Flagrantes: Mas que baita enrascada, tchê
Autor: Paulo Roberto de Mello Miranda - DP
Este "Flagrantes" vem de um leitor, amigo deste mensário de velha data, que já habitou estas páginas na qualidade de vítima. Trata-se de ex-presidente da CELEPAR, a quem o Bate Byte deve um bom pedaço da cara bonita que ele tem hoje.
Vamos ao flagrante:
O fato aconteceu no início dos anos 80, primórdios da automação bancária no Brasil.
Um fabricante de computadores com sede no Rio Grande do Sul vendeu um sistema de automação de agências para a Caixa Econômica Estadual. A primeira agência automatizada foi a de Gravataí, cidade da grande Porto Alegre onde a fábrica estava localizada.
Grandes preparativos, agência reformada, equipamentos instalados, pessoal treinado, Gerente excitadíssimo.
Dia da inauguração: presentes o vice-governador, o prefeito, o presidente da Caixa, o padre e demais autoridades. Alguns discursos inflamados sobre como o Rio Grande estava assumindo a liderança tecnológica mundial e o Gerente fez uma demonstração do funcionamento do sistema.
Aqui cabe uma explicação técnica:
Os micros, na época, eram de oito bits com sistema operacional CPM. O CPM não tinha rotina de proteção contra "crash" do cabeçote de gravação do disco flexível, então, o único meio de armazenamento. Quando a máquina era desligada, freqüentemente o cabeçote aterrizava, destruindo o disco. Para evitar acidentes o fabricante do sistema desenvolveu uma rotina na qual o operador digitava a palavra "desligue", o cabeçote era recolhido e a máquina era desligada sem problemas.
Outra particularidade do CPM era que, quando ele não reconhecia um comando, devolvia a mensagem seguida de uma interrogação, por exemplo: o operador digitava "runn", ele devolvia "runn?".
Voltando à festa de inauguração e ao nosso personagem:
Ao terminar sua demonstração, na frente de todas as autoridades e com maldisfarçado nervosismo, o entusiasmado Gerente digitou "desliga" (no lugar de "desligue"). Então, aconteceu a seguinte cena:
O Gerente digitou: DESLIGA
O micro devolveu: DESLIGA?
O Gerente respondeu embaraçado: SIM
O micro devolveu: SIM?
O Gerente, já nervoso, mas com firmeza, tentou: YES
O micro devolveu: YES?
O Gerente, perdendo a paciência e procurando retomar o controle da situação, digitou: DESLIGUE ESTA MERDA!
Reconhecendo o comando DESLIGUE, o micro encerrou o processamento.
Nosso Gerente, aliviado, voltou-se para a platéia que pouco entendia aquele diálogo e disparou, com ar vitorioso: "Às vezes temos que ser enérgicos com estas maquininhas".