Prêmio CELEPAR de Informática e Cidadania - Projeto e-voluntários da saúde infantil:

uma proposta de humanização da assistência às crianças hospitalizadas
Autora: Rubemyr Maria Secco Chaiben

Introdução

A tecnologia, o desenvolvimento humano e o ambiente hospitalar.

Ao longo da história da humanidade a tecnologia tem sido um recurso poderoso para o desenvolvimento humano, para a redução da pobreza e para a melhoria da qualidade de vida. Muitas tecnologias atuais podem servir para capacitar as pessoas e ajudá-las a melhorar seus rendimentos, viver mais e de forma saudável, melhorar seu padrão de vida e participar mais ativamente em suas comunidades.

Entretanto, neste processo de avanço tecnológico percebe-se também um efeito contrário que é a crescente desumanização. Em tempos nos quais se valorizam os computadores e redes de telecomunicações, máquinas e automações em geral, o ambiente hospitalar é o lugar onde reavivam sentimentos muitas vezes esquecidos pelo ser humano. O amor, a fraternidade, a alegria, a tristeza, a dor, a tensão e a morte convivem diariamente num ambiente no qual a tecnologia é simplesmente uma aliada dos profissionais de saúde, sempre empenhados em preservar a vida.

 

Justificativa

A questão da humanização na assistência hospitalar

Hoje, é comum encontrar hospitais com excelência do ponto de vista tecnológico mas desumanos no atendimento aos seus pacientes. Esta é uma preocupação expressa pelo próprio Ministério da Saúde através do PNHAH - Plano Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (sítio na Internet www.humaniza.org.br). Atualmente, as provisões na área de saúde estão movendo-se rapidamente para uma nova era. Muitas pressões ambientais, tais como mudanças demográficas e aumento da longevidade, estão criando ambientes complexos para o enfrentamento de clientelas cada vez mais numerosas, com necessidades de constantes atualizações profissionais e melhorias na qualidade dos serviços hospitalares.

Neste cenário hospitalar é que as crianças e jovens são atendidos. Certamente, é para eles um ambiente totalmente desconhecido e no qual passam a conviver com a dor, o sofrimento e o contato com outros doentes. Além disso, ao ser hospitalizada, a criança fica afastada de sua casa, família, escola, amigos e de seus brinquedos. Esta situação é ainda mais agravada quando a hospitalização é muito prolongada e pode excluir de alguma forma a criança de seu universo imaginário. E, segundo Edgar Morin (MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Unesco/Cortez Editora, 2000. p.21.), "... a importância da fantasia e do imaginário no ser humano é inimaginável; dado que as vias de entrada e de saída do sistema neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo exterior representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem ao funcionamento interno, constitui-se um mundo psíquico relativamente independente, em que fermentam necessidades, sonhos, desejos, idéias, imagens, fantasias, e este mundo infiltra-se em nossa visão ou concepção do mundo exterior."

O trabalho voluntário através da tecnologia de informação e comunicação

Por outro lado, existe hoje um movimento crescente no sentido da ação voluntária. Muitas pessoas e empresas têm desenvolvido trabalhos voluntários junto a diversas comunidades. Uma iniciativa brasileira que merece destaque é o CDI - Comitê para a Democratização da Informática (sítio na Internet www.cdi.org.br).

Mas, e se este trabalho voluntário pudesse ser desenvolvido sem precisar sair do lugar e sem tomar muito tempo? Algumas iniciativas neste sentido também já têm sido feitas, como por exemplo o "Projeto e-voluntários" (sítio na Internet www.e-voluntarios.com.br/) lançado pela empresa IBM Brasil em 2001, o Ano Internacional do Voluntário.

Dentro deste contexto, este projeto levanta algumas questões principais: Será que as novas tecnologias de informação e comunicação podem ajudar neste processo de humanização no ambiente hospitalar? De que forma? Será que o contato de uma criança, via Internet, com seu ídolo - um jogador de futebol de seu time do coração, por exemplo - pode contribuir para sua recuperação? Será que este novo ambiente de interação dentro dos hospitais pode favorecer também os profissionais da saúde envolvidos na recuperação deste paciente? E, será que isto ajudaria a diminuir o tempo de permanência da criança no ambiente do hospital?

Esta proposta acredita que a resposta é afirmativa para todas estas questões. É importante salientar também que, no exemplo específico dos atletas de futebol, muitos já realizam este trabalho voluntário através de visitas a asilos, creches e hospitais. Neste caso, o trabalho de voluntariado digital favoreceria, uma vez que não tomaria muito o tempo do atleta, e poderia ser feito de qualquer lugar e a qualquer hora. É claro que este é somente um exemplo, pois na verdade, é comum hoje na Internet a interação, via "chats", de artistas de várias áreas com seus fãs e mesmo entre os internautas em geral, formando verdadeiras comunidades virtuais (LEVY, P. O que é virtual. São Paulo: 34 Literatura, 1996.).

Objetivo geral

Contribuir, com a ajuda das novas tecnologias de informação e comunicação, com o processo de humanização da assistência hospitalar no Paraná, especialmente no atendimento de crianças hospitalizadas, através da adoção de ações simples, viáveis e relativamente de baixo custo.

Objetivos específicos

- Implantar nos hospitais, pequenos centros de acesso à Internet. Os custos envolvidos não devem ser muito altos, uma vez que o Estado do Paraná já conta com uma excelente infra-estrutura de rede Internet e os computadores para acesso também podem ser de capacidade reduzida e provenientes de doações.

- Promover o voluntariado digital, através do "e-voluntário da saúde infantil", de forma que as pessoas possam doar um pouco de seu tempo e conhecimento em favor da comunidade, sem precisar deslocar-se fisicamente.

- Propiciar a este voluntário a participação ativa em sua comunidade, auxiliando na recuperação de crianças hospitalizadas e sendo também um agente neste processo de assistência hospitalar.

- Amenizar o problema da rejeição da criança ao tratamento e internação hospitalar.

- Criar um ambiente positivo e estimulador no processo de recuperação da criança.

- Propiciar um ambiente no qual as crianças, mesmo internadas, possam ter acesso à informação e possam continuar comunicando-se com sua escola, amigos, parentes, etc.

- Propiciar um ambiente de maior integração das crianças e familiares com os funcionários do hospital.

Considerações finais

A inspiração e a motivação para poder realizar esta proposta vêm da experiência com o trabalho de vários anos com pedagogia hospitalar em hospital público. Considero o uso das novas tecnologias de informação e comunicação um fator importante para a interação e integração entre pessoas e comunidades, visto que todos têm, de uma forma ou de outra, talentos e conhecimentos suficientes para serem compartilhados.

Em um ambiente hospitalar, a incorporação destas tecnologias mesmo em sua forma mais simples, qual seja a de colocar as pessoas em contato umas com as outras, pode proporcionar muitos benefícios, inclusive no processo de humanização da assistência hospitalar, uma preocupação hoje do Ministério da Saúde. Além disso, o trabalho voluntário tem crescido muito no Brasil nos últimos anos e pode representar um importante aliado destas novas tecnologias.