Pontuação para Editais de Licitação

Autor: Hélio Sartorato - DICOP
Este trabalho tem como objetivo demonstrar uma forma de cálculo para elaborar pontuações em editais de licitação do tipo técnica e preço, de forma que as mesmas representem com a maior acuracidade possível, o peso do valor financeiro dos objetos ofertados.

Ou seja, para um determinado lote com vários ítens, a proporção existente entre os pontos máximos possíveis de cada item deve ser a mesma proporção que existe entre o valor dos recursos (quesitos) adicionais a serem ofertados como diferenciais técnicos pontuáveis.

Esta forma de determinar a pontuação evita, por exemplo, que algum quesito adicional de pouco valor permita uma pontuação muito elevada, distorcendo a avaliação do lote, e permitindo que algum proponente se utilize disso para ofertar recursos adicionais baratos para vencer um lote com objetos de alto valor.

Antes de proceder ao cálculo das pontuações devemos ter em mãos algumas informações:

1) Quais quesitos queremos pontuar?

Recomendamos que sejam escolhidos quesitos (recursos adicionais) de relevância para o contratante, e bem dimensionados para os equipamentos em questão. Devemos lembrar que os equipamentos descritos nos editais já devem estar coerentes com as necessidades previamente estabelecidas e, portanto os recursos adicionais a serem incorporados deverão servir apenas como diferencial técnico entre as propostas.

2) Quanto devemos aceitar de acréscimo?

Acreditamos que seja razoável pontuar acréscimos em torno de 50% acima da capacidade estabelecida como limite mínimo obrigatório para os quesitos em questão.

3) Como devem ser ofertados os quesitos?

Devemos dar preferência para as características técnicas que possam ter acréscimos em parcelas, pois isto incentiva as ofertas. Por exemplo, ao invés de 2 Megabytes de memória adicional em um micro, devemos especificar "até 4 incrementos de 0,5 Mb" (desde que isto seja tecnicamente possível).

4) Qual o valor dos recursos a serem acrescidos?

A obtenção destes valores é fundamental para a formação da pontuação. Além do que, eles devem ser coerentes com o valor do objeto básico.

Em caso de não se conseguir os valores dos recursos que queremos pontuar, é preferível não incluí-los no processo de pontuação, pois, caso contrário, poderemos distorcer todo o resultado obtido.

Vamos, a seguir, ver no quadro de exemplo em anexo, a forma de cálculo passo a passo.

Neste exemplo fictício, os diversos objetos foram agrupados em um lote, para que todos eles fossem fornecidos pelo mesmo proponente.

O lote em questão possui 3 itens (micros, impressoras e nobreaks) e cada um destes itens possui quesitos que queremos pontuar (índice Norton, memória e área em disco para os micros; páginas por minuto (PPM) e buffer para as impressoras; potência (KVA) para os nobreak's).

Vejamos então:
  • A coluna A relaciona os quesitos que serão pontuados.
  • A coluna B mostra o valor unitário dos quesitos. Este valor é o preço da quantidade máxima que pode ser  ofertada para cada quesito.
  • A coluna C mostra a quantidade dos objetos do lote. Temos 3 micros, 2 impressoras e 3 nobreak's.
  • A coluna D mostra 13 * C.
  • A coluna E mostra os valores de D como percentuais em relação ao total do lote.
  • A coluna F mostra os valores de D como percentuais em relação ao total do próprio item.
  • A coluna G mostra em quantas parcelas o recurso poderá ser incrementado. No caso dos nobreak's,      especificamos como Característica Mínima Obrigatória a potência de 1 KVA. e permitimos até 2 acréscimos de 0,5 KVA.
  • A coluna H mostra E dividida por G.
  • Na coluna 1 colocamos o menor valor encontrado na coluna H (3,93).
  • A coluna J mostra H dividida por 1.
  • A coluna K mostra os valores da coluna J arredondados para o número inteiro mais próximo. Passaremos a chamar estes valores de X.
  • A coluna L mostra K * G. Passaremos a chamar estes valores de Y.
  • A coluna M mostra L * C.
  • A coluna N mostra os valores de M como percentuais em relação ao total do lote.

Explicando:

1. A pontuação máxima que um proponente pode obter em cada quesito, deve ter a mesma proporção em relação à pontuação máxima total do lote, que a proporção em que se apresentam os preços anotados na coluna E.

2. Os cálculos efetuados até a coluna I servem para se determinar qual quesito tem o menor acréscimo (em valor) pontuável. Este valor é dependente do valor do quesito e do número de parcelas em que ele é subdividido. Ele servirá como unidade na pontuação.

3. Na coluna J calculamos a proporção dos outros valores em relação ao unitário da coluna I. Neste ponto os valores encontrados já são os que serão utilizados como "pontos".

4. Nas coluna K e L temos os números que servirão para a elaboração dos textos de pontuação na seguinte forma:

Para o caso dos nobreak's:
br />
"X pontos para cada 0,5 KVA adicionais, limitado a Y pontos para cada
configuração"


Onde X e Y são os valores encontrados nas colunas K e L, respectivamente, e no exemplo valem 4 e 8.

