Flagrantes: Telefoneprocessamento

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro


Contam os anais desta casa que o primeiro sistema em teleprocessamento começou a funcionar nos idos de 1977. Era um sistema de consultas a informações estatísticas (o avô do BDE) chamado Sistema de Informações Estatísticas.

Toda nossa imensa rede de TP era composta por um terminal no Palácio do Iguaçu e um terminal e uma impressora na sede do Depto. Estadual de Estatística, na esquina da Barão do Rio Branco com Mal. Deodoro.

O monitor de teleprocessamento era um software chamado ENTRY ENVIRON 1, do qual graças a Deus nunca mais se ouviu falar. Sua linguagem era o TEBOL, um dialeto meio caipira do COBLO. Por exemplo, se a frase "nós todos vamos passear no bosque" fosse escrita em COBOL, em TEBOL seria "nóis tudo fumo passeá inté lá fora, óxente!".
O programa de consulta tinha uma lógica e tanto: ele pedia ao operador o código de um registro, lia o código no terminal, e consultava um (um só) arquivo magnético para achar um (um só) registro. Se achasse, mostrava o valor, e se não achava dava a mensagem "REGISTRO INEXISTENTE".

Qualquer programa NATURAL hoje gastaria umas 20 linhas para codificar este programa e demoraria uns 10 minutos na sua projeção, codificação e implementação. Mas, os tempos eram outros, e o programa foi orçado em 1200 horas de programação. Oito meses depois, quando ele finalmente ficou pronto, vimos ter gasto mais de 2000 horas no aprendizado e depuração do ambiente.

Mas, o que vai se narrar aqui é uma experiência prévia de processamento via comunicação de dados que ocorreu em 72/73, ao mesmo tempo em que a NASA e o Depto. de Defesa americano faziam suas experiências de transmissão de dados.

Foi assim: certo analista (aliás freqüentador freqüente desta coluna), estava terminando a implantação de um sistema de folha. Ele usava as ferramentas de ponta da época: os programas eram feitos em Assembler. Se aproximava o fim do ano, a implantação atrasada, e a família planejando viajar nas férias. E as férias chegando, e nada do programa funcionar (antes de rir, leitor, experimente escrever um programa de cálculo de folha em Assembler).

E pressão dos dois lados: a família querendo viajar, o cliente querendo o sistema, e...nada. Diante deste dilema, nosso personagem pensou analiticamente (não era à toa que ele tem por profissão a análise de sistemas), e achou a seguinte saída:

Viajou com uma grossa listagem do programa. Toda vez que o programa desse chabu, o vice-analista que ficou ligaria para ele, passando o endereço de memória e o código do erro. Lá no Rio de Janeiro, o analista titular olharia o programa, projetaria os REPS (replaces ou modificações diretamente no código objeto), e meia hora depois repassaria por telefone as alterações.

Pois não é que funciona? Foram 6 ou 7 telefonemas no mês e, na volta dele, o programa estava redondinho, como aliás está até hoje.