Autor: Luis Fernando B. Ortolani

Este artigo apresenta uma síntese das idéias apresentadas por Tom Peters em seu livro "Prosperando no Caos". A experiência em consultoria do autor sobre técnicas gerenciais e produtividade, a adoção do livro como bibliografia obrigatória em disciplina de mestrado em administração no Brasil e nos Estados Unidos e o número de exemplares vendidos são argumentos que sustentam as idéias nele inseridas.

Apesar do extremismo exagerado muitas vezes defendido pelo autor, a adoção de suas sugestões e, principalmente, seus princípios permite melhorar a produtividade das empresas.

A espessura do livro, na sua versão em português, não o torna convidativo à leitura. Porém, já nas primeiras páginas, o fascínio do conteúdo prende a atenção do leitor e os casos e idéias expostas são rapidamente associados à realidade de nossa empresa.

CENÁRIO ATUAL

O ambiente de atuação das empresas na atualidade é constituído de 4 características marcantes:

. Economia Global;

. Imprevisibilidade;

. Novas Tecnologias;

. O Novo Consumidor.

ECONOMIA GLOBAL

Este conceito engloba a elevada competição internacional que vem ocorrendo nos últimos anos. As empresas ultrapassam os domínios territoriais de seus países de origem e, necessariamente, ampliaram seus mercados de atuação transcontinental.

Apesar de inúmeros bloqueios protecionistas de alguns mercados, as características de determinados produtos e a troca de informação entre os habitantes do planeta têm exigido a presença desses produtos, rompendo barreiras políticas em detrimento de vantagens econômicas.

Isto significa que uma empresa pode tanto ganhar com o aumento de mercado onde atua além das fronteiras de seu país de origem, como perder devido à concorrência internacional que se estabelece. Em outras palavras, amplia-se o potencial de lucros e, proporcionalmente, os riscos.

IMPREVISIBILIDADE

O que já foi característica do passado - previsibilidade - hoje atua como uma grande incerteza inerente a qualquer tipo de negócio. A instabilidade de variações cambiais vem ocorrendo com maior freqüência nas últimas décadas. Da mesma forma, os mercados e a respectiva participação de cada empresa sofrem alterações drásticas em curto intervalo de tempo devido à ampliação dos concorrentes.

Isto significa que planejamentos de longo prazo não conseguem sobreviver pela mutabilidade do ambiente. Revisões destes planejamentos tornam-se necessárias em menores prazos. Enfatizam-se as estratégias a serem respeitadas por um planejamento dinâmico e a exigência da flexibilidade das empresas para se adequarem rapidamente às novas necessidades do mercado.

NOVAS TECNOLOGIAS

Indubitavelmente, a tecnologia sempre foi um fator diferenciador do elemento humano. Mesmo sob a abordagem antropológica, a variável tecnologia conhecida pelo ser humano o diferencia das outras espécies e também entre os próprios seres humanos, conceito este que pode ser aplicado muito bem às empresas.

O surgimento de novas tecnologias tem alterado, significativamente, os "modus operandi" das atividades humanas e, o que é mais importante, em intervalos de tempo cada vez menores. O domínio de certas tecnologias, neste caso, desponta como estratégico para a sobrevivência de determinados setores de atividade.

Uma empresa que desenvolve uma nova tecnologia cria um diferencial competitivo em relação às demais empresas daquele mercado ou pode até mesmo criar um novo mercado. Em qualquer dessas hipóteses, a supremacia desta empresa significa a redução ou desaparecimento nas empresas.

O NOVO CONSUMIDOR

Pode-se observar que o perfil do novo consumidor exige maior qualidade, tanto em produtos como em serviços. Outro aspecto relevante é que, além das características de preço, qualidade e entrega, valores intangíveis passaram a ser exigidos: assistência pré e pós-venda, garantia, suporte à instalação, compra após teste etc.

Tal fato exige das empresas cumprir com tais exigências, diferenciando-se, principalmente, pelos valores intangíveis percebíveis pelo consumidor, para garantir sua operação no mercado, além de buscar ganhos de produtividade que aprimorem continuamente as características de qualidade e preço.

A BUSCA DA PRODUTIVIDADE

O conceito geral de produtividade continua válido: a relação entre output e input. O que se deseja destacar é que a produtividade não pode mais ser encarada sob aspectos de esforço físico do indivíduo. É fundamental para esta abordagem, o conceito mais moderno que produtividade: a rentabilidade dos recursos empregados no processo de produção, o que caracteriza nitidamente um enfoque financeiro.

ESTRATÉGIAS PARA PRODUTIVIDADE

Considerando o ambiente atual das empresas e o conceito moderno de produtividade, definem-se estratégias gerenciais para as empresas do futuro. Estas visam direcionar o estabelecimento de planejamento nas organizações e a forma de atuação de executivos e trabalhadores em geral.

