Uma empresa do tamanho do Paraná
Conheça a estrutura tecnológica da empresa pública responsável pelos serviços de informática do Governo do Estado
Criada em 24 de novembro de 1964, a Celepar é a primeira empresa pública de informática do Brasil, fundada para executar a política de tecnologia da informação no Paraná. Apesar disso, quem analisa a situação atual da companhia não imagina que, há alguns poucos anos, sua infra-estrutura era desproporcional à demanda de serviços de um cliente como o Governo do Estado.
Ter infra-estrutura é ser capaz de criar e manter sistemas, contar com hardwares de grande capacidade, métodos de segurança confiáveis, tecnologia para transmissão de dados, suporte para armazenamento e principalmente capacidade técnica.
Para horror dos neoliberais, para quem os investimentos nas empresas públicas servem para ampliar suas cantilenas sobre a elefantíase do Estado, o desenvolvimento da Celepar resultou em diminuição de gastos, aprimoramento da qualidade dos bens e serviços prestados, integração dos diversos órgãos governamentais e autonomia tecnológica. Para os paranaenses, a ampliação da infra-estrutura da Celepar significa, direta e indiretamente, maior agilidade e confiabilidade em serviços como saúde, educação, comunicações, transportes, finanças e trânsito.
Nesta reportagem, você vai conhecer como a Celepar integra digitalmente as centenas de órgãos do governo espalhados pelos municípios; qual a tecnologia empregada e suas possibilidades; a potência e o funcionamento do hardware que torna possível o acesso aos serviços do governo por meio da Internet e da Rede Corporativa; de que maneira os cidadãos e servidores que têm dúvidas são atendidos; e como tudo isso foi feito com dinheiro que anteriormente era usado para o pagamento de direitos autorais de softwares que hoje são substituídos por programas desenvolvidos pelos técnicos da própria Celepar.
Rede Corporativa, a linha digital que integra o Paraná
No Paraná, 93 organizações compõem a estrutura governamental, entre secretarias, autarquias, empresas públicas, sociedades e mais uma infinidade de setores. Apesar de Curitiba centralizar todas essas instituições, a responsabilidade delas muitas vezes não se limita à capital.
Por causa disso, os municípios contam com centenas de escritórios do governo espalhados pelo território. Juntos, eles geram, a todo momento, uma quantidade gigantesca de informações. Elas precisam ser constantemente trocadas entre os diversos segmentos do Estado, resultando em novas ordens, desembocando em mais dados, ramificando-se em outras comunicações, que vão se multiplicando quase que infinitamente. Como é possível saber o que está sendo feito em cada canto do estado? Como se entender no meio desse turbilhão?
“É justamente essa a responsabilidade da Rede Corporativa do Governo do Paraná, que é administrada pela Celepar”, responde o gerente de serviços de rede, Odemir Bara. Trata-se da linha que interliga digitalmente 2.059 pontos de presença do Governo em 293 municípios. O estado funciona como se fosse um escritório gigante, onde uma rede interna permite que os computadores troquem instruções entre si de maneira rápida e segura.
A Internet ‘comum’ não poderia fazer esse serviço, pois é muito vulnerável a espionagens e intervenções externas. “A rede é o método ideal, que oferece sigilo e segurança que as atividades governamentais demandam”, comenta o gerente.
“O número de integrantes da Rede Corporativa cresce a cada dia. Nosso objetivo é unir todas as extensões dos órgãos do Governo nos 399 municípios paranaenses, e estamos conseguindo”, argumenta. Em janeiro de 2003, 165 localidades compunham a conexão estadual. Em três anos e meio esse número cresceu 78%.
As tecnologias da Rede Corporativa
Atualmente existe uma grande diversidade de tecnologias que podem ser empregadas na constituição de uma rede corporativa. Dependendo da opção, tem-se acesso a um serviço diferente.
A Rede Corporativa do Paraná é o resultado de uma seleção de tecnologias, escolhidas de acordo com a realidade dos municípios. A maior parte dos pontos são integrados via cabeamento terrestre. No entanto, alguns locais remotos contam com acesso via satélite. A Celepar escolhe o que será utilizado e contrata o serviço, que é prestado pelas operadoras de telecomunicações.
Até 2003, o método predominante era o frame relay. “De lá para cá, migramos para uma nova tecnologia que proporciona maior qualidade, performance e facilidades de gerenciamento”, revela Bara. É o multiprotocol label switching (MPLS) que, além de oferecer novas possibilidades, mantém os recursos do frame relay.
O novo sistema funciona de forma diferente dos outros: resumidamente, entende-se que a rede comum consulta o IP (endereço digital) das máquinas conectadas para cada “pacote de dados” trocado entre elas. Um “pacote” é o mesmo que os átomos do corpo de uma aplicação. Até mesmo um clique no mouse despende milhares deles. Assim, para cada pacote enviado tem-se o mesmo número de requisições ao IP. Isso pode deixar o processo lento.
O MPLS é mais inteligente porque apenas o primeiro pacote da aplicação consulta o endereço de destino. Os outros apenas “seguem” o caminho aberto pelo pioneiro, agilizando a rota. Na informática, esse fenômeno é conhecido como “rotulagem”.
O sistema permite ainda a adoção da tecnologia VoIP (Voz sobre IP) que torna possível a conversação telefônica por funcionários de todo o estado sem custos adicionais de telefonia. “É como discar um ramal dentro do prédio de uma empresa”, simplifica Bara. Para o gerente, essa medida representa agilidade no trabalho e economia para os cofres públicos. Atualmente, 72 organizações do Estado desfrutam do VoIP.
O caixa forte da Celepar
Quando uma pessoa acessa a Rede Corporativa por meio do seu computador, ela não percebe – a menos que seja especialista em informática – que por trás do simples digitar no teclado há todo um complexo trajeto a ser percorrido pela informação, passando por metros – às vezes quilômetros – de cabos, entre o princípio e o destino final. Até agora, o caminho que mostramos ficou entre os pontos espalhados pelo Paraná.
Mas essa é apenas uma das funções da Rede Corporativa. A principal é oferecer uma boa conexão com o datacenter. Esse nome pode ser traduzido como “central de dados”, e representa o local onde está armazenado o conteúdo eletrônico usado pelo Governo do Paraná na maior parte de seus serviços.