Note que o valor de X=1, encontra-se no quesito "disco" que obteve o menor valor na coluna H.

5. Na coluna M obtivemos o número máximo possível de pontos para cada quesito. Na coluna N, calculamos estes valores como percentuais do total. Como citamos no item 1, estes valores devem manter proximidade com os valores da coluna E. A diferença que observamos se deve ao arredondamento feito na coluna K.

Recomendações:

  • Para se obter uma pontuação bastante próxima da proporção dos preços, como no exemplo, devemos evitar:
    • Pontuar quesitos com muita diferença de valores entre si;
    • Número de parcelas para acréscimo, muito grande;
  • pois isto gera o seguinte problema:
    • Valores de X muito grandes e desarmoniosos, como por exemplo: "139 pontos para cada .... adicional ... limitado a 973 pontos etc"
  • Como o processo de pontuação é bastante trabalhoso, recomendamos:
    • Pontuar o menor número possível de quesitos;
    • Elaborar a pontuação somente após a conclusão final do edital, pois qualquer modificação em preços e quantidades afeta diretamente o resultado desta.
  • A seqüência de cálculo apresentada pode facilmente ser realizada com o auxílio de planilhas eletrônicas.

Cálculo do Índice Técnico:

Mesmo tendo elaborado todos os ajustes necessários nos valores de pontuação, ainda devemos tomar alguns cuidados quanto ao cálculo do índice técnico. É bastante comum o uso das seguintes fórmulas:


IT = 1 - [ (NP/PM) * P ] onde

IT = índice técnico da proponente

NP = número de pontos da proponente

PM = número de pontos máximos possíveis

P = peso


NF = IT * PO, onde

NF = nota final da proposta

IT = índice técnico

PO = preço do objeto


É usual a adoção do valor 0,3 para o peso, onde acredita-se que com isso estamos aceitando um acréscimo no(s) preço(s) do(s) objeto(s), de até 30 % em virtude dos recursos adicionais ofertados para pontuação.

Porém, existe aqui neste ponto um erro de interpretação, pois, na verdade, estamos aceitando um acréscimo de 42%. Vamos demonstrar isso com o seguinte raciocínio:

Suponha duas propostas para um determinado objeto:

Proposta

valor ofertado (PO)

número de pontos obtidos (NP)

número max. de pontos (PM)

IT

NF

A

$ 100,0

30

30

0,7

70

B

$ 70,1

0

30

1

70,1

Neste caso a vencedora seria a proposta A, com a menor NF.

Quanto nos custaram a mais os recursos adicionais ofertados na proposta A?

100/70,1 = 1,42, ou seja, pagamos 42% a mais para comprar os adicionais ofertados, e não 30% como se acredita.

Portanto, devemos ajustar o valor do peso (P), para que ele represente exatamente o valor dos bens pontuáveis que são incorporados ao objeto original, pois, se não procedermos assim, corremos o risco de adquirir estes bens por valores superiores aos de mercado.

A fórmula que nos fornece este valor é a seguinte (devemos obter um valor de P para cada lote) :



P = PA / (PA + PTL), onde:

P = peso

PA = preço total dos adicionais (unitário * num. de objetos)

PTL = preço total do lote (unitário * num. de objetos)


No exemplo mostrado no anexo temos:

PA = ( 250 + 1000 + 500) * 3 + (300 + 340) * 2 + 1000 * 3 = 9530

Supondo que o valor unitário dos objetos fosse:

  • micros $ 5000
  • impressoras $ 950
  • nobreak's $ 2600

teríamos:

PTL = 5000 * 3 + 950 * 2 + 2600 * 3 = 24700

e portanto P = 9530 / (9530 + 24700) = 0,28

Portanto, utilizando as fórmulas para cálculo de IT e NF, concluímos que, no nosso exemplo, pagaríamos 38% a mais pelos adicionais, que é um valor compatível com os preços de mercado, pois o peso P foi derivado deles.

Conclusão:

Se utilizamos a metodologia descrita neste trabalho, estaremos aplicando uma técnica de pontuação bastante justa, tanto para o contratante/adquirente como para os proponentes, e todo negócio só é bom quando é bom para as duas partes envolvidas.

Exemplo:

 

A

B

C

D

E

F

G

H

I

J

K

L

M

N

 

quesi- tos

valor unit.

qt

preço

preço %

prop. ao lote

pc

1/2 p/ parc.

min

H/I

X

Y

L*C

%

 

cpu

250

3

750

7,87

14,29

1

7,87

3,93

2,00

2

2

6

8

Item 1

memo

1.000

3

3.000

31,48

57,14

2

15,74

3,93

4,00

4

8

24

32

 

disco

500

3

1.500

15,74

28,57

4

3,93

3,93

1,00

1

4

12

16

Item 2

ppm

300

2

600

6,3

46,88

1

6,30

3,93

1,60

2

2

4

5

 

buffer

340

2

680

7,14

53,13

1

7,14

3,93

1,81

2

2

4

5

Item 3

kva

1.000

3

3.000

31,48

100,00

2

5,74

3,93

4,00

4

8

24

32

         

100

               

98