O Processo de Implantação da Metodologia de Desenvolvimento de Serviços - Versão 2
Autores: Cristina Angela Filipak Machado, Luiz Carlos de Almeida Oliveira, Rosane Antunes Fernandes.
Introdução
A Metodologia de Desenvolvimento de Serviços (MDS) da Cia. de Informática do Paraná - CELEPAR - foi criada e implantada em 1991. Desde então, ocorreram vários processos de discussão e aprimoramento da MDS, que tiveram como resultado a proposição de sugestões para sua alteração e melhoria.
Um destes processos é representado pela realização de uma pesquisa na CELEPAR no final de 1994 [Teixeira, Utilização do Roteiro de Análise e Construção de Sistemas], que foi objeto de trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Análise Moderna de Sistemas, promovido pela CELEPAR e PUC-PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Neste trabalho foram identificados os principais problemas na utilização da MDS:
1. Falta de Suporte.
2. Trabalham somente com programação (não conseguem verificar como utilizar a metodologia nesta fase do desenvolvimento).
3. Falta de oportunidade.
4. Desconhecimento de como utilizar.
5. Falta de costume e falta de conhecimento dos técnicos.
Neste mesmo trabalho também foram dadas algumas sugestões para melhorar a utilização do Roteiro de Análise e Construção de Sistemas (RACS):
1. Suporte.
2. Treinamento Intensivo.
3. Sistema compatível para o acompanhamento de projetos.
4. Exemplos dos produtos a serem gerados.
5. Cobrança dos coordenadores e obrigatoriedade do uso.
6. Treinamento.
7. Roteiro mínimo para desenvolvimento de sistemas.
Paralelamente a este trabalho, iniciou-se em 1992 um programa de qualidade total, que influenciou a visão dos técnicos com relação à necessidade de considerar mais fortemente a questão da qualidade, principalmente do ponto de vista do software.
Todo este empenho dos técnicos em levantar problemas e debater sobre a utilização da metodologia na empresa vem demonstrar a importância e a necessidade sentida por eles em se ter um mecanismo de orientação para o desenvolvimento dos trabalhos.
Dentro deste contexto, em março de 1995 a CELEPAR iniciou um projeto de revisão de sua Metodologia de Desenvolvimento de Serviços, que resultou na elaboração de uma nova versão da mesma (MDS-V2).
A MDS-V2 teve como pressuposto básico a visão da qualidade, representada pelo atendimento às necessidades de seus clientes. Num primeiro momento, a ênfase foi dada à identificação e clarificação destas necessidades, por ser determinante na definição do problema a ser tratado e da solução a ser proposta. A questão de qualidade, embora associada ao processo de desenvolvimento de software, deve estar muito voltada a aspectos de adequação da solução como um todo à realidade e possibilidade do cliente. Se isto não tiver equacionado, a solução não terá qualidade, mesmo que observados aspectos mais técnicos normalmente tratados nas questões de qualidade de software. Portanto, o enfoque adotado pela CELEPAR foi voltado ao processo de desenvolvimento de software, principalmente considerando as características particulares dos serviços desenvolvidos na empresa.
Além disso, a MDS-V2 também deveria contemplar questões relativas ao gerenciamento do processo de desenvolvimento de software, este também um meio de garantia de qualidade; ser compatível com estágio atual do processo de desenvolvimento da empresa e com as situações dos diversos Clientes, com aplicações com características culturais e tecnológicas diferenciadas e também ser flexível quanto a ciclo de vida, técnicas e ferramentas a serem adotadas.
O que é a MDS-V2
A Metodologia de Desenvolvimento de Serviços, MDS-V2, é composta por um conjunto de roteiros. Estes roteiros visam nortear as ações que deverão ser executadas pelos técnicos quando da necessidade de geração de produtos e serviços pela CELEPAR.
A MDS-V2 possui uma estrutura modular e aberta, possibilitando a utilização de um roteiro que melhor se adapte ao serviço a ser desenvolvido. Isto faz com que os produtos sejam gerados de forma mais produtiva e a metodologia realmente ajude o técnico a organizar o seu trabalho através de um encadeamento racional de ações a serem realizadas para se alcançar o objetivo.
A grande vantagem desta solução é a possibilidade dos roteiros serem assimilados conforme a necessidade do técnico, ficando garantida a evolução tecnológica, pois novos roteiros podem ser desenvolvidos na medida em que estes forem necessários.
Estrutura da MDS-V2
Roteiros da MDS-V2:
- Para a etapa de Identificação e Planejamento do Serviço, foi desenvolvido o Roteiro de Projeto Preliminar (RPRE), que é um roteiro de caráter genérico, destinado a orientar e planejar a abordagem. A grande ênfase do RPRE está em possibilitar a identificação da situação-problema, a adequada associação da solução ao problema bem caracterizado e na elaboração de um documento que registre a funcionalidade da solução para, numa etapa posterior, possibilitar seu detalhamento e execução. Garante a correta e adequada proposição de solução (ou de encaminhamento da solução), que deve-se dar mediante um processo criterioso de planejamento, com a definição do modelo de ciclo de vida mais adequado à construção da solução, suas fases, produtos a serem gerados, prazos, recursos necessários e forma de revisão e acompanhamento do projeto. O RPRE não prescreve este ou aquele modelo de ciclo de vida, sendo, portanto, um roteiro flexível e que se adapta aos mais variados serviços.
- Para a etapa de Execução, roteiros para as diversas técnicas, arquiteturas e/ou tecnologias (Análise Estruturada, Orientação à Objetos, Cliente/Servidor, ou outras que vierem a ser criadas). Estes roteiros não participam do processo de implantação da MDS-V2 neste momento.