Por exemplo, se o policial registra um boletim de ocorrência – utilizando um programa de computador feito especialmente para isso – , vai acessar a Rede Corporativa e salvar esse documento com todos os outros arquivos da Secretaria da Segurança Pública, locados no datacenter. O mesmo processo faz a funcionária do colégio ao digitar o histórico escolar dos alunos, que também está guardado na Celepar. “A conexão com o datacenter viabiliza uma forma avançada do uso da tecnologia”, comenta Bara.
Além de trabalhar com a rede, a central hospeda sítios eletrônicos. Por exemplo, se você digitar no seu navegador, irá acessar informações hospedadas na Celepar.
O datacenter está instalado na sede da estatal, em Curitiba. É composto por duas salas repletas de maquinários, totalizando 179m2 cuidadosamente assistidos por 32 câmeras de vídeo. O acesso é restrito aos técnicos. Eles passam o dia atentos ao volume de informações que trafegam pelos computadores e ao bom desempenho dos mesmos. Para isso, um software desenvolvido inteiramente por eles faz o serviço de monitoração. Se é detectado algum problema, os técnicos tomam providências.
O software ainda calcula o tempo de resposta de todas as páginas da web hospedadas, isto é, em quanto tempo o usuário consegue acessar o sítio. Um segundo é um tempo considerado aceitável, dois é definido como regular e se passar de três é sinal de alerta. Mas a maior parte das páginas fica bem abaixo disso no decorrer do dia. Mais da metade delas respondem em menos de 0,03 segundos, e boa parte fica cravada em 0,01. O congestionamento se dá nos horários de pico do uso da rede e em serviços específicos.
De acordo com o coordenador da divisão de operações, Altamir Brun, o datacenter recebeu nos últimos três anos um investimento de cerca de R$ 15 milhões, somente na modernização e compra de novos equipamentos. Também foram criadas condições para alojar corretamente os cabos e as máquinas. “É necessário um ambiente com temperatura controlada, sistema anti-incêndio, segurança e outras medidas que permitam o bom uso, a conservação e a longevidade de toda essa estrutura”, argumenta.
Via digital
A qualidade do sistema usado para comunicação entre os computadores do datacenter reflete diretamente em toda a Rede Corporativa do Paraná. Se há uma boa conexão interna, a informação fica disponível com velocidade para o usuário externo.
O conjunto de equipamentos responsáveis por este serviço interno é chamado de core – em português, “principal”. Na verdade, este é apenas o nome do componente mais importante, mas justamente por isso todo o conjunto recebe a mesma terminologia.
São três componentes: o core propriamente dito, máquina que tem como função organizar todo o trânsito de informações, determinando para onde cada uma delas deve ir. Para exercer esse comando, o core conta com um ágil e organizado sistema de cabeamento, que serve como via digital para o tráfego de dados. Mas essa máquina pode ficar sobrecarregada se centenas de fibras estiverem conectadas à ela. Para evitar isso existem os switches de acesso, pequenas centrais onde são encaixados os cabos que partem de diversos computadores. Os cabos de todo o datacenter são ligados à uma série de switches, e somente eles ficam ligados ao core.
Esse esquema de core funcionou até abril deste ano na Celepar. Perceba, no entanto, que um equipamento é “amarrado” no outro. Se um switch falhar, parte significativa dos serviços ficam paralisados. E se o core pifar, tudo pára!
“Essa situação era suscetível à indisponibilidades generalizadas por depender de um único equipamento central, pois em caso de falha todos os serviços seriam afetados”, confirma o coordenador da divisão de infra-estrutura de rede, Júlio César Pires Corrêa. “O número de portas de acesso [espaços para conectar cabos nos switches] já estava chegando no seu limite, impedindo o crescimento dos serviços”, acrescenta.
Por isso, o sistema recebeu um investimento de R$ 1 milhão na sua ampliação e modernização. Graças a um novo cabeamento, a velocidade está dez vezes maior (era 100 mega bits por segundo, agora equivale a 1 giba bit). O datacenter agora tem dois cores, que são conectados entre si. Os dois recebem informações vindas de qualquer dos switches. Assim, se um dos cores está saturado ou com problemas, é possível optar por um trajeto mais veloz. Esse método de múltiplas conexões é chamado na informática de “redundante”, e garante alta disponibilidade dos serviços.
Servidores e clientes
O sistema de core estuda unicamente qual é o caminho mais veloz a ser percorrido para evitar o tráfego digital. Mas caminho para chegar aonde? A ordem quem dá é um componente chamado servidor. Fisicamente é como se fosse o gabinete de um computador caseiro, mas com alta capacidade de processamento de dados, ou seja, velocidade. São dezenas deles alojados em grandes armários metálicos, os racks.
Cada servidor é responsável pelo atendimento a um cliente específico: alguma secretaria, universidade ou sítio na Internet. Ele reconhece o cliente e indica onde está a informação que o computador do usuário procura, ou diz onde ela devem ser gravada, dependendo do caso. Alguns servidores são capazes de enviar ou salvar pequenas informações no próprio disco rígido, mas geralmente esse é o papel de outra peça do datacenter, que vamos conhecer no decorrer da reportagem.
De maio de 2004 até julho deste ano, o número de servidores saltou de 179 para 295, um aumento de 65%. “Quando o número de servidores cresce, quer dizer que mais clientes estão sendo atendidos ou mais serviços estão sendo oferecidos”, esclarece Altamir Brun.
Hoje a maior parte dos servidores é de posse da própria Celepar, mas eles guardam informações de diversos clientes. A maior parte das máquinas é usada para hospedagem de páginas na Internet dos órgãos do Governo do Estado.
O sistema operacional predominante é o Linux Debian. A Celepar passou a adotar o Linux nos novos servidores adquiridos por considerá-lo um programa mais adequado ao ambiente do datacenter (veja a tabela). “Mas isso não significa um abandono dos sistemas usados antes. A migração precisa ser lenta e prudente para não afetar os serviços da rede”, comenta o coordenador.
Storages: até 90 mil gigabytes em informações
Quem usa a Rede Corporativa está enviando e gravando dados a todo momento. O servidor aponta onde, dentro do datacenter, está o que o computador do usuário procura. Armazenar grande quantidade de arquivos é papel do storage, componente proporcional ao HD ou disco rígido de um micro comum. A “geladeira” – apelido dado pelos técnicos – é uma grande caixa de metal e plástico, com altura aproximada de uma pessoa.
