A Informática e o Século 21

Autor: Paulo Alcion de Oliveira - DITEC-E
A tecnologia de informação e as tendências empresariais que influenciarão a sociedade na virada do século, transformarão a organização das empresas, principalmente sob o ponto de vista de processos administrativos e sistemas de informação. A administração empresarial como originadora e beneficiária destas tendências, e a tecnologia de informação como viabilizadora.

Este trabalho relata um resumo dos debates mantidos no seminário "A Informática e o Século 21" ocorrido em 10 e 11/11/94 em São Paulo, patrocinado pela FUJITSU do Brasil, reunindo especialistas em várias áreas de atuação, coordenado por José Ernesto lima Gonçalves, Consultor Empresarial e Professor da FGV.

Introdução

Os temas debatidos no seminário procuraram dar uma visão geral de quais as tendências da informática para os próximos anos. Assuntos como organização das empresas, avanços tecnológicos, aspectos humanos e outros, foram debatidos e servem como útil material de referência na adoção de medidas que visem a adaptação da empresa aos novos requisitos da realidade. A necessidade de mudança do modelo da empresa deve procurar subsídios na experiência vivenciada pela comunidade de informática, procurando sempre as melhores alternativas de solução.

A seguir será relatado um resumo das palestras proferidas por especialistas, especialmente convidados, com intuito de procurar prever qual o futuro da informática.

Esclarecemos que todo o material distribuído no seminário foi enviado a DIDOB, ficando à disposição para eventuais consultas.

Perspectivas tecnológicas para a virada do século

Palestrante: Ethevaldo Siqueira, Professor da USP e Diretor da Revista Nacional de Telecomunicações - RNT.

Demonstra que as perspectivas apontam para soluções que integrem a tecnologia da informação, as potencialidades do hardware e as possibilidades das redes de comunicação.

A tecnologia da informação aponta para soluções em processamento distribuído, baseada em arquitetura cliente/servidor. A contínua redução de custos de hardware (para se armazenar 1 Mb em memória/mês custava, em 1956, 130 dólares, atualmente custa, 0,01 dólar) garante a possibilidade de uso máximo de equipamentos gráficos que permitam a construção de soluções multimídia. Com relação a redes de comunicação, comenta que pesados investimentos estão sendo feitos na área de telecomunicações, principalmente no lançamento de novos satélites, na telefonia celular, em redes digitais, na padronização a nível mundial da televisão de alta definição, vídeo-conferência, etc. Permitirá que novos serviços e produtos sejam lançados futuramente, com um custo compatível com as necessidades.

A Corporação do Ano 2000

Palestrante: Cassio Dreyfuss, Consultor em Tecnologia da Informação e Diretor da ORIGIN C&P - Technology in Business.

Procura delinear o perfil da organização tradicional, a nível de pressupostos e características, baseada em uma estrutura pesada e rígida, com foco interno e com especialização funcional por área, de acordo com um ambiente externo bastante estável. A crise se instala quando o ambiente apresenta mudanças intensas e constantes, aumento das exigências dos clientes e multiplica-se a concorrência. Neste momento, sinais de colapso começam a surgir, tais como: resultados irregulares, prejuízos inesperados, aumento nos controles e na burocracia e pessoas insatisfeitas.

Sugere que a nova organização tenha como foco o cliente, o mercado e o ambiente, com as suas atividades concentradas nos negócios e uma estrutura dinâmica e flexível. A forma de atuação sugere grupos com atribuições amplas, com trabalho enriquecido e com autonomia, com ênfase na coordenação.

Estabelece que a transição para a nova organização deve buscar uma nova definição, onde a organização repensa o seu negócio; um novo desenho, onde o ambiente define suas características; e uma nova visão, com foco nos resultados conduzidos por uma visão por processos.

Tecnologia de Informação - Cenários e Tendências

Palestrante: Fernando de Souza Meirelles, Professor e Chefe do Departamento de Informática e Métodos Quantitativos da FGV, Coordenador do Centro de Informática Aplicada da FGV e Diretor da Ehrlich & Meirelles Consultoria.

Destaca as evoluções tecnológicas, onde se evidencia o valor da informação, provocando o uso crescente de computadores pelas organizações, mas ressalva que os recursos de informática continuam pouco explorados, isto verificado pelo pequeno grau de informatização de muitas empresas, pela lenta penetração da cultura do computador como ferramenta de trabalho e pela não utilização do mesmo como agente responsável pelas transformações na sociedade da informação.

