Software Livre: porquê?

Prezado leitor, pensemos juntos. Se você tivesse que responder à pergunta “porque software livre?”, diversas coisas poderiam ser cogitadas, vamos lá.

Uma boa poderia ser porque software livre é bem mais barato. Se imaginarmos o custo de uma caixinha de software contendo o sistema operacional dominante no mercado e o de outra caixinha contendo a suíte de escritório do mesmo fabricante (editor de texto, planilha e criador de apresentações), chega-se facilmente aos 1000 reais1.É um valor e tanto, já que é quase a mesma coisa que se paga pelo hardware, no qual esses programas vão rodar.

1Dados obtidos em 4 de junho de 2003 no endereço: http://www.precomania.com: Office a R$ 753,00 e Windows a R$ 392,62.

Outra boa resposta poderia ser porque os programas em software livre são abertos. Qualquer um que tenha a curiosidade de olhar o funcionamento deles pode fazê-lo. O passo seguinte, que poucos dão, mas que merece ser considerado é a possibilidade de modificar algo nesses programas a fim de adequá-los a uma necessidade (ou idiossincrasia, não importa) particular. Finalmente, o terceiro passo, mais raro, mas ainda possível, é não só promover modificações, mas também disponibilizá-las para o resto do mundo. Também tudo livre e aberto, vá em frente, Linus Torwalds começou assim.

Alguns podem responder de maneira filosófica: o software como uma das mais nobres empreitadas do intelecto humano, não deve ficar restrito a poucos (e endinheirados) usuários. Assim, como a ninguém ocorreria cobrar de ouvidos atentos a audição da Nona sinfonia de Beethoven ou de uma abertura de Bach, também não se pode impedir que seres humanos usem do computador e de suas benesses por falta de dinheiro.

Ainda os filosóficos poderiam arguir que em um país pobre (o nosso) em vez de equipar 5 escolas com hardware e software proprietário é muito melhor equipar 10 (o dobro delas) com o mesmo recurso, agora usando software livre. Somos uma sociedade em que falta quase tudo, não há porque gastar em software, quando há uma alternativa razoável.

Os mais econômicos, para não dizer os mais pão-duros, poderiam querer o software livre para se verem livre dessa roda viva que é trocar hoje o software porque a máquina exige e depois trocar a máquina porque o software exige e depois trocar o software porque... ufa, que cansaço. Não nos esqueçamos que o editor de textos de 5 anos atrás já fazia tudo o que era necessário e mais um pouco. Todos os “melhoramentos” (notem as aspas, por favor) que vieram de lá para cá, atendiam muito mais aos desejos dos fabricantes (de hardware e de software) do que as necessidades reais dos usuários. Tá certo que agora você consegue letras cor-de-rosa, sublinhadas por amarelo piscante que tocam música enquanto são mostrados com um único toque de teclado. Mas, cá pra nós, quem precisa de letras cor-de-rosa com amarelo e ainda por cima, piscante? E com música?

Todas as respostas acima são boas. Cada um pode escolher aquela de que mais gosta. Até um mix delas pode ser produzido. Mas, a minha preferida vem a seguir:

Eu gosto de software livre porque ele é mais estável. Não dá pau. Não deixa a gente segurando o pincel enquanto a escada é sorrateiramente surrupiada. Não perdemos horas de trabalho por ter esquecido de salvar um arquivo 3 segundos antes daquela mensagem “Este programa realizou uma operação inválida ... blá, blá”. Não precisamos reinicializar a máquina 2 ou 3 vezes ao dia. Particularmente no caso de textos, há mais de 2 anos uso um compositor chamado LATEX, construído por um sujeito chamado Donald Knuth, que ficou pronto em 1982, e de lá para cá É O MESMO PROGRAMA. Só foi sendo consertado nos defeitos que foram aparecendo. Há mais de 5 anos que nenhum erro grave é encontrado no programa. Será que dá para dizer o mesmo dos softwares proprietários que andam por aí? Quando você cola uma figura no meio do texto em um arquivo LATEX pode ter a certeza de que ele sempre vai estar lá. Pode-se garantir que daqui a 10 anos vai ser possível compilar o texto, sem erro. Dá para dizer o mesmo dos softwares proprietários? Aliás, a propósito esses dias recebi um e-mail de uma pessoa a quem não conhecia, de Ponta Grossa, desesperada porque havia recebido um arquivo formatado em Wordstar 2.10 e não conseguia achar o programa para ler o arquivo. Eu não poderia ajudar? Não, infelizmente não pude. É isso que dá considerar o software como produto de moda (mudança a cada estação do ano).

Para concluir: software bom é software velho. Como o vinho. Todo e qualquer programa (mesmo os livres, mesmo o sagrado LATEX) tem muitos erros quando é liberado. Apenas o uso constante e contínuo pode depurá-lo. O ruim, é quando um programa que começa a ganhar confiabilidade, é substituído por sua versão nova, “MUITO MELHOR”. (as aspas, de novo). Melhor para o fabricante, é claro. Para o usuário, uma lástima.