Flagrantes: O Suicídio que não deu Certo
Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro- GAC
Paul Wolfskehl, um industrial alemão, filho de uma família muito rica, viveu na Alemanha no final do século retrasado (o 19). Era uma família esclarecida, amante das artes e das ciências. Quando estudante, Paul estudou matemática graduando-se nesta disciplina. Não foi nenhum grande matemático, nem fêz colaborações duradouras, mas a história guarda o seu nome devido a um suicídio mal sucedido.
A história começa quando Paul apaixonou-se por uma misteriosa mulher (que devia ser casada, não se sabe), e deu em cima dela durante um bom tempo. A mulher se fez de rogada, negaceou, até que um dia o Paul deu o ultimatum: como é que é isso, é namoro ou amizade? A mulher, diante da opção, disse-lhe que não queria saber dele, que a esquecesse, ela estava em outra.
Desesperado, Paul resolveu acabar com a própria vida. Mas como industrial e homem cheio de responsabilidades (e como alemão que era), resolveu botar suas coisas em ordem antes de cometer o gesto fatal. Organizado, estimou o tempo que gastaria e marcou: mato-me na sexta-feira à 1/2 noite.
Já atrasado para a carga de serviço que o esperava, arregaçou mangas e começou a trabalhar: despacho de assuntos pendentes, cartas aos amigos e parentes, instruções nas empresas, ufa que canseira! Tanto se agilizou que todas as tarefas estavam concluídas lá pelas 22h de sexta-feira. Sendo metódico, jamais lhe ocorreu adiantar a "tarefa" em duas horas: havia que esperar.
Não tendo nada melhor para fazer, foi para a sua biblioteca e começou a folhear alguns livros: caiu-lhe em mãos um livro de Ernst Kummer, outro alemão que estudara por muito tempo o célebre último teorema de Fermat. (*) Demonstrar este teorema era uma obsessão, e muita gente boa já havia fracassado: Euler, Gauss, Dirichlet, Legendre, Lamé, Germain, Cauchy, e o próprio Kummer. Lendo o livro, Paul Wolfskehl começou a ficar mais e mais envolvido com o tema, até que ele julgou achar um erro no texto de Kummer. Será que ele demonstraria o célebre teorema? Freneticamente Wolfskehl escrevia e pensava e escrevia. Horas mais tarde, um desanimado Paul conclui que Kummer estava certo, aquela abordagem que ele usara era inconclusiva, o teorema seguia sem ser demonstrado.
Mas, tendo ouvido o piar de um passarinho, olhou pela janela e viu o sol nascendo. Passara-se a hora fatídica de meia-noite e ele esquecera o suicídio. Tendo chegado até a manhã seguinte, Paul Wolfskehl concluiu que aquela mulher não era tão boa assim, no fundo era uma boa bisca e não valia a pena se suicidar por ela. Rasgou cartas e instruções e foi tomar um reforçado café da manhã.
Quando muitos anos depois, em 1908, Paul Wolfskehl morreu (de velhice) a família levou um susto: ao abrir o testamento dele, havia instruções expressas de separar 100.000 marcos da fortuna e destinar esse dinheiro como um prêmio a quem conseguisse demonstrar o teorema. Nas palavras do falecido, era o agradecimento ao teorema que lhe salvara a vida.
O prêmio foi entregue no ano retrasado a um inglês, Andrew Willes, que tendo conhecido esta historinha aos 10 anos de idade, obcecou-se pelo assunto e dedicou os 28 anos seguintes a tentar demonstrar o tal teorema. Sua demonstração, já considerada correta, tem cerca de 210 páginas de texto, não sendo portanto nem parecida com aquela que teria sido descoberta por Fermat. Será que foi um blefe? nunca saberemos.
(*) Fermat, um advogado francês do século XVII, conhecido como "Princípe dos Matemáticos", pois só se dedicou à matemática de maneira amadora, gostava de resolver enigmas, e era bom nisso. Quando morreu, seu filho, remexendo nas coisas dele, encontrou um exemplar de um livro de Diofante de Alexandria (um matemático grego). O autor grego afirmava desconfiar que dada a expressão xc + yn = zn, não haveria números reais x, y e z, para os quais a expressão pudesse ser verdadeira, se n fosse maior do que 2. Quando n = 2 é o próprio Teorema de Pitágoras que aí está. Com a letra miudinha de Fermat, escrito no próprio livro ao lado do texto, havia a observação: Diofante está certo. Eu mesmo tenho uma demonstração maravilhosa da veracidade desta afirmação, mas esta margem é muito estreita para contê-la. Quando isto foi divulgado, os matemáticos começaram a procurar a demonstração. Pistas não havia, e Fermat já era morto. Para saber o que aconteceu a seguir, volte ao texto.