Através de várias estatísticas demonstra a evolução da utilização, a nível mundial e nacional, dos recursos de informática, destacando custos, emprego de mão-de-obra, efeitos da informatização, etc. Estatisticamente delineia a evolução do uso de microcomputadores pelas empresas nacionais, a nível de hardware e software, destacando a utilização de aplicativos DOS e WINDOWS.

A partir destas estatísticas estabelece algumas tendências para o Hardware, ou seja:

  • o custo tende a zero, pois diminui 30% ao ano;
  • capacidade tende ao infinito, pois aumenta 30% ao ano;
  • equipamentos, já são tão pequenos quanto se deseje; a limitação é ergonométrica e não tecnológica;
  • o hardware está à frente do software, que por sua vez está à frente do usuário, fazendo com que o potencial inexplorado seja muito grande.

Já para o Software, estabelece as seguintes tendências:

  • aplicativos cada vez mais complexos internamente, para facilitar o uso e oferecer mais recursos, exigindo maior demanda de hardware para processá-los;
  • software mais versátil e fácil de usar - ajuda e manual inteligentes e on-line, com capacidade de ensino do próprio aplicativo, de análise de dúvidas e aprendizado de tarefas repetitivas;
  • distribuição eletrônica de aplicativos inclusive documentação, manual e auto-instrução, onde toda a linha de produtos estaria disponível em um servidor, bastando instalar e pagar após algum tempo ou distribuição por meio eletrônico por comunicação ou meio físico - como um CD-ROM;
  • crescente preocupação com interface homem-máquina, com três vertentes: padronização do interface - por modelo ou família de equipamentos, múltiplas formas de interfaces - diferentes visualizações/utilização ou formas diferentes de realizar a mesma tarefa e fusão de linguagens;
  • utilização de inteligência artificial, com melhoria de compreensão, tradução, utilização de voz e outros;
  • maior utilização de informações digitalizadas, com uso de tecnologias convergentes.

Arquitetura Cliente/Servidor e a Organização

Palestrante: Sérgio de Oliveira Dázio, da ORACLE.

Destaca alguns modelos de implementação, apresentando as várias camadas de uma aplicação cliente/servidor. Define os componentes de cada camada e examina as vantagens e desvantagens da distribuição destas camadas entre o servidor e o cliente.

Detalha os vários passos para a adoção de solução, estabelecendo uma útil metodologia para a construção de aplicações nesta arquitetura.

Estabelece os principais desafios que a organização deve enfrentar para a construção eficiente de aplicativos em arquitetura cliente/servidor, ou seja:

Crise de Requisitos

  • as mudanças ocorrem mais rapidamente que no passado;
  • necessidade de reengenharia de processos;
  • alteração do papel dos sistemas de informações;
  • aumento do esforço de análise, definição e desenvolvimento;
  • exigência de aplicações mais robustas e flexíveis;
  • desenvolvimento rápido.

Crise de Apresentação

  • surgem necessidades de mostrar os dados em formatos mais digeríveis, onde a utilização de GUI é obrigatória;
  • surgem necessidades de mudanças de paradigmas, como programação orientada a eventos e objetos;
  • onde o usuário está no controle da aplicação e não ao contrário.

Crise de Recursos Humanos

  • surgem necessidades de aumento de complexidade do ambiente;
  • os produtos têm ciclos de vida mais curtos, surgindo a necessidade de pessoas aprenderem mais rápido;
  • que as pessoas sejam hábeis em comunicar-se, que possam compreender conceitos complexos e adaptem-se rapidamente às mudanças.

Por fim, estabelece os seguintes benefícios potenciais com a adoção da arquitetura: aumento de produtividade, escalabilidade e redução de custos. Mas como nada vem fácil neste mundo, destaca alguns perigos potenciais, tais como: decréscimo de produtividade, aumento de custos, a necessidade de interação de muitos fornecedores e a definição inadequada dos requisitos da aplicação.

O Poder da Redes de Comunicação

Palestrante: Eduardo Mayer Fagundes, responsável pelo Planejamento de Recursos de Informática da Autolatina.

O palestrante inicia comentando a Parábola do Teólogo e o Computador, contada pelo Presidente da AT&T.

"Certo dia, um teólogo se aproxima de um supercomputador e pergunta:

- Deus existe?

