Flagrantes: O Leão, ora o Leão...

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

No mês passado, estávamos todos zanzando que nem baratas depois de um jato de inseticida mortal. O motivo só podia ser aquele: entregar a declaração do IR no prazo. Como bons brasileiros, já havia até uma bolsa de apostas se a Receita adiaria ou não o prazo (e diga-se que as apostas pelo adiamento eram bem mais altas). No fim, ele não aconteceu. Aliás, de parabéns a Receita: este não será um país sério, enquanto prazos e regras forem estabelecidos para serem descumpridos logo adiante. Não que gostemos de pagar impostos, ninguém gosta, mas como já dizia Mark Twain: "só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos". Portanto, relaxemos e vivamos.

Pois, voltando ao causo, num certo departamento da Celepar, na véspera do prazo fatídico, só se falava, ouvia e discutia IR. Sempre tem uns mais gargantas que se vangloriam de suas façanhas contábeis, enquanto outros lamentam, lamentam e lamentam a quantidade de reaizinhos que vão para a goela do felino.

Uma colega, moça encantadora, já tendo feito sua declaração, só observava ao redor. Mas, ao ouvir de um "vou receber 800 reais", e de outro "consegui arrancar míseros 150 reais das garras do leão" e de mais outro "esse bicho me paga...", começou a ficar nervosa.

— Por que todos podem receber de volta uns trocados e eu não?

Tomada a decisão de reverter o quadro, foi arregimentando colegas querendo montar uma bateria de experts em tributação para ver o que era possível modificar na própria declaração de renda e poder receber, nem que fossem 2 ou 3 míseros reais.

Como todos gostam dessa colega, logo o grupo ficou bem fornido. Tinha um formado em ciências contábeis, um tributarista de quatro costados, dois analistas responsáveis pelos sistemas de tributação do Estado e mais uns dois ou três perus girando por ali para ver no que ia dar.

— Traga todos seus documentos.
— Não esqueça os comprovantes.
— Declarações dos últimos 5 anos.
— Não esqueceu nada ?
— Nadinha. Está tudo aqui.
— O comitê está reunido. Responsável pelos rendimentos ?
— Presente !
— Responsável pelos abatimentos ?
— Presente !
— Responsáveis pelas pirotecnias tributarícias ?
— Presente, Presente e Presente !
— Então vamos lá, disse o colega mais experiente, já assumindo a coordenação dos trabalhos e esfregando as mãos de contentamento. O Leão ia levar uma sova. Muito bem, vejamos quanto é possível pegar de volta. Quanto você recolheu na fonte ?

Nada.

A reunião acabou aí. Não houve como passar a perna no gatão.