PDA, o Futuro já é Presente
Quando Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, decretou que os tripulantes da Enterprise rabiscariam suas notas em blocos eletrônicos, banindo completamente lápis e papel, antevia os PDAs (Personal Digital Assistants), realidade presente nos dias atuais.
A MAÇÃ sempre provocou mudanças desde o começo dos tempos. Ao lançar o MAC revolucionou a computação pessoal e trouxe a reboque a grande revolução que foram os PCs. Agora de novo a MAÇÃ ataca, com o Newton, lançando o conceito de PDA.
O descortinamento, se deu na Summer CES (Computter Eletronics Show), em maio de 1992, quando John Sculley (então CEO da APPLE) apresentou o protótipo do Newton. Para mostrar o conceito, Sculley disse: "The big idea is that it's not a tool, it's an assistant. A tool is a lawn mower. An assistant is when you hire someone else to cut the grass."
A grande idéia é que não se trata de uma ferramenta, é um assistente. Um cortador de grama é uma ferramenta. Um assistente é quando você contrata alguém para cortar a grama por você.
O PDA é um produto gerado pela divisão APPLE PIE (Personal Interactive Eletronic).
De lá para cá muita tecnologia emergiu e além da APLLE (junto com a SHARP) outras empresas se uniram para apresentar produtos que pudessem competir com o Newton. Hoje o mercado já apresenta pelo menos 7 soluções (2 das quais apenas com marcas diferentes) conforme apresentamos no quadro ao final deste artigo.
Falando um pouco mais sobre o Newton, diz-se que ele pode ser a vacina para mensagens incompreendidas, compromissos esquecidos, receitas ilegíveis, telefones não lembrados, anotações perdidas, ...
O software do Newton trabalha usando conjuntos de palavras-chave - passe o fax disto... ; relembre-me daquilo... ; agende este ... - que lhe atribuem a característica de assistente. Basta você rascunhar a mensagem para seu destinatário, suponhamos Saulo, e "mandar" que formate carta para Saulo, ele se encarregará de colocar todos os adereços e endereços. Em seguida, "ordene" para que mande o fax desta carta para Saulo. Lepidamente ele irá localizar na sua agenda de endereços e telefones o número de Saulo e enviar o respectivo fax. Você não está conectado? Não se preocupe, assim que você se conectar ele se encarregará de fazer o serviço. E se existirem dois Saulo, calma, ele vai perguntar para qual deles deve enviar a mensagem.
Estão disponíveis alguns botões, que agilizam o processo, como: quem (agenda de endereços), o que (lista de tarefas), quando (calendário), pesquise (procurar por mensagens), formate (transformar notas em correspondência comercial), mande (enviar fax a partir de uma correspondência), e, naturalmente, Ajude.
Tocar um certo dia no calendário é o suficiente para que ele abra uma tela cheia, com seu dia cheio. Desenhar, apagar, fazer contas (2 + 4 = ... ), sonhar, ...
Para evitar a monotonia e frieza da máquina, o Newton faz barulhos quando você troca de folha, abre uma gaveta, arquiva pastas...
Mas nem só de maçã vive o homem (ou seria a mulher?). A NCR tem projetos desde 1987, embora se enquadre mais no que se chama Notepad (prancheta). A diferença é basicamente o tamanho (o Newton cabe no bolso, de um paletó é claro) e no conceito de ajudar. O Notepad é mais passivo, ou era.
O modelo NCR 3125 pesa aproximadamente 1.8 Kg, usa Intel 386SL, 20 MHz, 4 MB RAM, mede 25 x 30 x 2.6 em. tela VGA, portas paralela e serial, aceita teclado externo, HD removíveis, celular, enfim, um pouco mais complexo.
Outra categoria são os Script Writers, que aceitam formulários A4, para aplicações em que além de registrar as informações magneticamente também é necessário o arquivamento do formulário. Neste caso o formulário funciona como um gabarito e o equipamento pode ser programado para vários tipos de formulário, segundo a necessidade, apresentando mensagens para quem está preenchendo em um visor de cristal líquido com duas linhas.
Mas, afinal o que se espera de um PDA? Certamente mais do que se esperava quando ele foi lançado em 1992 e menos do que será no ano 2000.
O princípio número um é que seja tão simples de usar como uma folha de papel e um lápis. Isto significa que deve funcionar como um bloco de notas, em que você risca e rabisca à vontade.
Ele tem duas formas básicas de armazenar os rabiscos. A primeira é a "tinta digital", tudo é armazenado exatamente como você escreveu, de forma gráfica (bitmaps). Alguns PDAs associam palavras-chave ou assuntos a estas imagens para proceder a futuras pesquisas.
A segunda forma é a conversão do manuscrito para letra de imprensa à medida que o usuário vai escrevendo.
No caso da conversão, existem também duas técnicas, uma que converte caractere a caractere e outra que trabalha com dicionários de palavras, reconhecendo-as como um todo.