Os storages hoje têm uma capacidade 20 vezes maior do que há três anos e meio. “Assim como a rede se expandiu, a área de storage também precisou crescer”, diz o gerente de serviços operacionais, Jarbas Pessoa de Oliveira. A capacidade total de armazenamento era de 4,4 terabytes, agora é 89,4.
Para entender melhor, vale dizer que um terabyte é o mesmo que mil gigabytes. Ou seja, a Celepar pode arquivar quase 90 mil gigabytes. Seriam necessários 128 mil CDs comuns (de 700 megabytes) para manter tudo o que está e pode ser gravado lá. E ainda tem o espaço dos servidores, que é próximo a 20 terabytes.
Esse aumento é o resultado da compra de quatro novos storages, feita em parceria com os clientes atendidos. No total, foram investidos R$ 4,2 milhões.
Os maiores usuários desse arquivo gigante são a SESP (Secretaria de Segurança Pública), com média de 39 mil boletins de ocorrência eletrônicos por mês, além de contar um projeto de digitalização das 10 milhões de cédulas de identidade paranaenses, que a partir de agora possuirão recursos tecnológicos; e o Detran-PR, com 3,3 milhões de motoristas registrados e mais 70 mil novos processos de condutores por mês (leia mais sobre o caso Detran nesta reportagem).
Em poucos meses, a Secretaria da Educação (SEED) vai se juntar a esse grupo com o Paraná Digital. Esse projeto unirá em rede todas as 2.100 escolas do estado, permitindo a atualização de programas nos computadores do interior à distância, além de salvar todos os documentos escolares nos storages da Celepar.
Para assegurar um uso ininterrupto dessas informações, cada storage possui um sistema automático de backup (cópia de segurança). Um compartimento especial recebe uma cópia de tudo o que é gravado. Assim, caso o disco falhe, o reserva está pronto para ser acessado.
Computador tamanho família
No meio do datacenter está o mainframe, um computador de grande porte que pode ser considerado o cérebro de todo o conjunto. Ele é especializado em apurar volumes imensos de instruções com alta velocidade, além de ser capaz de atender diversos usuários e clientes ao mesmo tempo. “Funciona como um servidor, mas com uma capacidade gigantesca”, define a analista de suporte da gerência de tecnologia de informação, Sonia Naomi Yabiku. O equipamento é usado para viabilizar as aplicações mais difíceis de serem administradas, como a dos grandes usuários dos storages.
O mainframe da Celepar recebeu um investimento de R$ 3,5 milhões, aumentando sua capacidade. Agora ele processa até 311 milhões de instruções por segundo (mips). De acordo com Yabiku, anteriormente a máquina apurava até 260 mips. “Ainda não estamos usando toda a potência dele. Se for necessário, podemos habilitá-lo para alcançar até 491 mips”, acrescenta.
Ajuda robótica
Algumas informações deixam de ser acessadas com o passar do tempo, mas ainda precisam ser arquivadas por motivos legais. Exemplos disso são os históricos escolares dos alunos e os dados previdenciários dos aposentados. O tempo que isso precisa ser guardado varia. Dois anos, cinco, dez, até o máximo de 70 anos. Assim, existe o risco dos storages e dos servidores ficarem lotados só com esse tipo de arquivo.
Há alguns anos, esse problema era resolvido salvando aquilo que não é mais tão usado em cartuchos de memória com alta capacidade. Um funcionário era responsável pela gravação e identificação dos discos em uma prateleira.
No entanto, esse método tinha alguns problemas. Os cartuchos de memória do passado não tinham tanta capacidade: cada um armazenava no máximo 800 megabytes, nível próximo a um CD comum de hoje. Além disso, é lógico pensar que não se deve salvar informações de tipos diferentes em um mesmo disco, para evitar confusão na hora de achar o que precisa.
Isso resultou em uma série de prateleiras contendo mais de 22 mil mídias móveis, e muitas ainda com boa parte da capacidade sem ser usada. Para acessar algo, era ne-cessário um processo semelhante ao usado nas velhas bibliotecas, em que se localizava um certo livro por meio de um ficheiro cheio de pequenos cartões, classificados por nome e assunto: primeiro era necessário identificar em qual mídia está o que se procura, depois localizar o disco, pegá-lo e encaixá-lo em uma máquina que, por fim, disponibilizaria a informação. Note que isso pode levar minutos inteiros, as vezes horas, o que é uma eternidade para o nível atual das tecnologias de informática.
Para resolver essa situação, a Celepar investiu R$ 4,5 milhões na compra de um robô que cuida de todo o serviço. Fisicamente, ele é composto por duas grandes caixas plástico-metálicas. Uma é responsável pela “inteligência”. A outra possui uma pequena prateleira no seu interior, onde ficam as mídias, e é equipada com um braço mecânico que desloca-se por um trilho, sendo capaz de agarrar qualquer cartucho quando ordenado.
Pesando um total de 1,03 toneladas, o robô é equipado com um leitor de código de barras e sabe perfeitamente a localização de cada mídia. Uma vez acionado, ele imediatamente pega o cartucho certo e disponibiliza suas informações. Graças à sua alta tecnologia, ele pode gravar documentos de tipos diferentes em um mesmo disco sem criar confusão, utilizando 100% da capacidade de cada um.
Os velhos arquivos, que antes respondiam por 22 mil mídias e muito espaço físico, agora são mantidos em apenas 18, pois a potência de cada uma delas é até 1800 vezes maior do que o modelo usado anteriormente. Um cartucho de memória novo tem capacidade nativa de 500 gigabytes e com compactação chega até 1,5 terabytes. E o serviço daquele funcionário agora se resume à administrar a máquina.
Cópias de Segurança
O robô também é o elemento principal na criação de cópias de segurança de documentos importantes que originalmente estão no storage. Atualmente ele trabalha com um total de 249 cartuchos. Destes, 129 estão no ambiente open (ou seja, usados para trabalhos executados pelos servidores) e os outros 120 são utilizados pelo mainframe. As cópias dos arquivos que estão nesses discos são atualizadas todos os dias, alguns de duas em duas horas.
Para as informações mais importantes, cria-se ainda uma nova cópia em outra mídia que é mantida na fitoteca da Celepar. Assim, contando com o backup que o próprio storage cria, pode-se concluir que os conteúdos confiados à Celepar possuem até quatro cópias. “Essa é uma medida de segurança e garante que os dados oficiais dificilmente serão perdidos, mesmo em casos extremos”, diz o analista de informática responsável pelo robô, Derly Mendes da Silva.