- Para a etapa de Manutenção, foi desenvolvido um roteiro de Atividade Contínua (RCON), que tem por objetivo orientar a execução das tarefas relativas aos sistemas já implantados, que correspondem a uma parcela significativa dos trabalhos desenvolvidos na empresa.
Além dos roteiros descritos acima, temos os roteiros que são comuns a todos os serviços:
- Roteiro para Acompanhamento (RPAC), que tem por objetivo apoiar o gerenciamento de projetos e estabelecer um acompanhamento formal sobre os projetos em andamento, com a apuração de indicadores de qualidade do processo de desenvolvimento.
- Roteiro de Documentação (RDOC), que visa a organização e preservação da documentação gerada nos projetos desenvolvidos pela empresa, além de um fácil acesso pelos técnicos e a garantia de repasse de informações.
- Roteiro de Revisão (RREV), que tem como objetivo orientar a realização das revisões, que atuam como meio de garantia de qualidade dos produtos gerados, apoiadas em formulários pré-definidos e check-list's. Outro aspecto considerado neste roteiro é a agregação de conhecimentos diferenciados com a participação dos revisores e seu comprometimento com o sucesso do projeto.
O Processo de Implantação
A implantação da MDS-V2 foi iniciada em agosto de 1995, com a realização de palestras onde foi apresentada uma visão geral da MDS-V2. Na seqüência, foram ministrados os seguintes cursos, buscando sempre que possível mesclar teoria com exercícios práticos:
- RPRE - Roteiro de Projeto Preliminar, bem como os roteiros relacionados (RREV - Roteiro de Revisão e RDOC - Roteiro de Documentação);
- RCON - Roteiro de Atividade Contínua;
- RPAC - Roteiro para Acompanhamento.
Durante a realização dos cursos, houve um espaço para a discussão e validação dos roteiros, além de serem preservadas todas as propostas e sugestões de melhoria apresentadas.
Após o treinamento, foi iniciada a utilização dos roteiros, através da aplicação do RPRE - Roteiro de Projeto Preliminar para os projetos em andamento na empresa. Aliado ao treinamento, a equipe de desenvolvimento da MDS-V2 também está atuando como apoio e suporte em sua utilização.
Em outubro de 1995 foi iniciada a primeira medição dos indicadores de qualidade estabelecidos pela MDS-V2, voltados ao processo de desenvolvimento de software.
Problemas encontrados
A maior dificuldade encontrada num processo de implantação de uma metodologia é de característica comportamental: a resistência à mudança, própria dos seres humanos, que ocorreu em uma escala muito pequena.
Outra dificuldade, inerente à qualquer processo deste tipo, é uma queda na produtividade, num primeiro momento. Isto ocorre porque é um processo de mudança na maneira pela qual os técnicos estão habituados a realizar suas atividades. Enquanto este processo não estiver assimilado, os técnicos encontrarão mais dificuldades em exercer suas tarefas do que do modo no qual estavam acostumados. Entretanto, isto tende a diminuir através da própria utilização da MDS-V2, quando os técnicos gradativamente forem alcançando um domínio maior nos roteiros.
Com relação às atividades de gerenciamento do processo de desenvolvimento, estabelecidas no RPAC - Roteiro para Acompanhamento, é onde há o maior foco de dificuldades na implantação. Os tempos previstos inicialmente para a apuração dos indicadores foram insuficientes. Há uma dificuldade real de cumprir todas as tarefas descritas neste roteiro, decorrentes principalmente de falta de tempo disponível para executá-las.
Aspectos positivos identificados
Consideramos que houve uma aceitação bastante positiva da MDS-V2, até bem acima de nossas expectativas. Durante os treinamentos houve uma participação muito grande dos técnicos, comprovada pelas sugestões de melhoria apresentadas. Aliado a isso, a demanda por suporte na utilização da MDS-V2, exigida após os treinamentos nos levou a concluir que o processo foi bem aceito e incorporado pela maioria dos técnicos, sendo de real auxílio e orientação na execução de suas atividades.
Também já pudemos identificar resultados bastante positivos com a utilização da MDS-V2. Do ponto de vista técnico, os trabalhos desenvolvidos dentro dos padrões propostos pela metodologia atingiram uma qualidade superior àqueles que não a utilizaram. Do ponto de vista do cliente, houve uma aceitação bastante significativa, resultando inclusive em manifestações concretas neste sentido.
Dentro dos objetivos pretendidos com esta nova versão da MDS, também já estamos caminhando no sentido de alcançá-los, com a identificação e atendimento das reais necessidades do cliente e assegurando sua participação no processo de desenvolvimento; com um cuidado maior no planejamento dos projetos a serem desenvolvidos ou gerenciados na empresa; e com a preocupação permanente de atingir qualidade nos produtos desenvolvidos.
Continuidade do Processo
Na continuidade deste processo de implantação da MDS-V2, estão previstas as seguintes atividades:
- Avaliação das sugestões apresentadas e ajustes nos roteiros;
- Avaliação do RPAC - Roteiro para Acompanhamento;
- Projeto para avaliar e desenvolver a utilização do software Lotus Notes como ferramenta de apoio à MDS: help´s, formulários eletrônicos (principalmente para o RREV - Roteiro de Revisão), quadro de avisos;
- Definição de padrão para preservação e disponibilização dos produtos gerados na empresa; e
- Continuidade dos treinamentos.
Também já está ocorrendo uma demanda significativa para os roteiros voltados às atividades de desenvolvimento (especificação, projeto, codificação, teste). Para tanto, numa próxima etapa, devem ser criados roteiros específicos, contemplando questões de arquitetura, plataforma, técnicas, ferramentas e padrões. Uma outra etapa também deve ser desenvolvida, para a definição e aplicação de procedimentos e indicadores de qualidade voltados ao produto de software.