contam umas com as outras.
Que grande maravilha são as pessoas! Acho que é preciso descobrir isso na CELEPAR.