III Concurso Interno de Redação

O talento de Popó, Dolores Rosquinha e Jeremias está presente nesta edição do Bate Byte. Na realidade, eles foram os vencedores do III Concurso Interno de Redação, promovido em homenagem aos 29 anos da CELEPAR e aos 19 anos da FUNCEL. que teve como tema "As tecnologias de informática e informação e o cidadão do terceiro milênio".

Para julgar os sete trabalhos inscritos, a direção da empresa convidou lara Bereza da Silva (DT), Marisa Terezinha Buzetti (GES) e Olga Maria Soares da Costa (DIDOB) que chegaram ao seguinte resultado:

1. lugar: Pedro Luís Kantek Garcia Navarro (GPT)

2. lugar: Jair Fernandes (GPS)

3. lugar: José Francisco Marochi Mayer (ASTEC)

As outras redações foram dos empregados: Celso Lincoln Mendes (SEDIR), Maria das Graças Soares (GPS), Roseli Klisievicz (DIATP) e Valter Luis Cordeiro (SEDIR).

Devido ao número reduzido de inscrições no concurso, este ano não será publicado o livreto com a coletânea dos trabalhos apresentados.

1. LUGAR: O PESADELO

Acordou preocupado e ao mesmo tempo excitado, se é que é possível. A voz ele eletrônica-boçal-cibernética dizia "bom dia senhor, espero que tenha um bom dia, ... bom dia senhor, espero..."

É precisava reprogramar o computador para mudar esse bla-bla-bla todo. Que tal ser acordado por uma cachoeira cristalina e seus passarinhos cantando? Um caso a ser pensado. Trabalharia nisso depois.

Após um banho rápido, chegou à cozinha. A cafeteira eletrônica estava terminando de passar o café, e a FACEL (fazedora de comida eletrônica. último modelo, de 64 bits e 48 megabytes de memória - este o novo nome para o prosaico fogão de outras eras) dizia "seu ovo foi cozido 2 minutos e 16 segundos, bom apetite senhor".

Levemente irritado com tamanha intimidade da máquina (de todas as máquinas) provou o café, e pensou "está bom, mas não como o café que mamãe fazia". Será que ele de fato tinha saudade do café, ou será que suspirava pelos seus 8 anos - idade em que tudo é possível e está por ser feito - e de mamãe acordando-o com um beijo e um passe livre para a vida? Nem ele sabia.

Entrou no carro, e digitou a senha para ligá-lo. Chaves eram coisas do passado. Esquecido como era, nunca mais as perdeu na hora da pressa "que bom, este progresso é maravilhoso". É bem verdade, que as vezes esquecia a senha, e aí, era uma chateação. tinha que ligar para o fabricante do carro, mas que droga, nem tudo é perfeito.

O (computador do) carro falou "bom dia senhor" e aquela irritação inicial foi crescendo, junto com uma dorzinha de cabeça, tão miúda quanto presente, se fazendo notar a todo instante.

Ao chegar ao emprego e entrar na sua sala. a porta falou (sim, hoje até as portas falam) "bom dia senhor, seja bemvindo". Basta! Não estava disposto a gastar sua saliva (mental) tagarelando com longínquos softwares que ainda por cima cheios de sotaque estavam. A sua temperatura interna começou a aumentar. Não adiantava medir com termômetro, não era febre, era sim uma raiva surda contra a mecanização de tudo na vida. Cadê a poesia? (podia comprar uma FAPEL - fazedora de poesias eletrônicas,... mas nem pensar) Cadê as pessoas e o diálogo humano (fazia três semanas, que ele e o seu chefe se falavam pelo correio eletrônico, e isso que a distância entre as duas salas era menor que 20m).

Chega!

Chamou sua namorada pelo telefone multimídia (visão, audição, tato e cheiro tudo num pacote só - ainda não havia gosto, mas a indústria trabalhava febrilmente nisso) e perguntou: "quer fugir comigo?"

"Mas aonde vamos?" quis ela saber. "Não importa, bem longe onde não haja máquinas". Tá certo que ela não era lá muito fanática por aquelas máquinas metidas a besta, mas viver sem elas? Como há de?

Mas, confiava no namorado. Ainda ontem, mandara seu programa de análise de pessoas estudar o namorado (sem ele saber, é claro) e a resposta foi clara: índice de confiabilidade maior do que 82% - era um bom índice.

0 caso é que os dois fugiram. Venderam tudo a preço de computador (banana era cara, nessa época), deram-se as mãos, compraram um pequeno barquinho e foram para o Pacífico sul.