O robô pode trabalhar com até 627 mídias, se necessário, que é o espaço físico disponível em suas prateleiras internas e é também até onde vai o trilho por onde move-se o braço mecânico. “Se precisarmos, podemos habilitá-lo para reconhecer mais mídias, aumentando o tamanho do módulo e do trilho”, comenta Silva. Vale lembrar a capacidade atual de 627 mídias compactadas representam um potencial de armazenamento igual a 940,5 terabytes (ou 940 milhões de megabytes, equivalente a 1,3 milhões de Cds).
Desenvolvendo os próprios programas
Imagine a Celepar como se fosse um imenso computador. Até agora você conheceu o datacenter e a Rede Corporativa, ou seja, somente o “hardware”, a estrutura física da empresa. Mas esse imenso computador também chama a atenção pelo tipo de programa que usa.
Diferentemente do maquinário pesado, que precisa ser comprado pelo Estado, os softwares que atendem grande parte dos organismos governamentais são desenvolvidos pelos técnicos da própria Celepar.
No passado os softwares usados pelo Governo eram criados por empresas terceirizadas, o que demandava um certo custo e também o pagamento de direitos autorais durante todo o período em que fosse utilizado. Contudo, para o presidente da Celepar, Marcos Mazoni, a questão financeira não era o problema principal, mas sim o código-fonte.
Todo software possui um código-fonte, uma espécie de DNA, onde estão armazenadas todas as suas características. Para atualizar o programa e adaptá-lo às novas necessidades, é necessário mexer nesse código.
Os programas usados até então eram de “código fechado”, ou seja, só quem construiu o sistema pode fazer alterações – no caso a empresa dona do programa. “A partir do momento em que é quebrado o contrato entre o estado e a firma terceirizada, não tem mais como atualizar o programa”, explica Mazoni. “A lei da oferta e da procura não funciona nesse caso. Cada vez que a empresa responsável pelo software fosse trocada, teria que ser construído um produto totalmente novo, o que não é viável. O Estado estava informalmente 'atado' ao contrato”, completa.
Há poucos anos o Paraná rompeu com as empresas terceirizadas – cujos contratos somavam mais de R$ 400 milhões – e decidiu transformar a Celepar na estatal responsável por suprir as demandas tecnológicas de todo o Governo. “Ampliamos o corpo de funcionários, abrimos extensões no interior e nossos técnicos estão desenvolvendo nossos próprios softwares”, diz.
E o problema do código foi resolvido: agora a Celepar só trabalha com software livre, ou seja, com programas de código aberto, o que garante que esses sistemas podem ser sempre usados e melhorados independentemente de questões contratuais ou de direito autoral. Mais ainda – quem quiser, pode adquirir gratuitamente os produtos da Celepar e modificar seu “DNA” de acordo com as suas demandas. Além da Venezuela, os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Sergipe, Amazonas, entre outros, estão usando os softwares paranaenses adaptados.
Um exemplo da integração entre o novo papel da Celepar e os organismos de governo é o caso Detran. O departamento atende processos referentes a 3,3 milhões de motoristas e subindo, mais os veículos. Um software para o Detran deve possibilitar a administração desse universo, além de gerenciamento interno, de processos, multas, exames, confecção de carteiras, entre outros serviços. Para suprir toda essa demanda, a empresa terceirizada responsável pelo sistema usado anteriormente cobrava um total de R$ 56 milhões por ano.
O sistema usado atualmente supre todas as demandas do antigo e tem outras vantagens: integra todas as Ciretrans do Estado por meio da Rede Corporativa; atende novas exigências da legislação de trânsito; possibilita o agendamento de exames via Internet pelos Centros de Formação de Condutores (CFCs); é um software livre, ou seja, as atualizações e modificações podem ser feitas pela própria Celepar, sem custos adicionais.
Estatal Estratégica
Para o diretor de operações, Nivaldo Venâncio da Cunha, todo o investimento recebido aponta a intenção do governo do Estado em transformar a Celepar em uma estatal com papel estratégico, responsável pela tecnologia e comunicação entre todas as células do corpo governamental.
“A tecnologia exerce um papel fundamental na administração pública hoje em dia, e esse papel não pode ser dado a uma empresa de informática terceirizada. As gestões são temporárias, mas a informação oficial é permanente. A responsabilidade por viabilizar o tráfego digital e pelo tipo de software usado não pode mudar de mão a cada quatro anos. O Estado precisa ter credibilidade, ter o controle de suas ações para não ficar vulnerável a grupos externos”, resume o diretor.
Central de atendimento ao cidadão
Quando surge alguma dúvida sobre os serviços eletrônicos do governo, a solução é entrar em contato com a central de atendimento via telefone da Celepar (call center). O grupo também informa os cidadãos paranaenses sobre assuntos da Receita Estadual e da Secretaria da Fazenda.
No primeiro semestre de 2003, cerca de 82 mil ligações foram atendidas pela equipe, que era parte terceirizada e parte composta por funcionários públicos. Esse foi o primeiro desafio do coordenador da Central de Atendimento, Timothy Squair.
“O contrato da empresa terceirizada terminava em julho de 2005. Isso é normal, acontece sempre quando muda o governo, mas perde-se a continuidade do serviço. Há um período de adaptação e treinamento para que novos funcionários conheçam as especificidades da Fazenda e da Rede Corporativa, comprometendo a qualidade do atendimento”, diz.
Então, ao invés de abrir concorrência para uma nova empresa terceirizada, a Celepar decidiu estatizar todo o quadro de funcionários do Call Center e ampliar a equipe.
Depois de um período de transição e do aumento gradativo do grau de exigência, a equipe integrada respondeu 147 mil ligações nos primeiros seis meses deste ano. É um número 78% maior do que o do mesmo período de 2003.
Hoje são 50 atendentes trabalhando: 22 atendem a Receita Estadual e 28 a área de informática. Dos últimos, seis estão sendo treinados para atuar no Paraná Digital, programa da Secretaria da Educação.
“Agora contamos com uma equipe estável, eficiente e garantia de continuidade”, define Squair.
Ligações atendidas
A equipe do call center foi estatizada e ampliada, e hoje atende 78% mais ligações do que mo mesmo período em 2004.
Para tirar dúvidas sobre os serviços on-line do Governo do Paraná ou sobre assuntos relacionados à Receita Estadual, telefone para os seguintes números:
Informática: (41) 3350-5007 (7 dias por semana, 24 horas por dia).