O supercomputador processa e responde:

- Não tenho condições de responder... me ligue com todos os outros supercomputadores existentes no mundo.

As ligações executadas e o teólogo volta a fazer a mesma pergunta.

Os supercomputadores processam e respondem:

- Não temos condições de responder ... nos liguem a todos os mainframes existentes no mundo.

Providenciadas as ligações, novamente o téologo refaz a pergunta.

Feito o processamento, respondem:

- Não temos condições de responder ... liguem-nos a todos os computadores existentes, minis, redes locais e micros isolados.

Depois de longo tempo providenciando as ligações, enfim o teólogo pode repetir a pergunta:

- Deus existe?

O qual recebe a resposta:

- Agora existe."

Religiosidades à parte, o que procurou-se exemplificar é o PODER imenso que as redes de comunicação assumem no mundo atual, principalmente dentro de um quadro de economia global, onde se caminha para um mercado unificado, progredindo-se para uma rede mundial única de informações. Certamente estas mudanças que estão por vir, através da tecnologia da informação, suplantará, em muito, as mudanças provocadas pela era industrial.

Foram comentados os altos investimentos que estão sendo efetuados, com o intuito de promover a comunicação global através de projetos envolvendo bilhões de dólares.

Prevê-se a expansão da rede Internet, atualmente com 20 milhões de usuários, para 120 milhões de usuários até 1998, oferecendo dados e serviços de informações cada vez maiores, gerando a possibilidade de utilização comercial e com a criação de uma nova espinha dorsal especialmente para a área de pesquisa. Destaca uma nova revolução das telecomunicações a partir da fusão entre a Bell-Atlantic (empresa de telefonia) e a Tele-Communication, Inc (empresa de TV a cabo), gerando uma casamento de 30 bilhões de dólares. As empresas de TV a cabo têm alta capacidade de transmissão de dados, mas baixa capacidade de oferecer serviços bidirecionais; já para as empresas de telefonia seria o contrário. Com a união, elas se completam, gerando a possibilidade de uma gama muito grande de novos serviços.

Outros projetos surgem em todo o mundo, tais como:

  • aquisição pela AT&T da McCaw Cellular Communications por 12,6 bilhões de dólares, para operação de redes locais sem fio;
  • a British Telecommunications PLC, pagou 4,3 bilhões de dólares por uma participação de 20% na MCI Communication Corp, anunciando um total de investimento de 1 bilhão de dólares em serviços de telecomunicações;
  • a Microsoft e a McCaw Cellular, detalharam um investimento de 9 bilhões de dólares em um sistema global de satélites, para serviços de dados com baixos custos;
  • a Teledesic Corp, tem planos de lançar 840 satélites até o ano 2001, permitindo a troca bidirecional de dados multimídia, incluindo vídeo-conferência para qualquer lugar do mundo, com preços compatíveis aos urbanos;
  • a Motorola, através de seu projeto IRIDIUM, com investimentos de 3,4 bilhões de dólares, planeja lançar 66 satélites, oferecendo serviços de voz e dados.

A partir destes investimentos, destaca uma série de serviços que serão oferecidos a baixo custo e velocidade compatível com as necessidades: comunicação sem fio, melhora de serviços de correio eletrônico, movimentação de qualquer tipo de dado, sistema de entrega de dados em telefone celular e a cabo, TV analógica interativa em rádio e a cabo, vídeo digital e a mais fantástica e esperada: serviços em 3-D e realidade virtual.

Por fim, destaca a experiência da Autolatina em EDI - Troca Eletrônica de Dados, que permite a troca de dados comerciais, tais como: faturamento, ordens de compras, autorizações de recebimentos/pagamentos, etc.

O Lado Humano da Tecnologia da Informação

Palestrante: Jaci Corrêa Leite, Consultor, Pesquisador e Professor de Informática da FGV.

Estabelece que qualquer sistema compreende três elementos interagindo, ou seja: hardware, software e pessoas, comentando que, atualmente, a ênfase é dada ao hardware, existindo cuidados especiais com o software, mas que as pessoas são eternas ignoradas e esquecidas.

