Os rumos da informática com o fim da reserva

Autor: Paulo Roberto de Mello Miranda

A Política Nacional de Informática – PNI – produziu, ao longo da última década, uma sólida base industrial, um conjunto razoável de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de produtos, uma grande rede de distribuição e assistência técnica e um mercado que cresceu cinco vezes mais que o PIB no período. Esta plataforma criou as condições para o estabelecimento do II Planin – Plano Nacional de Informática e Automação, instituído pela Lei nº 8244 de 16/10/91

As diretrizes e metas definidas no II Planin, nas áreas de uso da informática, produção de bens de serviço, pesquisa e desenvolvimento, e formação e desenvolvimento de recursos humanos, se cumpridas, permitirão um desenvolvimento equilibrado da informática como apoio ao esforço de modernização da nosso sociedade e ampliarão as possibilidades de competição internacional.

Do conjunto de metas traçadas neste Plano, destaca-se o Programa Exposoft-2000, que objetiva a capacitação brasileira para competição no mercado internacional de programas de computador, tornando, este produto, o primeiro da pauta de exportação de nossos País no ano 2000

Para isto, os incentivos oficiais do programa devem necessariamente ser orientado para projetos cooperados que assegurem a ação integrada das universidades e centro de pesquisa com a iniciativa privada. Assim poderão surgir centenas de pequenas empresas com acesso facilitado à tecnologia e laboratórios no estado da arte internacional.

O FIM DA RESERVA

Os frutos gerados pela PNI, ao longo da última década, foram financiados pela sociedade, via preços e investimentos públicos. A ação desastrada do Executivo, que tratou este segmento como símbolo de todo o atraso de nossos País, desprezou seu valor em uma negociação internacional como se o preço da efetiva integração do Brasil no processo de globalização da economia fosse a desativação da base que criou condições para tal. Mesmo que, nas negociações com seus parceiros internacionais, as empresas brasileiras tenham valorado adequadamente esse patrimônio, a desativação dos centros de desenvolvimento e as bases industriais, aumenta o sentimento de frustração, do consumidor nacional.

A sociedade brasileira está empreendendo um grande esforço de modernização, onde a informática deve desempenhar importante papel.

Os programas, patrocinados pelo governo, devem, entretanto, orientar sua aplicação no aumento da produtividade e da qualidade, privilegiando o emprego e não a automação, especialmente em setores intensivos em mão-de-obra. O projeto de modernização da sociedade não pode se transformar em mecanismo de agravamento do passivo social e de concentração de riqueza.

O Estado, permanentemente em luta com a escassez de recursos para custeio e investimento, deve buscar ampliar os serviços prestados à sociedade com a mesma base instalada de recursos, tanto humanos, como de instalações ( escolas, hospitais etc.), pelo aumento da produtividade, redução de ociosidades e melhoria qualitativa dos serviços.

È pequena a participação da informática no setor público. Seu desenvolvimento tem ocorrido de forma desigual, reforçando separações estanques. As iniciativas de integração e compartilhamento de dados e recursos devem ser articuladas e consolidadas entre o governo federal. Estados e municípios no intuito de modelar um Sistema de Informação do Estado Brasileiro voltado para a sociedade.

Deverá ser produzida uma base normativa e metodológica que viabiliza a integração e o compartilhamento de dados e recursos em cada esfera de governo e entre elas, de forma a maximizar o uso desses recursos, rentabilizando os investimentos públicos.

A chegada do século XXI encontra o Brasil mergulhado em uma profunda crise econômica e social, com a maior parte de sua população privada da cidadania. O verdadeiro desafio da modernidade é a reversão deste quadro. Aí, as tecnologias da informação aparecem como ferramentas de ampliação da capacidade do homem de gerar e distribuir riquezas. Sua efetividade exige que a atuação do Estado e de todos os agentes sociais, na formulação e execução das políticas do setor, seja pautada pelos interesses maiores da Nação.