Receita Estadual: (41) 3350-5009 de segunda à sexta entre às 7h e 19h.
Criada em 24 de novembro de 1964, a Celepar é a primeira empresa pública de informática do Brasil, fundada para executar a política de tecnologia da informação no Paraná. Apesar disso, quem analisa a situação atual da companhia não imagina que, há alguns poucos anos, sua infra-estrutura era desproporcional à demanda de serviços de um cliente como o Governo do Estado.
Ter infra-estrutura é ser capaz de criar e manter sistemas, contar com hardwares de grande capacidade, métodos de segurança confiáveis, tecnologia para transmissão de dados, suporte para armazenamento e principalmente capacidade técnica.
Para horror dos neoliberais, para quem os investimentos nas empresas públicas servem para ampliar suas cantilenas sobre a elefantíase do Estado, o desenvolvimento da Celepar resultou em diminuição de gastos, aprimoramento da qualidade dos bens e serviços prestados, integração dos diversos órgãos governamentais e autonomia tecnológica. Para os paranaenses, a ampliação da infra-estrutura da Celepar significa, direta e indiretamente, maior agilidade e confiabilidade em serviços como saúde, educação, comunicações, transportes, finanças e trânsito.
Nesta reportagem, você vai conhecer como a Celepar integra digitalmente as centenas de órgãos do governo espalhados pelos municípios; qual a tecnologia empregada e suas possibilidades; a potência e o funcionamento do hardware que torna possível o acesso aos serviços do governo por meio da Internet e da Rede Corporativa; de que maneira os cidadãos e servidores que têm dúvidas são atendidos; e como tudo isso foi feito com dinheiro que anteriormente era usado para o pagamento de direitos autorais de softwares que hoje são substituídos por programas desenvolvidos pelos técnicos da própria Celepar.
Rede Corporativa, a linha digital que integra o Paraná
No Paraná, 93 organizações compõem a estrutura governamental, entre secretarias, autarquias, empresas públicas, sociedades e mais uma infinidade de setores. Apesar de Curitiba centralizar todas essas instituições, a responsabilidade delas muitas vezes não se limita à capital.
Por causa disso, os municípios contam com centenas de escritórios do governo espalhados pelo território. Juntos, eles geram, a todo momento, uma quantidade gigantesca de informações. Elas precisam ser constantemente trocadas entre os diversos segmentos do Estado, resultando em novas ordens, desembocando em mais dados, ramificando-se em outras comunicações, que vão se multiplicando quase que infinitamente. Como é possível saber o que está sendo feito em cada canto do estado? Como se entender no meio desse turbilhão?
“É justamente essa a responsabilidade da Rede Corporativa do Governo do Paraná, que é administrada pela Celepar”, responde o gerente de serviços de rede, Odemir Bara. Trata-se da linha que interliga digitalmente 2.059 pontos de presença do Governo em 293 municípios. O estado funciona como se fosse um escritório gigante, onde uma rede interna permite que os computadores troquem instruções entre si de maneira rápida e segura.
A Internet ‘comum’ não poderia fazer esse serviço, pois é muito vulnerável a espionagens e intervenções externas. “A rede é o método ideal, que oferece sigilo e segurança que as atividades governamentais demandam”, comenta o gerente.
“O número de integrantes da Rede Corporativa cresce a cada dia. Nosso objetivo é unir todas as extensões dos órgãos do Governo nos 399 municípios paranaenses, e estamos conseguindo”, argumenta. Em janeiro de 2003, 165 localidades compunham a conexão estadual. Em três anos e meio esse número cresceu 78%.
As tecnologias da Rede Corporativa
Atualmente existe uma grande diversidade de tecnologias que podem ser empregadas na constituição de uma rede corporativa. Dependendo da opção, tem-se acesso a um serviço diferente.
A Rede Corporativa do Paraná é o resultado de uma seleção de tecnologias, escolhidas de acordo com a realidade dos municípios. A maior parte dos pontos são integrados via cabeamento terrestre. No entanto, alguns locais remotos contam com acesso via satélite. A Celepar escolhe o que será utilizado e contrata o serviço, que é prestado pelas operadoras de telecomunicações.
Até 2003, o método predominante era o frame relay. “De lá para cá, migramos para uma nova tecnologia que proporciona maior qualidade, performance e facilidades de gerenciamento”, revela Bara. É o multiprotocol label switching (MPLS) que, além de oferecer novas possibilidades, mantém os recursos do frame relay.
O novo sistema funciona de forma diferente dos outros: resumidamente, entende-se que a rede comum consulta o IP (endereço digital) das máquinas conectadas para cada “pacote de dados” trocado entre elas. Um “pacote” é o mesmo que os átomos do corpo de uma aplicação. Até mesmo um clique no mouse despende milhares deles. Assim, para cada pacote enviado tem-se o mesmo número de requisições ao IP. Isso pode deixar o processo lento.
O MPLS é mais inteligente porque apenas o primeiro pacote da aplicação consulta o endereço de destino. Os outros apenas “seguem” o caminho aberto pelo pioneiro, agilizando a rota. Na informática, esse fenômeno é conhecido como “rotulagem”.
O sistema permite ainda a adoção da tecnologia VoIP (Voz sobre IP) que torna possível a conversação telefônica por funcionários de todo o estado sem custos adicionais de telefonia. “É como discar um ramal dentro do prédio de uma empresa”, simplifica Bara. Para o gerente, essa medida representa agilidade no trabalho e economia para os cofres públicos. Atualmente, 72 organizações do Estado desfrutam do VoIP.
O caixa forte da Celepar
Quando uma pessoa acessa a Rede Corporativa por meio do seu computador, ela não percebe – a menos que seja especialista em informática – que por trás do simples digitar no teclado há todo um complexo trajeto a ser percorrido pela informação, passando por metros – às vezes quilômetros – de cabos, entre o princípio e o destino final. Até agora, o caminho que mostramos ficou entre os pontos espalhados pelo Paraná.
Mas essa é apenas uma das funções da Rede Corporativa. A principal é oferecer uma boa conexão com o datacenter. Esse nome pode ser traduzido como “central de dados”, e representa o local onde está armazenado o conteúdo eletrônico usado pelo Governo do Paraná na maior parte de seus serviços.