Verifica uma distância entre o mundo real e o ideal, estabelecendo comparações: o ideal seria que os componentes formassem um conjunto integrado e harmônico, quando na realidade são tratados de forma isolada; o ideal seria que o usuário fosse o fim do projeto, quando o real é o apego à tecnologia ditando as regras; o ideal é o computador ser a solução definitiva para os problemas da organização, mas o que acontece na realidade é que a utilização de sistemas de informação é trabalhosa, cara e freqüentemente fracrassa. Verifica que pouco se sabe sobre o comportamento do homem diante da máquina, onde projetos perfeitos não são garantia de objetivos atingidos e sistemas caríssimos, desenvolvidos com que há de melhor em termos de hardware e software, por vezes acabam rejeitados e abandonados.

Determina que o elemento humano da tecnologia da informação apresenta diversos aspectos:

  • pessoas convivem com conflitos associados à informatização, provocados por mudanças na estrutura funcional da organização, pela alteração nas estruturas de poder, pela redução do nível de emprego e pelas mudanças do perfil da mão-de-obra, gerando necessidades de qualificação;
  • surge necessidade de novo perfil profissional, sendo que atualmente valoriza-se muito a experiência e a formação técnica, pouco valoriza-se as habilidades administrativas e gerenciais (necessárias no processo decisório) e não há preocupação quanto às habilidades interpessoais (essenciais para a administração de conflitos);
  • cuidados devem ser observados quanto à psicologia do usuário, onde estilos pessoais parecem não ter grande influência devido às pessoas serem adaptativas, ajustando-se naturalmente ao contexto, onde experiências anteriores no uso de informática não parecem ser fator critico e onde necessita-se de projetos audiovisuais simples, auto-explicativos e padronizados, com navegação simples e ampla disponibilidade de suporte;
  • investimento no processo de qualificação do usuário, onde entende o processo que gerou as análises do sistema, não só no uso de hardware e software, como também na estruturação lógica dos sistemas, sendo necessário uma particular atenção no conhecimento das limitações de cada aplicação.

Estabelece que a tecnologia da informação, por sua importância, tende a distribuir-se por toda a organização, entendendo que não existem pessoas com capacitação suficiente para sustentar a expansão do campo de influência. Coloca que a exemplo do que aconteceu com a Gerência de Qualidade, a direção da tecnologia da informação passará a ser compartilhada por toda a organização, implicando em esforços de qualificação dos executivos, que passam a ser responsáveis pelas necessidades de informação.

Dentro deste contexto, afirma que a tendência para o profissional de informática é especializar-se em alguma área de atuação, para que possa prestar serviços direcionados para as organizações.

Por fim, coloca que o mais importante é compreender que, para ter uma tecnologia da informação eficaz, o centro das atenções deve ser o componente humano em todos os seus aspectos.

Novos Paradigmas da Tecnologia da Informação

Palestrante: Nilton Guedes, Gerente de Novos Negócios da SUN Microsystems.

Destaca que atualmente os negócios pressupõem a obtenção contínua e rápido acesso a elas, de informações, dentro de um contexto globalizado, competitivo e de atendimento rápido às demandas, sendo necessário maior produtividade, garantindo a competitividade e a redução de custos.

Analisa que as redes de comunicação devem propiciar rápido e eficaz acesso global a dados e informações, permitindo a construção de aplicações de forma ágil e flexível.

Considera que a Arquitetura Cliente/Servidor seria a mais indicada atualmente, pois permite a construção de sistemas baseados em especificações e padrões abertos, propiciando o acesso a informações e facilitando a implementação e integração de novos processos de negócios.

Detalha a evolução dos sistemas operacionais existentes, das tecnologias de redes e as possibilidades de hardware e software para trabalho em estações de trabalho.

Por fim, coloca algumas tendências para o presente em termos de tecnologia, tais como: multiprocessamento, multimídia (vídeo e áudio), geração de gráficos 3-D e arquitetura cliente/servidor. Para o futuro estabelece as seguintes tendências: aplicativos baseados em objetos distribuídos, vídeo-conferência, realidade virtual e conectividade global.

Conclusão

Finalizando, cabe agradecer à FUJITSU do Brasil Ltda, na pessoa do seu Presidente Hayashi Takano, pela realização de evento de tão alto nível, destacando a qualidade das palestras apresentadas, a capacidade demonstrada pelos palestrantes, a organização impecável e a excelência das dependências físicas.

Eventos desta natureza demonstram o quanto empresas, como a FUJITSU, está preocupada com o futuro da informática, mostrando-se interessada em apoiar as organizações nos desafios que as esperam no século 21.