Uma aproximação da CELEPAR no padrão internacional SQL

Autor: Vanderlei Vilhanova Ortêncio - GPT


SQL é o acrônimo de "Structured Query Language", uma linguagem que surgiu para acessar bancos de dados de forma simples, valendo-se de conceitos do modelo Relacional proposto pelo Dr. Codd em 1970, e que, diga-se de passagem, ainda não a abençoou, fato este que parece não impedir seu sucesso no mundo pragmático. Esta linguagem vem tendo grande aceitação na comunidade, e essa aceitação cresce cada vez mais graças ao bem sucedido esforço de padronização e à evolução dos produtos de banco de dados e ambientes de desenvolvimento na busca de soluções para Sistemas Abertos e arquiteturas ClienteServidor.

Mas, afinal de contas, o que uma empresa estadual de informática tem a ver com padrão internacional para linguagem de banco de dados SQL?

A primeira resposta a esta pergunta passa pela perspectiva de uso do padrão SQL, como meio para promover interoperabilidade e portabilidade de aplicações e sistemas para facilitar manutenção de sistemas de Banco de Dados entre ambientes heterogêneos. Este fato por si só já justifica o interesse, pois sendo parte da missão da CELEPAR prover soluções de informática para o governo do Estado do Paraná, deparamo-nos com uma realidade complexa em que vários órgãos aceleram seu processo de informatização, e se critérios coerentes não forem adotados, pode ocorrer uma proliferação de produtos diversificados para o gerenciamento de banco de dados, capazes de desencadear a síndrome de Babel.

Ora, os órgãos do Estado precisam se integrar, e a tecnologia não pode ser impeditivo para tal, mas antes disso, um instrumento que viabilize uma maior integração pelo compartilhamento das bases de dados. A unificação de fornecedor de SGBD (Sistema Gerenciador de Banco de Dados), ou seja, comprar de um único fornecedor, não é uma solução que sobreviva aos questionamentos mais primários. A força do padrão SQL surge então como uma alternativa técnica e politicamente correta, pois permite independência de fornecedores nominalmente especificados, assegura maior preservação dos investimentos em desenvolvimento de sistemas, facilidade de integração entre bases de dados de ambientes computacionais distintos, e evolução para novos patamares tecnológicos.

Isto porque a indústria de software tem investido fortemente na adoção do SQL como interface para acesso a banco de dados. Os produtos ditos de "primeira linha" ou "best-sellers" em SGBD são os que mais investem para se apresentarem em conformidade com o padrão SQL definido pela norma ISO/IEC 9075:1992, também chamada SQL-2 ou SQL-92. Os fornecedores de SGBD e ambientes de desenvolvimento que se mostraram relutantes por mais tempo, agora correm atrás do prejuízo.

Nos órgãos de governo dos Estados Unidos da América, a adoção do SQL está consolidada. Tanto assim, que o NIST (National Institute of Standards and Technology) mantém um laboratório de testes de conformidade para SQL, procedendo testes trimestrais. Com base nestes testes, o NIST emite certificados de conformidade com SQL para os fornecedores que apresentaram seus produtos para os testes. A conformidade com SQL no nível básico (Entry Level) é requisito mandatório para compra de produtos SQL por órgãos do governo federal daquele país. Os outros níveis de conformidade são opcionais.

Existem muitas coisas para serem ditas a respeito do padrão SQL, que poderão ser objeto de outros artigos neste periódico, mas já começamos a nos distanciar do tema proposto no título deste artigo.

A CELEPAR tem apoiado a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sediando o SC10 (Subcomitê de Software) e tendo representantes participando ativamente de várias CE (Comissões de Estudo). Uma destas CE, a Comissão de Estudos em SQL, está atuando desde 1993 no estudo de normas e padrões para SQL. Uma das metas é a elaboração de projetos de normas brasileiras, baseada nos textos das normas ISO/IEC 9075 e demais documentos relacionados. Outra responsabilidade da CE é apresentar o voto brasileiro no processo de elaboração dos documentos nos fóruns de discussão da ISO/IEC JTC1. Isto significa que podemos influir na formulação do padrão SQL, apresentando propostas e votando propostas de outros países.

Este fato ficou fortemente evidenciado quando fizemos nossa primeira participação física numa reunião internacional. Isto ocorreu em janeiro deste ano, no Rio de janeiro, durante duas semanas , sendo a delegação brasileira composta por dois membros. Tive a oportunidade de representar a delegação brasileira, nas reuniões que congregaram os membros do DBL Rappourter Group, que é o grupo que produz e delibera sobre o conteúdo das normas relativas à linguagem para Banco de Dados. Nestas reuniões foram discutidas questões relativas ao novo padrão SQL, que incorpora fortemente as características de tecnologia Cliente/Servidor e os conceitos da tecnologia de Objetos, e é provisoriamente chamada de SQL-3. Também foram tratados vários outros temas, desde a compatibilidade com SQL-92, eventuais correções, etc e outras novidades como SQL para Multimídia, Temporal SQL (uma proposta aprovada para incorporar tratamento de temporalidade no SQL), PSM (Persistent Storage Module), RDA (Remote Database Acess), etc. Nesta reunião, o Brasil era o único país de língua latina representado, uma vez que a Espanha não compareceu, e não vi evidências de participação ativa de outro país de língua latina, como Itália, Portugal, etc. Cabe ressaltar que da América latina, o Brasil é o único participante com direito a voto. Este fato aponta para um importante papel deste trabalho para o Brasil no contexto do MERCOSUL.

A participação nesta reunião permitiu que tivéssemos acesso a muitas informações que vínhamos buscando já há muito tempo, para o andamento dos trabalhos da CE em SQL. Agora dispomos de um volume considerável de documentos que nos chegam tão logo são produzidos pelos "experts" membros dos grupos de trabalho da ISO/IEC JTC1 SC21 WG3, uma vez que nos encontramos na condição de revisores de alguns destes trabalhos e, também, nas reuniões semestrais e comum a votação de documentos "draft", para progredirem de status (existem vários estágios por que passa um documento, na sua elaboração, até se tornar um "standard"). Além disso, foi uma boa oportunidade para troca de informações com especialistas de altíssimo nível, de vários países.

Estas informações têm sido extremamente úteis também nos trabalhos para definição de tecnologia de gerenciamento e uso de dados para a CELEPAR, e nos processos de aquisição de produtos. Os agentes envolvidos com AD (Administração de Dados) em atividades relacionadas com a tecnologia do dado, têm se beneficiado destas informações para orientar definição de requisitos para SGBD em projetos de informatização, e até mesmo em processos de licitação. Estarmos participando dos trabalhos que definem o padrão que orienta os fornecedores na definição de seus produtos com a tecnologia para o ano 2000, é sem dúvida uma excelente oportunidade que nos permite maior confiança nas soluções que estamos encaminhando, desde já, em nossas contribuições para o setor público no Estado do Paraná.