Por exemplo, se o policial registra um boletim de ocorrência – utilizando um programa de computador feito especialmente para isso – , vai acessar a Rede Corporativa e salvar esse documento com todos os outros arquivos da Secretaria da Segurança Pública, locados no datacenter. O mesmo processo faz a funcionária do colégio ao digitar o histórico escolar dos alunos, que também está guardado na Celepar. “A conexão com o datacenter viabiliza uma forma avançada do uso da tecnologia”, comenta Bara.
Além de trabalhar com a rede, a central hospeda sítios eletrônicos. Por exemplo, se você digitar no seu navegador, irá acessar informações hospedadas na Celepar.
O datacenter está instalado na sede da estatal, em Curitiba. É composto por duas salas repletas de maquinários, totalizando 179m2 cuidadosamente assistidos por 32 câmeras de vídeo. O acesso é restrito aos técnicos. Eles passam o dia atentos ao volume de informações que trafegam pelos computadores e ao bom desempenho dos mesmos. Para isso, um software desenvolvido inteiramente por eles faz o serviço de monitoração. Se é detectado algum problema, os técnicos tomam providências.
O software ainda calcula o tempo de resposta de todas as páginas da web hospedadas, isto é, em quanto tempo o usuário consegue acessar o sítio. Um segundo é um tempo considerado aceitável, dois é definido como regular e se passar de três é sinal de alerta. Mas a maior parte das páginas fica bem abaixo disso no decorrer do dia. Mais da metade delas respondem em menos de 0,03 segundos, e boa parte fica cravada em 0,01. O congestionamento se dá nos horários de pico do uso da rede e em serviços específicos.
De acordo com o coordenador da divisão de operações, Altamir Brun, o datacenter recebeu nos últimos três anos um investimento de cerca de R$ 15 milhões, somente na modernização e compra de novos equipamentos. Também foram criadas condições para alojar corretamente os cabos e as máquinas. “É necessário um ambiente com temperatura controlada, sistema anti-incêndio, segurança e outras medidas que permitam o bom uso, a conservação e a longevidade de toda essa estrutura”, argumenta.
Via digital
A qualidade do sistema usado para comunicação entre os computadores do datacenter reflete diretamente em toda a Rede Corporativa do Paraná. Se há uma boa conexão interna, a informação fica disponível com velocidade para o usuário externo.
O conjunto de equipamentos responsáveis por este serviço interno é chamado de core – em português, “principal”. Na verdade, este é apenas o nome do componente mais importante, mas justamente por isso todo o conjunto recebe a mesma terminologia.
São três componentes: o core propriamente dito, máquina que tem como função organizar todo o trânsito de informações, determinando para onde cada uma delas deve ir. Para exercer esse comando, o core conta com um ágil e organizado sistema de cabeamento, que serve como via digital para o tráfego de dados. Mas essa máquina pode ficar sobrecarregada se centenas de fibras estiverem conectadas à ela. Para evitar isso existem os switches de acesso, pequenas centrais onde são encaixados os cabos que partem de diversos computadores. Os cabos de todo o datacenter são ligados à uma série de switches, e somente eles ficam ligados ao core.
Esse esquema de core funcionou até abril deste ano na Celepar. Perceba, no entanto, que um equipamento é “amarrado” no outro. Se um switch falhar, parte significativa dos serviços ficam paralisados. E se o core pifar, tudo pára!
“Essa situação era suscetível à indisponibilidades generalizadas por depender de um único equipamento central, pois em caso de falha todos os serviços seriam afetados”, confirma o coordenador da divisão de infra-estrutura de rede, Júlio César Pires Corrêa. “O número de portas de acesso [espaços para conectar cabos nos switches] já estava chegando no seu limite, impedindo o crescimento dos serviços”, acrescenta.
Por isso, o sistema recebeu um investimento de R$ 1 milhão na sua ampliação e modernização. Graças a um novo cabeamento, a velocidade está dez vezes maior (era 100 mega bits por segundo, agora equivale a 1 giba bit). O datacenter agora tem dois cores, que são conectados entre si. Os dois recebem informações vindas de qualquer dos switches. Assim, se um dos cores está saturado ou com problemas, é possível optar por um trajeto mais veloz. Esse método de múltiplas conexões é chamado na informática de “redundante”, e garante alta disponibilidade dos serviços.
Servidores e clientes
O sistema de core estuda unicamente qual é o caminho mais veloz a ser percorrido para evitar o tráfego digital. Mas caminho para chegar aonde? A ordem quem dá é um componente chamado servidor. Fisicamente é como se fosse o gabinete de um computador caseiro, mas com alta capacidade de processamento de dados, ou seja, velocidade. São dezenas deles alojados em grandes armários metálicos, os racks.
Cada servidor é responsável pelo atendimento a um cliente específico: alguma secretaria, universidade ou sítio na Internet. Ele reconhece o cliente e indica onde está a informação que o computador do usuário procura, ou diz onde ela devem ser gravada, dependendo do caso. Alguns servidores são capazes de enviar ou salvar pequenas informações no próprio disco rígido, mas geralmente esse é o papel de outra peça do datacenter, que vamos conhecer no decorrer da reportagem.
De maio de 2004 até julho deste ano, o número de servidores saltou de 179 para 295, um aumento de 65%. “Quando o número de servidores cresce, quer dizer que mais clientes estão sendo atendidos ou mais serviços estão sendo oferecidos”, esclarece Altamir Brun.
Hoje a maior parte dos servidores é de posse da própria Celepar, mas eles guardam informações de diversos clientes. A maior parte das máquinas é usada para hospedagem de páginas na Internet dos órgãos do Governo do Estado.
O sistema operacional predominante é o Linux Debian. A Celepar passou a adotar o Linux nos novos servidores adquiridos por considerá-lo um programa mais adequado ao ambiente do datacenter (veja a tabela). “Mas isso não significa um abandono dos sistemas usados antes. A migração precisa ser lenta e prudente para não afetar os serviços da rede”, comenta o coordenador.
Storages: até 90 mil gigabytes em informações
Quem usa a Rede Corporativa está enviando e gravando dados a todo momento. O servidor aponta onde, dentro do datacenter, está o que o computador do usuário procura. Armazenar grande quantidade de arquivos é papel do storage, componente proporcional ao HD ou disco rígido de um micro comum. A “geladeira” – apelido dado pelos técnicos – é uma grande caixa de metal e plástico, com altura aproximada de uma pessoa.
Os storages hoje têm uma capacidade 20 vezes maior do que há três anos e meio. “Assim como a rede se expandiu, a área de storage também precisou crescer”, diz o gerente de serviços operacionais, Jarbas Pessoa de Oliveira. A capacidade total de armazenamento era de 4,4 terabytes, agora é 89,4.