Existe unia ilha lá, que se colocada no centro de um mapa mundi redondo, só deixará ver água por todos os lados. Longe de tudo e de todos. É essa mesma que eles (mais ele do que ela. é verdade) queriam.

Foi uma viagem linda, o mar, as gaivotas, o amor entre os dois, e nada de computador um paraíso.

Um dia chegaram lá. Alegria. festa, "vamos começar uma nova civilização, você vai ser minha Sexta-Feira", pensou, "e bem mais atraente que o original". Pegou-a no colo, de maneira romântica. para atravessar o quebra mar e depositá-la na praia. O vento, as palmeiras, tudo idílico e perfeito.

Pensando com seus botões "finalmente livre das malditas máquinas" chegou na areia seca e apoiou-se numa pedra para não cair. E ouviu, mais que com os ouvidos, com todas as células do corpo "bom dia senhor, cuidado coma areia, está quente".

Pseudônimo: Popó

2. LUGAR: O CHIP E A MARTA ROCHA

Em 1954, Marta Rocha, nossa mais famosa miss, perdeu o concurso de mulher mais bela do mundo. Diz a lenda que os juizes viram alguns "pneuzinhos", até hoje contestados. Numa dessas terríveis ironias do destino, nossa miss foi premiada com o nome de uma deliciosa torta e, talvez, motivo dessas gordurinhas excessivas. O fato é que com o tempo a culinária assim como a informática, vem evoluindo em proporções colossais. No entanto, o que alguém jamais imaginaria, seria a existência de unia relação entre duas ciências tão antagônicas.

Dolores Rosquinha nunca preocupou-se com padrões de beleza. Era uma mulher negra de estatura convencional e obesidade incontrolável. Dona de um apetite devastador, era capaz de devorar alguns pratos em questão de segundos. Jamais esquecera o dia em que foi arrastada por policiais até a penitenciária. Desse episódio nascera seu quarto filho. Nunca confessou, mas havia levado algumas jóias e porcelanas de sua patroa. Adorava brincar com pimpolhos, as vezes. ficava horas brincando e contando lorotas para os filhos das madames. Mas tinha uma mania incompreendida: um desejo incontrolável por biscoitos. Era ver uma rosquinha ao alcance dos olhos e seu faminto instinto animal mal falava mais alto. Certo dia foi parar na casa de um famoso consultor eletrônico: um homem barbudo, cabelos esvoaçados e expressão lunar. Desligado, não se dava conta que alguns chips levados esporadicamente para casa, sumiam sucessivamente. No afã de um suculento biscoito, Dolores degustava aquelas pastilhas com ardor juvenil.

O chip (espécie de cérebro eletrônico em forma de pastilha) acabou recebendo o nome de Dolores Rosquinha - uma homenagem a pessoa que descobriu suas propriedades alimentícias. Feito a base de neutrinos interligados com fibras de cereais, essa pastilha tornou-se uma revolução na indústria eletrônica. Três características foram decisivas para o sucesso de dolores rosquinha: facilmente produzido, preço baixíssimo e, finalmente, uma velocidade de processamento espantosa. A descoberta foi feita pelo instituto paranaense de prospecção tecnológica - um antigo órgão da CELEPAR que desvinculou-se tornando-se uma empresa respeitada no mundo eletrônico.

Mais tarde descobriu-se que uma simples pastilha era capaz de manter unia pessoa bem alimentada por dias e dias. 0 clima ferveu. A indústria alimentícia protestou, argumentando que iria a falência na hipótese de comercialização do produto. Fortes pressões também vieram de empresários donos de restaurantes que temiam prejuízos astronômicos. Algumas lojas e departamentos foram invadidas por esfomeados a procura do chip. Grupos de intelectuais, aliados a líderes sindicais organizaram manifestações pedindo produção em larga escala e distribuição nas periferias das grandes cidades onde o problema da fome estava caótico. O ministério da saúde iniciou campanha advertindo que o chip poderia ser prejudicial a saúde, a cautela fazia-se necessária, pois temiam efeitos colaterais. Demais entidades governamentais, indecisas, trocavam informações desencontradas.

O panorama só melhorou mesmo com o misterioso falecimento de Dolores Rosquinha. Alguns atribuíram ao chip, mas até hoje não se sabe ao certo a causa real de sua morte. O quinto e último filho, ainda bebê quando a mãe falecem tomou-se um grande matemático conhecido no mundo todo. Um criolo com notável habilidade para cálculos matemáticos. Os demais, morreram todos em entreveros com policiais.

