Flagrante:O Passeio do Café
Escrito por Pedro Luis Kantek Garcia Navarro
No árduo ofício de escrever esta despretensiosa crônica do nosso dia-a-dia, nem sempre tenho oportunidade de ver acontecerem os causos. Este é um que não vi, mas me contaram com tal riqueza de detalhes que entrego como recebi, nem mais nem menos.
Faz parte do nosso cotidiano cruzar com os comboios de garrafas de café. É um tal de encontrar o elevador tomado por elas, ver secretárias levando 7 ou 8 térmicas, ter que esperar uma parada técnica do elevador no 3º andar (cantina), que ninguém mais se apercebe do fato. Pois vá ter falta de percepção assim na casa do chapéu, como se verá já a seguir no episódio que ora se inicia.
Dia desses, uma colega nossa, trabalhadora incansável, terminou seu expediente e reparou que já era tarde. Rapidamente apanhou suas coisas, fechou as gavetas e se mandou. Tanta pressa tinha que nem esperou o elevador, foi de escadas mesmo. Chegando no térreo, uma paradinha no banco, que a grana tinha acabado, batida do ponto, tchau tchau e lá se foi ela em direção à parada de ônibus que fica no outro quarteirão da Rua Mateus Leme.
Como o ônibus estava demorando, logo puxou assunto com uma colega da outra Celepar, e papo vai, papo vem, deu-se um jeito de colocar as novidades das duas sedes em dia.
Nesse instante, surge o ônibus, freiando rápido — que afinal ele também estava atrasado. Nossa personagem foi pegar o dinheiro da passagem e, aturdida, viu que lhe faltavam mãos para tanto. Olhando para baixo constatou, aterrorizada, que estava com as 3 garrafas térmicas do seu setor. E o Taboão/Campo-Santo chegando... e o que fazer com essas malditas garrafas ?
Oh! horror. Iam pensar que ela estava roubando as garrafas. Ou pior, iam achar que ela estava levando os restos do café para casa. O que fazer: deixar as garrafas no chão, pedir pra colega segurá-las, chamar um táxi, atirar as garrafas para o alto e enfiar a cabeça num buraco na terra, gritar em voz alta: "quem foi que botou essas garrafas aqui ????". Ela não sabia o que fazer. Nessa indecisão, o ônibus veio, parou, abriu a porta, embarcou os passageiros, fechou a porta, arrancou e a nossa infeliz distraída olhando boquiaberta para aquelas 3 garrafas. Ainda se fosse uma só, dava para enganar, mas 3!!!!
O fim da história: Jogou uma capa de chuva sobre os objetos de tanto embaraço, e toca a voltar para a Celepar. Antes de se aproximar, uma rápida olhada para os lados, ninguém podia ver aquele vexame. Ainda bem que era hora de almoço, a empresa estava meio vazia, e ela pôde deixar aquelas coisas no seu destino final: a cantina.
Dizem que, por vingança, durante mais de uma semana, ela passou a tomar chá.