Para entender melhor, vale dizer que um terabyte é o mesmo que mil gigabytes. Ou seja, a Celepar pode arquivar quase 90 mil gigabytes. Seriam necessários 128 mil CDs comuns (de 700 megabytes) para manter tudo o que está e pode ser gravado lá. E ainda tem o espaço dos servidores, que é próximo a 20 terabytes.
Esse aumento é o resultado da compra de quatro novos storages, feita em parceria com os clientes atendidos. No total, foram investidos R$ 4,2 milhões.
Os maiores usuários desse arquivo gigante são a SESP (Secretaria de Segurança Pública), com média de 39 mil boletins de ocorrência eletrônicos por mês, além de contar um projeto de digitalização das 10 milhões de cédulas de identidade paranaenses, que a partir de agora possuirão recursos tecnológicos; e o Detran-PR, com 3,3 milhões de motoristas registrados e mais 70 mil novos processos de condutores por mês (leia mais sobre o caso Detran nesta reportagem).
Em poucos meses, a Secretaria da Educação (SEED) vai se juntar a esse grupo com o Paraná Digital. Esse projeto unirá em rede todas as 2.100 escolas do estado, permitindo a atualização de programas nos computadores do interior à distância, além de salvar todos os documentos escolares nos storages da Celepar.
Para assegurar um uso ininterrupto dessas informações, cada storage possui um sistema automático de backup (cópia de segurança). Um compartimento especial recebe uma cópia de tudo o que é gravado. Assim, caso o disco falhe, o reserva está pronto para ser acessado.
Computador tamanho família
No meio do datacenter está o mainframe, um computador de grande porte que pode ser considerado o cérebro de todo o conjunto. Ele é especializado em apurar volumes imensos de instruções com alta velocidade, além de ser capaz de atender diversos usuários e clientes ao mesmo tempo. “Funciona como um servidor, mas com uma capacidade gigantesca”, define a analista de suporte da gerência de tecnologia de informação, Sonia Naomi Yabiku. O equipamento é usado para viabilizar as aplicações mais difíceis de serem administradas, como a dos grandes usuários dos storages.
O mainframe da Celepar recebeu um investimento de R$ 3,5 milhões, aumentando sua capacidade. Agora ele processa até 311 milhões de instruções por segundo (mips). De acordo com Yabiku, anteriormente a máquina apurava até 260 mips. “Ainda não estamos usando toda a potência dele. Se for necessário, podemos habilitá-lo para alcançar até 491 mips”, acrescenta.
Ajuda robótica
Algumas informações deixam de ser acessadas com o passar do tempo, mas ainda precisam ser arquivadas por motivos legais. Exemplos disso são os históricos escolares dos alunos e os dados previdenciários dos aposentados. O tempo que isso precisa ser guardado varia. Dois anos, cinco, dez, até o máximo de 70 anos. Assim, existe o risco dos storages e dos servidores ficarem lotados só com esse tipo de arquivo.
Há alguns anos, esse problema era resolvido salvando aquilo que não é mais tão usado em cartuchos de memória com alta capacidade. Um funcionário era responsável pela gravação e identificação dos discos em uma prateleira.
No entanto, esse método tinha alguns problemas. Os cartuchos de memória do passado não tinham tanta capacidade: cada um armazenava no máximo 800 megabytes, nível próximo a um CD comum de hoje. Além disso, é lógico pensar que não se deve salvar informações de tipos diferentes em um mesmo disco, para evitar confusão na hora de achar o que precisa.
Isso resultou em uma série de prateleiras contendo mais de 22 mil mídias móveis, e muitas ainda com boa parte da capacidade sem ser usada. Para acessar algo, era ne-cessário um processo semelhante ao usado nas velhas bibliotecas, em que se localizava um certo livro por meio de um ficheiro cheio de pequenos cartões, classificados por nome e assunto: primeiro era necessário identificar em qual mídia está o que se procura, depois localizar o disco, pegá-lo e encaixá-lo em uma máquina que, por fim, disponibilizaria a informação. Note que isso pode levar minutos inteiros, as vezes horas, o que é uma eternidade para o nível atual das tecnologias de informática.
Para resolver essa situação, a Celepar investiu R$ 4,5 milhões na compra de um robô que cuida de todo o serviço. Fisicamente, ele é composto por duas grandes caixas plástico-metálicas. Uma é responsável pela “inteligência”. A outra possui uma pequena prateleira no seu interior, onde ficam as mídias, e é equipada com um braço mecânico que desloca-se por um trilho, sendo capaz de agarrar qualquer cartucho quando ordenado.
Pesando um total de 1,03 toneladas, o robô é equipado com um leitor de código de barras e sabe perfeitamente a localização de cada mídia. Uma vez acionado, ele imediatamente pega o cartucho certo e disponibiliza suas informações. Graças à sua alta tecnologia, ele pode gravar documentos de tipos diferentes em um mesmo disco sem criar confusão, utilizando 100% da capacidade de cada um.
Os velhos arquivos, que antes respondiam por 22 mil mídias e muito espaço físico, agora são mantidos em apenas 18, pois a potência de cada uma delas é até 1800 vezes maior do que o modelo usado anteriormente. Um cartucho de memória novo tem capacidade nativa de 500 gigabytes e com compactação chega até 1,5 terabytes. E o serviço daquele funcionário agora se resume à administrar a máquina.
Cópias de Segurança
O robô também é o elemento principal na criação de cópias de segurança de documentos importantes que originalmente estão no storage. Atualmente ele trabalha com um total de 249 cartuchos. Destes, 129 estão no ambiente open (ou seja, usados para trabalhos executados pelos servidores) e os outros 120 são utilizados pelo mainframe. As cópias dos arquivos que estão nesses discos são atualizadas todos os dias, alguns de duas em duas horas.
Para as informações mais importantes, cria-se ainda uma nova cópia em outra mídia que é mantida na fitoteca da Celepar. Assim, contando com o backup que o próprio storage cria, pode-se concluir que os conteúdos confiados à Celepar possuem até quatro cópias. “Essa é uma medida de segurança e garante que os dados oficiais dificilmente serão perdidos, mesmo em casos extremos”, diz o analista de informática responsável pelo robô, Derly Mendes da Silva.