O reconhecimento de escrita é um processo que está evoluindo e que ainda apresenta falhas. O ponto positivo é que existem software que além de efetuarem a conversão adaptam-se ao dono, em outras palavras, aprendem com ele, e ao longo do tempo começam a executar as transformações mais rapidamente.
Também temos a questão de segurança onde alguns software são capazes de identificar a assinatura do dono não apenas pela suas grafia mas, também e principalmente, pela pressão exercida e a velocidade (tempo transcorrido entre o início e o fim da assinatura). Isto torna praticamente impossível a estranhos bolinarem seu assistente.
Também se espera de um PDA grande capacidade de comunicação, isto não significa apenas a capacidade de se conectar a uma rede telefônica. Muitos já trazem embutidos um transmissor/receptor infravermelho que permite a troca de informações entre dois ou mais PDAs, ou outros equipamentos. Alguns já trazem acoplados telefones celulares, ou permitem o acoplamento externo. O mesmo ocorre com modems celulares (em cartão PCMCIA).
Já existem cartões PCMCIA que podem funcionar com a tecnologia de paging e também com soluções de comunicação via RF. Isto significa que um executivo pode receber dados em seu PDA para através de seu EIS, no meio de uma reunião, tomar decisões baseado em informações just in time.
Os PDAs serão os grandes beneficiários do que está se convencionando chamar Sistema de Comunicação Global. Através deste sistema a comunicação pessoa a pessoa estaria disponível de qualquer parte do planeta (seja na floresta amazônica ou no deserto do Saara). Não deve ser por acaso que Bill Gates está buscando recursos de 9 bilhões de dólares para um projeto nesta linha.
Os principais obstáculos atuais continuam sendo o preço e a miniaturização. À medida que pudermos aumentar mais ainda o processamento (e podemos incluir agora o Power PC para PDAs), minimizando o espaço, poderemos contar cada vez mais com PDAs que se aproximam de uma folha de papel.
Outra necessidade vem da energia. Um PDA só é bom quando não tem rabos. Ou o poder das baterias aumenta ou o consumo dos componentes diminui tanto que se torna irrisório. Hoje já podemos chegar a horas, e em alguns casos a dias (100 horas), mas ainda é pouco perto dos anseios do usuário.
Também o reconhecimento de escrita pode se tornar um fator crítico. Para exemplificar ainda não se tem notícia de PDAs que aceitem escrita em português.
De qualquer forma devemos ter em mente que um PDA com entrada de informações escritas não é adequado para os "criadores de informação" certamente é mais adequado para os "consumidores de informação". Para os primeiros, o velho teclado ainda é a solução.
Uma alternativa que está crescendo para a questão anterior é o reconhecimento de voz. Hoje alguns software já estão entendendo comandos dos seus donos. Mas, podemos dizer que, neste caso também o poder de processamento requerido para esta tecnologia é bem maior que aquele para reconhecimento de escrita. Certamente o que se espera como ideal é através do PDA poder falar com alguém do outro lado da linha e no caso de não poder atender, ter o seu assistente encarregado disto. Melhor ainda é poder mesclar suas anotações transcritas (quando você quiser) com comentários de viva voz. O comando de voz certamente é mais apropriado quando você está em um veículo em movimento (você já tentou escrever depois de informar ao motorista de táxi que você está com pressa?).
As comunicações se tornarão mais rápidas e precisas. Já existem projetos de correios eletrônicos usando o conceito da comunicação global.
O médico poderá anotar as informações do seu paciente hospitalizado no PDA Clínico. Este por sua vez mandará mensagens para o PDA da enfermeira e atualizará as informações no PDA do próprio paciente (seu histórico).
As crianças poderão aprender a escrever através de PDAs alfabetizadores que soletrarão e corrigirão automaticamente os rabiscos feitos na tela.
Nas escolas teremos grandes Quadros PDA onde o professor lançará a matéria trazida do Banco Acadêmico. Os alunos por sua vez poderão se concentrar na aula, e não nas anotações, colocando apenas as observações pessoais sobre o que foi exposto. Será que o vestibular, se existir até lá, não poderia se valer de Script Writers?
O comércio poderá mandar seus catálogos através dos PDAs. O cliente comprará através de seu PDA. Antes de comprar examinará cuidadosamente as características do produto através de sua tela.
Vai viajar? Não esqueça de levar seu PDA. Através de um cartão geográfico você terá não apenas os mapas da região para onde vai, mas também os museus, pontos turísticos, hotéis, restaurantes; não esqueça também de reservar sua entrada no teatro através dele, afinal, lazer também se faz com PDA.
Tudo isto nos leva a perguntar se este é o último estágio na evolução do hardware pessoal. Naturalmente a resposta é NÃO! Desde que a MAÇÃ caiu de cabeça no Newton ela não para de provocar mudanças. A despeito de termos visto recentemente uma propaganda da Intel, exercendo a futurologia, de um bracelete com teclado, visor, track-ball, ..., a APPLE já está descascando o chamado Wrist PDA, ou seja, um PDA de pulso. Também se tem notícias do chamado VideoMan (o equivalente do WaIkman e DiscMan para vídeo) o que nos leva a crer que o passo seguinte seja o Helmet PDA, ou seja, o PDA Capacete, comandado por voz no primeiro estágio e no estágio seguinte ... pense.