As estratégias apresentadas são complementares, ou seja, o sucesso de longo prazo depende da harmonia de desenvolvimento das quatro estratégias em conjunto por parte da empresa. Capacitação parcial em alguma ou algumas estratégias não resultam em ganhos de produtividade a longo prazo.

. Foco no cliente

. Flexibilidade organizacional

. Inovação constante

. Qualificação de pessoal

FOCO NO CLIENTE

Na atual conjuntura, a atenção dispensada ao cliente, atual ou potencial, é crucial para o sucesso. O novo perfil do consumidor, conforme citado anteriormente, obriga as empresas a desenvolverem especial atenção, em todos os níveis da organização, para prover um atendimento cada vez mais personalizado e atributos de qualidade do ponto de vista do cliente. Isto acarreta a diferenciação de produtos e serviços em maior escala, criando nichos de mercado altamente rentáveis para a empresa (oportunidades) que não podem ser desperdiçados. A identificação das reais necessidades de clientes permite atendê-los de maneira efetiva, singular e proporciona uma fonte inesgotável de boas idéias a serem exploradas pela empresa, podendo, eventualmente, ser atendidas a outros clientes.

Destaca-se, nesta estratégia, o fator qualidade, que para a empresa deve ser vista sob a ótica do cliente - o que é qualidade para o cliente.

FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL

Com mercados mutáveis a grandes velocidades, torna-se imprescindível à empresa adquirir a capacidade de mudanças em velocidades compatíveis.

Este processo envolve duas etapas. A primeira, é identificar a necessidade de mudança - o que a empresa deve mudar em função de uma alteração no seu ambiente, mudança aqui tanto interna como seu relacionamento com o ambiente esterno. A segunda, é como implementar as mudanças necessárias internamente na organização.

A postura mais indicada é desenvolver a familiaridade às mudanças antes que as mesmas passem do status de desejáveis para necessárias.

Não esquecer de eliminar todos os procedimentos e regulamentos que retardam ou impedem mudanças.

INOVAÇÃO CONSTANTE

Na busca pela produtividade, um componente chave que não tem recebido a devida atenção é o desenvolvimento de inovações. Esta estratégia encontra-se intimamente relacionada com a estratégia de oco no cliente porque, como já citado, ouvir o cliente pode significar inovações rentáveis.

Outro aspecto das inovações é quanto à postura gerencial. Os gerentes devem estimular as inovações entre seu grupo de subordinados, de maneira a se tornar prática habitual e valorizada. Entendam-se inovações como um somatório de pequenas inovações, isto é, pequenos incrementos sejam em produtos, em serviços, em rotinas administrativas, em comportamento ou qualquer outra área.

A cada inovação, sempre existe um risco associado e apenas dois resultados possíveis: sucesso ou fracasso. Em qualquer caso, a postura gerencial que produzirá ganhos de produtividade consiste em elogiar no primeiro caso, ou apoiar e incentivar no resultado reverso. O número de sucessos é diretamente proporcional ao número de fracassos; ambos têm validade, por benefícios (ou lucros) que podem proporcionar à organização ou pelo conhecimento de que um determinado caminho não deve ser seguido, o que, rapidamente descoberto, permite reduzir gastos em alternativas inviáveis.

QUALIFICAÇÃO DE PESSOAL

Iniciativas próprias tornaram-se essenciais por parte das pessoas da organização e em todos os níveis. Assumir riscos, inovar, assumir responsabilidades, comportamentos desejáveis na atualidade, direcionados para os objetivos da empresa, resultam em produtividade.

Para que isso ocorra, todo profissional da organização deve possuir qualificação equivalente aos resultados dele esperados, ou seja, investimentos em educação e treinamento, em todos os níveis, proporcionarão ganhos de produtividade a longo prazo. Da mesma forma, melhores produtos e serviços estarão disponíveis aos clientes, com melhor atendimento e valorização como um parceiro da empresa, permitindo aumento da lucratividade.

CONCLUSÃO

Pelos argumentos expostos, a busca de maior produtividade exige ações planejadas e agora.

Existe uma elevada relação entre produtividade e qualidade. Como se pode observar, as estratégias para produtividade apresentadas neste artigo encontram-se explicitamente relacionadas com os princípios da Gestão pela Qualidade Total, em desenvolvimento na Celepar.

Cabe ressaltar que a produtividade somente pode ser aumentada, se medida. Portanto, a existência de indicadores é fundamental para permitir comparações tanto a nível interno da empresa, como também de seus concorrentes diretos, atuais ou potenciais.