Flagrantes: O velho Gamma 30
Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro
Hoje, vamos variar um pouco. Ao invés de falar de nossos colegas - que tem sido a matéria-prima desta coluna, vamos mudar e falar dele: o computador. (Pensando bem, também dá pra chamá-lo de colega, será que não ?). Pois vai se contar aqui a história do Bull Gamma 30, o primeiro computador da Celepar. Comprado em 1964 e instalado em 1965, era uma tralha e tanto.
Embora a última palavra da época, só o processador tinha o tamanho de um container (desses de navio) e tudo isso para conter a enormidade de 20.000 posições de memória. Disco, nem pensar, isso só foi aparecer em meados dos anos 70. Aliás, pausa para reminiscências... O primeiro disco que a Celepar teve era um IBM 2311, cuja unidade era maior que um fusca e que tinha a enorme capacidade de 7 Megabytes. Fim da reminiscência... Voltando ao Gamma 30. Fitas, tinha um monte. A classificação do arquivo de funcionários públicos (a primeira - e durante alguns anos praticamente a única - aplicação da Celepar) levava 7 horas para se executar, pois a área de trabalho para classificação era também em fita magnética. Do que se valiam os operadores da madrugada para ir dar uma dançadinha nos bailecos promovidos pela sociedade Cruzeiro do Sul, nossa antiga vizinha aqui na Mateus Leme. Eles só tinham que voltar às 2:00, 3:30 e 5:00, para trocar os rolos de fita das unidades. No resto do tempo a máquina trabalhava sozinha, vejam como ela era inteligente! Agora, uma coisa ninguém pode negar: ela era muito mais bonita e impressionante que esses modernos mainframes que mais parecem freezers de cerveja. Tinha centenas, centenas não, milhares de luzinhas que não paravam de piscar. Pensando bem, elas eram meio inúteis, mas que eram bonitas eram. A sociedade então, também estava maravilhada com o progresso da técnica e modernização da coisa pública. A prova disso é que alguns dias depois da inauguração do computador (naquele tempo computador se inaugurava, com discursos e foguetório, podem crer) aqui se apresentou um repórter de um tradicional jornal de Curitiba (não posso contar o nome do jornal, seria baixaria) querendo... "entrevistar o cérebro eletrônico". Devíamos ter deixado, ou melhor ainda, ter aprontado alguma, pro pobre coitado, a história teria sido bem mais saborosa. O fato é verídico, e mostra o grau de desinformação da época, ou pensando melhor mostra o ritmo frenético de mudança da nossa vidinha nesses últimos 40 anos.
Os anos se passaram, a máquina se obsoletou (depois de mais de 8 anos de valorosos serviços prestados, ninguém pode negar) e caiu em nossas mãos o abacaxi: o que fazer com a tralha ? Jogar fora, nem pensar, quem haveria de ter coragem ? O caso é que ele foi desmontado e cuidadosamente guardado embaixo da escada que dá acesso ao pavimento superior da sede. E lá ficou anos e anos, guardando pó, e servindo de abrigo para seres rastejantes, os populares "bugs". Aliás, um bom lugar pros "bugs" ficarem é dentro de um computador, não é? Passam os anos, e ninguém mais agüentava aquela velharia encostada, mas coragem pra jogar fora, ninguém tinha ainda. Lá por 76, 77, finalmente a traquitana desapareceu. Não sei o que aconteceu, mas certamente, junto com ela foi uma parte da nossa história.