Essa história toda poderia parecer obra de ficção, não fosse o realismo de nosso quadro social. Marta Rocha e Do Dolores Rosquinha são representantes de duas searas distintas da sociedade onde as diferenças sociais parecem alheias ao avanço tecnológico. Uma estranha força indestrutível movimenta esse paradoxo pelas ladeiras da história. o ser humano evolui em proporções gigantescas na esfera tecnológica e, no entanto, os problemas sociais parecem ignorar os galopes do tempo. A informática rio futuro, sem a menor sombra de dúvida. estará em patamares elevadíssimos! Agora, o cidadão do futuro será o mesmo cidadão faminto do primeiro, segundo, terceiro, ... milênio.

Pseudônimo: Dolores Rosquinha

3. LUGAR: UM DIA NO AMANHA

As cortinas começam a se abrir lentamente. Os raios de sol. pouco a pouco. invadem o quarto e o perfume das flores silvestres tateiam cada milímetro.

- Bom dia Revel. Espero que esta manhã esteja agradável.

- Ora você já está comigo a tanto tempo ... cada manhã é unia redescoberta de prazer. 0 que você preparou para o café da manhã?

- Temos mamão liofilizado, cápsulas de vitamina C, água bidestilada, e para relembrar os velhos tempos, alguns cereais instantâneos.

- Perfeito novamente, não sei o que faria sem você.

- Ah, não esqueça de seu compromisso as 9 horas, a reunião semanal com os representantes das empresas de informações

- Obrigado MICO.

- Sua esposa deixou um recado. Quer vê- lo agora?

- Sim. enquanto isso ligue-me com Makrós. Vou tomar meu café!

Assim é o dia do amanhã. Cada recinto da casa provido de dispositivos planos, pendurados nas paredes como quadros, onde literalmente a paisagem não é morta. MICO Monitor Interativo de Comunicação - é o responsável por tudo. Desde o preparo de um amanhecer especial, a despeito do mau tempo lá fora, até o balanceamento da alimentação.

Através dele a reunião semanal se passará em qualquer aposento que Reyel deseje. Na parede aparecerão todos aqueles que participam da reunião. Quando for necessário apresentar gráficos, MICOsoft se encarregará de apresentar. Para discutir aquela peça especial do veículo de transporte, sem problemas, todos verão uma forma holográfica e através de suas luvas, quase imperceptíveis de tão finas, irias, poderão tocar nas imagens, alterar sua forma e avaliar os impactos da mudança.

Hora de fazer as compras? Reyel pergunta, onde posso encontrar o melhor preço para um taco de golfe virtual? A resposta virá imediatamente na tela, lojas virtuais, com seus preços, condições de pagamento,...

Basta fazer a escolha e providenciar o pagamento. Cartão de crédito, cheque, "cash"? Nada disso. Apenas dinheiro eletrônico, circulando a velocidades incalculáveis, através de ondas pelo ar. A moeda tomou-se mundial, o "sólar", forte e estável. Apenas alguns pequenos países ainda não se utilizam dela.

Está na hora de ir ao clube.

Reyel se encaminha para o repositório de veículos de transporte e comanda:

- Abra a porta!

O veículo de transporte se eleva até a altura previamente programada para dar mais conforto à entrada de Reyel. Através de seu MICO de bordo ele visualiza os canais de transporte que estão abertos naquele momento. Seleciona um e comanda novamente:

7 ao Clube, canal 0302.

Na verdade ele poderia ter deixado por conta de MICO. mas ainda prefere ter a sensação de que está no comando.

Até o clube são 30 minutos. afinal os clubes de campo ficam todos no Brasil, e de Nova lorque até lá ele aproveita para ver as notícias, ou, melhor dizendo, ver, ouvir, tocar, ...

No clube, encontra os amigos, mas logo precisa interromper o bate papo agradável pois seu MICO de pulso apresenta uma tela holográfica onde aparece a diretora da escola informando da apresentação de seus filhos ... ele aproveita para ver suas avaliações.

De volta para casa. após duas horas de extenuante Golfe, encontra seus filhos.

Aídan. sua filha mais velha. acaba de ver seu balé predileto e prepara seus óculos de estudo para a tarefa de casa, sua lição de química, previamente comunicada ao MICO por sua escola.

Seu filho Matékos, um saudosista. assiste velhas corridas de motos (aqueles veículos inseguros e poluentes de outrora).

Assim que Márkya, sua esposa, chega eles resolvem fazer um programa juntos e partem com seus filhos para urna refeição fora, desta vez ao estilo antigo com direito a garfo e faca.

Assim, mais um dia do futuro transcorre quase infindável.

Após verificar que todos se encontram em casa e estão bem, MICO bloqueia as entradas e saídas. Na próxima fração de segundos programa o dia seguinte.
Boa noite MICO.

Pseudônimo: Jeremias