Paul Wolfskehl, um industrial alemão, filho de uma família muito rica, viveu na Alemanha no final do século retrasado (o 19). Era uma família esclarecida, amante das artes e das ciências. Quando estudante, Paul estudou matemática graduando-se nesta disciplina. Não foi nenhum grande matemático, nem fêz colaborações duradouras, mas a história guarda o seu nome devido a um suicídio mal sucedido.
A história começa quando Paul apaixonou-se por uma misteriosa mulher (que devia ser casada, não se sabe), e deu em cima dela durante um bom tempo. A mulher se fez de rogada, negaceou, até que um dia o Paul deu o ultimatum: como é que é isso, é namoro ou amizade? A mulher, diante da opção, disse-lhe que não queria saber dele, que a esquecesse, ela estava em outra.
Desesperado, Paul resolveu acabar com a própria vida. Mas como industrial e homem cheio de responsabilidades (e como alemão que era), resolveu botar suas coisas em ordem antes de cometer o gesto fatal. Organizado, estimou o tempo que gastaria e marcou: mato-me na sexta-feira à 1/2 noite.
Já atrasado para a carga de serviço que o esperava, arregaçou mangas e começou a trabalhar: despacho de assuntos pendentes, cartas aos amigos e parentes, instruções nas empresas, ufa que canseira! Tanto se agilizou que todas as tarefas estavam concluídas lá pelas 22h de sexta-feira. Sendo metódico, jamais lhe ocorreu adiantar a "tarefa" em duas horas: havia que esperar.
Não tendo nada melhor para fazer, foi para a sua biblioteca e começou a folhear alguns livros: caiu-lhe em mãos um livro de Ernst Kummer, outro alemão que estudara por muito tempo o célebre último teorema de Fermat. (*) Demonstrar este teorema era uma obsessão, e muita gente boa já havia fracassado: Euler, Gauss, Dirichlet, Legendre, Lamé, Germain, Cauchy, e o próprio Kummer. Lendo o livro, Paul Wolfskehl começou a ficar mais e mais envolvido com o tema, até que ele julgou achar um erro no texto de Kummer. Será que ele demonstraria o célebre teorema? Freneticamente Wolfskehl escrevia e pensava e escrevia. Horas mais tarde, um desanimado Paul conclui que Kummer estava certo, aquela abordagem que ele usara era inconclusiva, o teorema seguia sem ser demonstrado.
Mas, tendo ouvido o piar de um passarinho, olhou pela janela e viu o sol nascendo. Passara-se a hora fatídica de meia-noite e ele esquecera o suicídio. Tendo chegado até a manhã seguinte, Paul Wolfskehl concluiu que aquela mulher não era tão boa assim, no fundo era uma boa bisca e não valia a pena se suicidar por ela. Rasgou cartas e instruções e foi tomar um reforçado café da manhã.
Quando muitos anos depois, em 1908, Paul Wolfskehl morreu (de velhice) a família levou um susto: ao abrir o testamento dele, havia instruções expressas de separar 100.000 marcos da fortuna e destinar esse dinheiro como um prêmio a quem conseguisse demonstrar o teorema. Nas palavras do falecido, era o agradecimento ao teorema que lhe salvara a vida.
O prêmio foi entregue no ano retrasado a um inglês, Andrew Willes, que tendo conhecido esta historinha aos 10 anos de idade, obcecou-se pelo assunto e dedicou os 28 anos seguintes a tentar demonstrar o tal teorema. Sua demonstração, já considerada correta, tem cerca de 210 páginas de texto, não sendo portanto nem parecida com aquela que teria sido descoberta por Fermat. Será que foi um blefe? nunca saberemos.
(*) Fermat, um advogado francês do século XVII, conhecido como "Princípe dos Matemáticos", pois só se dedicou à matemática de maneira amadora, gostava de resolver enigmas, e era bom nisso. Quando morreu, seu filho, remexendo nas coisas dele, encontrou um exemplar de um livro de Diofante de Alexandria (um matemático grego). O autor grego afirmava desconfiar que dada a expressão xc + yn = zn, não haveria números reais x, y e z, para os quais a expressão pudesse ser verdadeira, se n fosse maior do que 2. Quando n = 2 é o próprio Teorema de Pitágoras que aí está. Com a letra miudinha de Fermat, escrito no próprio livro ao lado do texto, havia a observação: Diofante está certo. Eu mesmo tenho uma demonstração maravilhosa da veracidade desta afirmação, mas esta margem é muito estreita para contê-la. Quando isto foi divulgado, os matemáticos começaram a procurar a demonstração. Pistas não havia, e Fermat já era morto. Para saber o que aconteceu a seguir, volte ao texto.