Pulhas na Internet
Pulha, segundo mestre Aurélio é um substantivo feminino, cujos significados são:
Na Internet uma pulha é uma história que é apresentada como se verdadeira fosse, com argumentação aparentemente coerente, contando uma história com começo, meio e fim, que embora meio esquisita pode até fazer algum sentido, mas que é completamente inventada. A finalidade de uma pulha é a mesma de inventar um boato: soltar o bicho e vê-lo crescer, espalhar-se, ser levado a sério aqui e acolá, e lá no fundo, divertir-se com a credulidade da sociedade humana. Carl Sagan, um dos maiores divulgadores da ciência do século XX, conta em um dos seus livros a história de um vidente australiano que foi "fabricado" por um jornalista. Primeiro foi apresentado como coisa séria, teve descritos os seus acertos passados (todos inventados), foram mostrados os dias e locais onde ele se apresentara com sucesso (todos falsos), os doentes que curara (nenhum verdadeiro). Toda a imprensa séria, que supostamente verifica as coisas antes de publicar, engoliu a história. Se apenas um dos inúmeros detalhes apresentados fosse checado, qualquer um veria estar diante de uma farsa. Ninguém o fez. Quando o jornalista apresentou a história toda, quase teve de se mudar de país, tamanha ira atraiu. O fato é que as pessoas querem acreditar, adoram uma história de capa e espada, qualquer coisa que sirva para fugir de uma existência cinzenta e morna, que é o que todos temos. É nesse caldo de cultura que surgem as pulhas. Todas contam uma história de David contra Golias, alguém tentando desmascarar uma grande empresa ou governo. Todas citam uma autoridade inventada, eventualmente dando alguns nomes ou referências, mas nada que possa ser verificado. Chama-se a isto de "argumento da autoridade", e cá pra nós, não é novo, já era usado na idade média quando alguém ousava discordar de um grego famoso e antigo. Elas fazem alguma referência aos bons sentimentos do leitor, pedindo ou até implorando que ele passe adiante a história. Afinal, todos precisam saber aquilo. De fato, uma pulha só é bem sucedida se for passada adiante rapidamente. Como a Internet está cheia de novatos - é fácil ver pelo ritmo de crescimento da rede -- eles sempre fazem a massa de manobra. Me lembrei dos pobres estagiários, é mais ou menos a mesma coisa. Ninguém está livre das pulhas, que são mostradas e divulgadas com a maior das boas vontades. O sujeito incha o peito achando que presta um grande serviço divulgando aquilo e mal sabe que está fazendo o papel de bobo. Na universidade onde dou aula, volta e meia alguém surge com a última e na UFSC onde estudei e onde ainda tenho um e-mail, todo mês aparece um cristão-novo que logo é recriminado pela administração de rede de lá. Portanto, como disse acima, ninguém está livre. Enquanto houver novatos e enquanto o ser humano for curioso, teremos pulhas. Em outras palavras, provavelmente até o fim dos tempos... Quando a pulha faz referência a empresas sérias, basta consultar o site das mesmas. Geralmente, tem um baita aviso na primeira página. Acabei de confirmar isso em uma grande empresa mundial de telefonia celular. Uma boa política para se certificar da veracidade de uma suposta pulha é usar a própria Internet para verificar a falsidade ou veracidade da alegação. Eis uma lista (incompleta, é claro) das principais pulhas que andaram por aqui: 1. Urina de rato em latas de refrigerante teriam matado a filha de uma amiga do remetente. Ou seria uma amiga da filha? 2. Um fabricante de celular estaria dando um aparelho de brinde para quem repassasse um certo número de vezes aquela mensagem. Aqui só uma pergunta: como alguém iria contar isso? 3. Uma corrente contra a exibição de um filme que mostraria Jesus e seus apóstolos como gays. Nunca se ouviu falar desse filme. 4. Supostas experiências com raio laser da terra fariam aparecer logotipos de marcas terrestres na lua, certamente em dia de lua nova. Não temos nem idéia da tecnologia que seria necessária para isso. 5. A história de que a amazônia estaria sendo apresentada como "área internacional" em livros de geografia nos EUA. Esta história eu lí -- supostamente a sério -- no jornal Estado de São Paulo. Pura pulha, de primeira qualidade. Estes livros não existem. 6. Água que explode ao ser aquecida em forno de microondas. Esta mensagem está cheia de letras maiúsculas, como se o remetente estivesse gritando. Aliás este é um bom sintoma de pulha. 7. Grandes cadeias de lanchonetes estariam criando coisas (meio bicho meio vegetal) para produzir seus sanduiches. Qualquer aluno de 1º ano colegial de biologia pode atestar ser impossível, mas a pulha busca ser convincente. Não caia nessa. 8. Um dos componentes usados nos desodorantes estaria causando câncer de mama. Conversa fiada. 9. Jovens à beira da morte, no seu último leito, fazem apelos dos mais diversos. Esta é uma história recorrente na Internet. Volta e meia aparece. Parece pulha, tem cheiro de pulha, bem como o aspecto e a consistência. Poderia citar muitos mais. Para resumir, valem as seguintes dicas de "cheiro de pulha". a) Um pedido desesperado de que a coisa seja mandada adiante. b) Nomes de pessoas ou de instituições, aparentemente sérios, mas que não podem ser verificados, principalmente através da Internet. c) Nomes complicados (muitas vezes inventados) que parecem dar credibilidade científica àquela bobajada. d) Um certo ar de conspiração, de tentativa de abafar que precisa ser rompida pelo heróico remetente. Quando estiver diante de uma história dessas, antes de passá-la adiante, convém investigar, perguntar, consultar a própria Internet. Com 99% de chances, a história será falsa, em outras palavras, um baita pulhão. |