Flagrantes: Esses nomes...
Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro
Este escriba que vos escreve passou os últimos dois anos fora da Empresa. Um belo dia, logo depois do meu retorno, fui apanhado por uma discussão a respeito de pulmões. Era um tal de pega do pulmão 1,... devolvemos quando o pulmão 2 chegar, todo mundo fazendo cara de entendido e eu pensando, afinal, isto é uma empresa de informática ou uma clínica de fumantes? Será que todos não enlouqueceram de vez? E eu sempre tinha ouvido falar em pulmão direito e esquerdo e não 1 e 2. Nunca tive coragem de contar essa história para não passar por trouxa. Agora chegou a meus ouvidos um causo delicioso, que prova que não estou só. Mais alguém se enredou nessa história de pulmão. Então vamos a ele.
Para quem não sabe (e eu só fui descobrir há pouco), faz algum tempo, o Estado se debatia na falta de insumos de informática. Devido a essa escassez premente, a Celepar organizou uma compra global de computadores e impressoras e inspiradamente batizou o projeto de PULMÃO. O nome representava o esforço de dar um pouco de ar aos nossos usuários. Nunca um nome pegou tão bem, e hoje é comum as pessoas do nosso convívio falarem em pulmão pra cá e pulmão prá lá, na maior intimidade.
O problema, como já se verá, está quando esse jargão chega às pessoas que não gozam da nossa intimidade. Eis a cena: regional da Secretaria de Saúde numa cidade do interior do Estado. Uma bela tarde, toca o telefone, uma técnica de saúde atende, e do outro lado, se diz:
- Boa tarde. Aqui é da empresa Fulano de Tal, e estou ligando para agendar uma ida aí com o objetivo de substituir a máquina do pulmão.
Pulmão? Soou meio estranho, mas mesmo assim, algo familiar. Ela não entendeu e especulou mais,
- Como assim, substituir?
- Sim, vamos mandar uma máquina bem melhor, mais rápida e mais potente.
Ora, leitor. Ponha-se na pele da técnica de saúde. Ela sabe bem o que é uma máquina pulmão. Desconversou no telefone e correu pro chefe dela.
- Dr. Cicrano, sabia que vamos receber uma máquina coração-pulmão?
O Dr. Cicrano, não acreditou muito, mas afinal a técnica era ótima profissional, coerente e competente. Na dúvida optou pela técnica do vamos ver...
Enquanto isso a história já corria corredores. Já se divulgava a chegada da máquina e a construção de uma nova ala de pneumologia. Teve até um gaiato (recém ex-fumante) que queria porque queria fazer uma semana sem fumo, como comemoração pela chegada da máquina. Falava-se até em transformar a cidade em centro de referência para transplantes de pulmão...
Assim estavam as coisas no maior agito, quando chegou o dia, o técnico se fez presente, munido de caixas contendo computadores. Acabou aí a troca da máquina do pulmão.
Ficou a lição: Esse pessoal de informática, precisa cuidar quando inventa nomes, principalmente quando se apropria de nomes que já significam outras coisas. Pode dar zebra.
Para encerrar, lembrei-me de um outro causo parecido, acho até que já contei aqui. Numa reunião sobre o sistema RH do Estado, estavam-se discutindo quantos servidores seriam necessários. O pessoal da informática falava em servidor e pensava em computadores de alto desempenho. Mas os usuários ouviam servidor e imaginavam o próprio, em carne e osso. A coisa só foi descoberta quando um mais desavisado perguntou quando ia ser feito o concurso público para contratar o tal servidor...
PS: Esta história é verdadeira como todas. Só desculpem ao autor alguns pequenos floreios como forma de tornar a história mais, digamos, palatável.