Ufanismo desaforado
Autor: Vanderlei Vilhanova Ortêncio
Todos sabemos o quanto a informática é pródiga no uso de acrônimos (CORBA, OSI, TCP/IP, etc.), figuras de linguagem ("o sistema caiu", "memória estendida", etc.), mas o que mais deve irritar os "outros" é o ufanismo desmedido. E isto é coisa antiga. Os colegas do tempo do bit lascado e até os mais recentes, algumas vezes rotulados pela mídia leiga como "informautas" já devem ter ouvido, mais de uma vez, aquela comparação surrada da evolução da indústria de computadores com a da indústria automobilística. A que eu mais ouvi era mais ou menos assim: "Se a indústria automobilística tivesse evoluído como a de informática, um Rolls-Royce andaria milhares de quilômetros com um litro de gasolina e custaria apenas dezenas de dólares".
Hoje recebi uma mensagem de um atento e bem-humorado ex-aluno (que por justiça de créditos devo citá-lo: Ronaldo Szostak), comentando que, enfezada de tanta provocação, a turma da GM resolveu finalmente revidar. Acontece que o famoso bilionário e plenipotenciário empresário da indústria de software, Bill Gates, na última COMDEX teria ilustrado uma apresentação lançando mão da tal comparação, com o agravante de ser ainda mais específico: "Se a GM tivesse evoluído tecnologicamente tanto quanto a indústria de computadores evoluiu, estaríamos todos dirigindo carros que custam 25 dólares e que fazem 1000 milhas por galão". (obs: 1 milha = 1,6 km; 1 galão = 3, ... alguma coisa litros - ou seja, algo em torno de 500 km/l).
Depois dessa, era de se esperar uma resposta "à altura" (e que altura?). Foi o que aconteceu. Recentemente, a General Motors divulgou o seguinte comentário a respeito dessa declaração:
- "Sim, mas vocês gostariam que seus carros quebrassem duas vezes por dia?"
E como corolário disso se espalhou a seguinte comparação represália:
SE A Indústria de Informática FABRICASSE CARROS...
1. Toda vez que eles repintassem as linhas da estrada você teria que comprar um carro novo.
2. Ocasionalmente seu carro morreria na auto-estrada sem nenhuma razão aparente, e você teria apenas que aceitar isso, religá-lo e seguir adiante.
3. Ocasionalmente, a execução de uma mano-bra faria com que seu carro parasse e falhasse e você teria que reinstalar o motor. Por alguma estranha razão, você aceitaria isso também.
4. Você poderia ter apenas uma pessoa dentro do carro de cada vez, a menos que você comprasse o "carro95" ou o "CarroNT". Mas, depois você ainda teria que comprar mais assentos.
5. Macintosh faria um carro que seria movido a energia solar, confiável, cinco vezes mais rápido, duas vezes mais fácil de dirigir - mas apenas poderia rodar em 5 por cento das estradas.
6. Os proprietários de carros Macintosh poderiam conseguir caríssimos "upgrades" para carros Microsoft, o que faria seus carros rodarem muito mais lentamente.
7. Os indicadores luminosos de falta de óleo, gasolina e bateria seriam substituídos por um simples "Indicador luminoso geral" (aqui e' feita uma ironia ao famoso GPF "General Protection Fault" do Windows, onde é dito que o indicador único chamaria GCF "General Car Fault").
8. Novos assentos forçariam todos a terem o mesmo tamanho de bunda.
9. O sistema de "airbag" perguntaria: "Você tem certeza ?" (Are you sure ?) antes de entrar em ação.
10. Se você se envolvesse numa colisão, você não teria a menor idéia do que estaria por acontecer.
Diz o velho e reformulado ditado que "quem com ferro confere, com ferro será conferido". Será mesmo?
Neste ponto eu iria fazer uma conclusão, mas inexplicavelmente tudo ficou travado e a única maneira de retomar o trabalho foi apertar a tecla RESET (vocês conhecem, é claro). Felizmente eu havia salvo o arquivo e pude continuar mas a minha inspiração me abandonou.
Acho que isso ainda vai render muito "buchicho" de parte a parte, mas aprender com o infortúnio alheio ainda é, no mínimo, mais confortável.