Modelos de PDAs disponíveis atualmente:
Marca |
AMSTRAD |
APPLE /SHARP |
BallSouth Cellular Corp. |
CASIO /TANDY |
EO Ino |
Modelo |
PenPad PDA 600 |
Newton MessagePad /PI-7000 |
Simon |
Z-7000 PDA /Z-PDA |
EO 440 |
Preço(US$) |
399 |
699 /699 |
399 |
599 /699 |
1.599 |
Processador/Clock (MHz) |
proprietário |
ARM B10 /20 |
proprietário |
NEC V20 /7,7 |
92010 Habbit /20 |
Energia |
3 AA alcalinas |
4 AA NiCad |
bateria interna recarregável NiCad |
3 AA alcalinas |
Bateria interna recarregável NiMH |
RAM padrão /Máximo |
128Kb /2 MB |
840 Kb |
1 MB /2 MB |
1 MB |
4 MB /12 MB |
Capacidade armazen. |
---- |
4 MB ROM |
1 MB ROM |
4 MB ROM |
opcional |
Tipo tela, resolução, tamanho |
PB LCD 240 x 320 |
LCD reflexivo, 336 x 240 |
LCD CCFT com APA Touch Overlay, 3,5 x 11,4 cm |
LCD Monocromático, 320 x 256 |
monocromática reflexiva, VGA LCD, 640 x 480, 19 cm na diagonal |
Teclado |
---- |
---- |
Teclado TouchScreen |
---- |
---- |
Modem interno |
---- |
PCMCIA fax/data opcional |
Fax /Modem |
PCMCIA Fax/data opcional |
fax/data opcional |
Portas de I/O |
serial |
serial, infravermelho |
Conector 32 pinos |
Infravermelho, serial, entrada para fone de ouvido |
serial, paralela/FDD, teclado |
Slots |
1 PCMCIA II |
1 PCMCIA II |
1 tipo II |
1 PCMCIA II |
1 PCMCIA II |
Tamanho (em pol.)/ peso em g (c/ bateria) |
15,8 x 11,4 x 2,5 /397 |
18,4 x 11,4 x 1,9 /406 |
20,3 x 6,3 x 4,5 /570 |
17,2 x 10,6 x 4,5 /454 |
27,4 x 19,0 x 2,2 /995 |
Opções |
software baseados em PCMCIA ROM |
cartão de mensagem, fax/modem, conexão impressora, memória Flash |
cartão de mensagem, conector RJ-11, bateria NiMH, adaptador para carro, teclado externo |
memória PCMCIA, adaptador AC, conversor serial/paralela, cabo para modem |
EO BBD versão melhor (US$ 2.199); telefone celular, modem |
Características especiais |
alternativa barata de PDA |
Assistente pessoal de bolso |
Telefone celular /PDA |
aplicações pessoais em ROM |
"tábua de comunicação" |
FONTE: PC Laptop Computers. USA: L.F.P. Inc, V.6, N.4, abr., 1994.
Referências Bibliográficas:
BASSI, Silvia. O futuro já cabe no seu bolso. Informática Exame, São Paulo, v.8, n.7, p. 44-47, jul. 1993
FLYNN, Mary K. Finalmente: o reconhecimento de voz chega ao computador. PC Magazine Brasil. São Paulo, v.3, n.9, p. 11, set. 1993.
HALFHILL, Tom R. Os PDAs chegam, mas não ainda com força total. Byte Brasil, São Paulo, v.2, n.11, p.32-46, nov. 1993.
MACHADO, Carlos. A tecnologia brilha em sua maior vitrine. Informática Exame, São Paulo, v.8, n.93, p. 42-47, dez. 1993.
MARTINS, lvan. Será que Bill Gates saiu de órbita? Exame, São Paulo, v.26, n.8, p.68-69,13 abr. 1994.
MCGRATH, Mattew. Mightier than a sword. PC Today, UK, v.5, n.8, p. 98-101, Dec. 1991
O FIM da linha. Veja, São Paulo, v.27, n.16, p. 64-65, 20 abr. 1994.
O FUTURO não aponta para as teclas. Informática Exame, São Paulo, v.8, n.3, p.57, mar. 1993
PC Laptop Computers. USA: L.F.P. Inc, v.6, n.4, Apr. 1994.
PDA une fabricantes: Apple anuncia produto. PC Magazine Brasil, São Paulo, v.3, n.5, p.11, maio 1993.
SOVIERO, Marcelle M. Your word according to Newton. Popular Science, USA, v.241, n.3, p.45-48, Sep. 1992.
WILLMOTT, Don. Compaq optou pela caneta no Concerto. PC Magazine Brasil, São Paulo, v.4, n.3, p. 17, mar. 1994.
Informatize seus rabiscos com o Note Taker. PC Magazine Brasil, São Paulo, v.4, n.3, p. 18, mar. 1994.