O robô pode trabalhar com até 627 mídias, se necessário, que é o espaço físico disponível em suas prateleiras internas e é também até onde vai o trilho por onde move-se o braço mecânico. “Se precisarmos, podemos habilitá-lo para reconhecer mais mídias, aumentando o tamanho do módulo e do trilho”, comenta Silva. Vale lembrar a capacidade atual de 627 mídias compactadas representam um potencial de armazenamento igual a 940,5 terabytes (ou 940 milhões de megabytes, equivalente a 1,3 milhões de Cds).
Desenvolvendo os próprios programas
Imagine a Celepar como se fosse um imenso computador. Até agora você conheceu o datacenter e a Rede Corporativa, ou seja, somente o “hardware”, a estrutura física da empresa. Mas esse imenso computador também chama a atenção pelo tipo de programa que usa.
Diferentemente do maquinário pesado, que precisa ser comprado pelo Estado, os softwares que atendem grande parte dos organismos governamentais são desenvolvidos pelos técnicos da própria Celepar.
No passado os softwares usados pelo Governo eram criados por empresas terceirizadas, o que demandava um certo custo e também o pagamento de direitos autorais durante todo o período em que fosse utilizado. Contudo, para o presidente da Celepar, Marcos Mazoni, a questão financeira não era o problema principal, mas sim o código-fonte.
Todo software possui um código-fonte, uma espécie de DNA, onde estão armazenadas todas as suas características. Para atualizar o programa e adaptá-lo às novas necessidades, é necessário mexer nesse código.
Os programas usados até então eram de “código fechado”, ou seja, só quem construiu o sistema pode fazer alterações – no caso a empresa dona do programa. “A partir do momento em que é quebrado o contrato entre o estado e a firma terceirizada, não tem mais como atualizar o programa”, explica Mazoni. “A lei da oferta e da procura não funciona nesse caso. Cada vez que a empresa responsável pelo software fosse trocada, teria que ser construído um produto totalmente novo, o que não é viável. O Estado estava informalmente 'atado' ao contrato”, completa.
Há poucos anos o Paraná rompeu com as empresas terceirizadas – cujos contratos somavam mais de R$ 400 milhões – e decidiu transformar a Celepar na estatal responsável por suprir as demandas tecnológicas de todo o Governo. “Ampliamos o corpo de funcionários, abrimos extensões no interior e nossos técnicos estão desenvolvendo nossos próprios softwares”, diz.
E o problema do código foi resolvido: agora a Celepar só trabalha com software livre, ou seja, com programas de código aberto, o que garante que esses sistemas podem ser sempre usados e melhorados independentemente de questões contratuais ou de direito autoral. Mais ainda – quem quiser, pode adquirir gratuitamente os produtos da Celepar e modificar seu “DNA” de acordo com as suas demandas. Além da Venezuela, os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Sergipe, Amazonas, entre outros, estão usando os softwares paranaenses adaptados.
Um exemplo da integração entre o novo papel da Celepar e os organismos de governo é o caso Detran. O departamento atende processos referentes a 3,3 milhões de motoristas e subindo, mais os veículos. Um software para o Detran deve possibilitar a administração desse universo, além de gerenciamento interno, de processos, multas, exames, confecção de carteiras, entre outros serviços. Para suprir toda essa demanda, a empresa terceirizada responsável pelo sistema usado anteriormente cobrava um total de R$ 56 milhões por ano.
O sistema usado atualmente supre todas as demandas do antigo e tem outras vantagens: integra todas as Ciretrans do Estado por meio da Rede Corporativa; atende novas exigências da legislação de trânsito; possibilita o agendamento de exames via Internet pelos Centros de Formação de Condutores (CFCs); é um software livre, ou seja, as atualizações e modificações podem ser feitas pela própria Celepar, sem custos adicionais.
Estatal Estratégica
Para o diretor de operações, Nivaldo Venâncio da Cunha, todo o investimento recebido aponta a intenção do governo do Estado em transformar a Celepar em uma estatal com papel estratégico, responsável pela tecnologia e comunicação entre todas as células do corpo governamental.
“A tecnologia exerce um papel fundamental na administração pública hoje em dia, e esse papel não pode ser dado a uma empresa de informática terceirizada. As gestões são temporárias, mas a informação oficial é permanente. A responsabilidade por viabilizar o tráfego digital e pelo tipo de software usado não pode mudar de mão a cada quatro anos. O Estado precisa ter credibilidade, ter o controle de suas ações para não ficar vulnerável a grupos externos”, resume o diretor.
Central de atendimento ao cidadão
Quando surge alguma dúvida sobre os serviços eletrônicos do governo, a solução é entrar em contato com a central de atendimento via telefone da Celepar (call center). O grupo também informa os cidadãos paranaenses sobre assuntos da Receita Estadual e da Secretaria da Fazenda.
No primeiro semestre de 2003, cerca de 82 mil ligações foram atendidas pela equipe, que era parte terceirizada e parte composta por funcionários públicos. Esse foi o primeiro desafio do coordenador da Central de Atendimento, Timothy Squair.
“O contrato da empresa terceirizada terminava em julho de 2005. Isso é normal, acontece sempre quando muda o governo, mas perde-se a continuidade do serviço. Há um período de adaptação e treinamento para que novos funcionários conheçam as especificidades da Fazenda e da Rede Corporativa, comprometendo a qualidade do atendimento”, diz.
Então, ao invés de abrir concorrência para uma nova empresa terceirizada, a Celepar decidiu estatizar todo o quadro de funcionários do Call Center e ampliar a equipe.
Depois de um período de transição e do aumento gradativo do grau de exigência, a equipe integrada respondeu 147 mil ligações nos primeiros seis meses deste ano. É um número 78% maior do que o do mesmo período de 2003.
Hoje são 50 atendentes trabalhando: 22 atendem a Receita Estadual e 28 a área de informática. Dos últimos, seis estão sendo treinados para atuar no Paraná Digital, programa da Secretaria da Educação.
“Agora contamos com uma equipe estável, eficiente e garantia de continuidade”, define Squair.
Ligações atendidas
A equipe do call center foi estatizada e ampliada, e hoje atende 78% mais ligações do que mo mesmo período em 2004.
Para tirar dúvidas sobre os serviços on-line do Governo do Paraná ou sobre assuntos relacionados à Receita Estadual, telefone para os seguintes números:
Informática: (41) 3350-5007 (7 dias por semana, 24 horas por dia).
Receita Estadual: (41) 3350-5009 de segunda à sexta entre às 7h e 19h.